Lembrando Fernando Pessoa nos 70 anos sobre a sua morte
PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p.234/5
"Se eu não morresse nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas!" Cesário Verde
(Foto minha)
Perdida no tempo. O xisto das calçadas brilhante, reflecte memórias antigas. O céu de chumbo ameaçava, e nas ruas apenas nós andávamos, peregrinos em busca dos ecos perdidos de vidas passadas.
A Igreja Matriz, a Casa da Inquisição, a bela Rua de Santiago e a Rua Direita. Apenas em pequenos cafés se detectava a vida, vozes calorosas nesta tarde de Outono. Pequenos grupos conversando, abrigados.
Houve ainda tempo para percorrer a nova ponte sobre o Guadiana, e ver as terras alagadas, numa paisagem recriada pela mão do Homem.
Pelo caminho ficou a imponência das pedras erguidas há quase sete mil anos. Monumento funerário ou símbolo de uma religiosidade simples e pura - o Cromeleque do Xerez - deslocado do seu local de origem por força dos progressos de hoje. Tocamos aquelas pedras e partilhamos algo de mágico e também de profundamente inerente ao Homem e às suas raízes. Tocamo-las e viajamos no tempo, participando de ritos ancestrais.
A chuva continua a cair persistente ainda hoje. Vejo-a agora através das janelas deste café sobre a praça onde me encontro, abrigada e entregue a esta segunda viagem pelo Alentejo agora apenas recordada. A chuva é a mesma, mas esta apenas lava as ruas da minha cidade, e o mesmo céu de chumbo de ontem, entristece agora as cores já cinzentas do meu dia.
(Fotos minhas)