Descrição de um lugar
Sou um reflexo no vidro. Olho-me
fixamente, e o poema capta-me nesta atitude.
Pudesse eu conhecer-me como se conhece
o poema ...
Deixo um retrato de mim, morto,
há um ano por esta altura. Que me aconteceu,
entretanto? De quem é este corpo
que me é estranho, pálido habitante de um movimento
indeciso e aparente? Quem sinto quando me toco,
quem me dorme, quem me pensa,
quem me escreve? O meu rosto encobre um pronome. Vivo
uma sintaxe corrupta no patamar marítimo
do mito. Quem me impede o sentimento? Quem me abre
um caminho que não sigo, condenado a outro
de mim próprio?
No entanto, estou aqui. Entre mim e o poema,
opaco a ambos, sem nada para dizer.
JÚDICE, Nuno, "Obra Poética", Quetzal, Lisboa, 1991, p.150
fixamente, e o poema capta-me nesta atitude.
Pudesse eu conhecer-me como se conhece
o poema ...
Deixo um retrato de mim, morto,
há um ano por esta altura. Que me aconteceu,
entretanto? De quem é este corpo
que me é estranho, pálido habitante de um movimento
indeciso e aparente? Quem sinto quando me toco,
quem me dorme, quem me pensa,
quem me escreve? O meu rosto encobre um pronome. Vivo
uma sintaxe corrupta no patamar marítimo
do mito. Quem me impede o sentimento? Quem me abre
um caminho que não sigo, condenado a outro
de mim próprio?
No entanto, estou aqui. Entre mim e o poema,
opaco a ambos, sem nada para dizer.
JÚDICE, Nuno, "Obra Poética", Quetzal, Lisboa, 1991, p.150
4 Comments:
Olá Dulce !
Quero ver-te sorrir e não de costas voltadas para o mar.
Bebe o vento e o azul do mar...
E o azul do céu, ficará ainda mais azul.
Belo texto poético de Júdice.
Bj
Qué preciosidad de poema Dulce. Son hermosas las palabras porque cada uno de nosotros las hacemos nuestras, las compartimos. Un beso.
Um bom poema do Nuno Judice. Selecção de bom gosto poético. Beijinhos.
Belo poema. beijos
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