quinta-feira, novembro 17, 2005

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(...) Feliz quem não exige da vida mais do que ela espontaneamente lhe dá, guiando-se pelo instinto dos gatos, que buscam o sol quando há sol, e quando não há sol o calor, onde quer que esteja. Feliz quem abdica da sua personalidade pela imaginação, e se deleita na contemplação das vidas alheias, vivendo, não todas as impressões, mas o espectáculo externo de todas as impressões alheias. Feliz por fim, esse que abdica de tudo, e a quem, porque abdicou de tudo, nada pode ser tirado nem diminuído.
(...) Nada me satisfaz, nada me consola, tudo - quer haja sido, quer não - me sacia. Não quero ter a alma e não quero abdicar dela. Desejo o que não desejo e abdico do que não tenho. Não posso ser nada nem tudo: sou a ponte de passagem entre o que não tenho e o que não quero."

PESSOA, Fernando, "Livro do Desassossego", Novis, p. 154

12 Comments:

Blogger vero said...

Sem palavras...

Passei para deixar um enorme beijinho***

:)

4:03 da tarde  
Blogger Vagabundo said...

Já li trechos do livro, e como sempre Pessoa encanta.

Bj Vagabundo

4:42 da tarde  
Blogger Feeling said...

Que posso dizer depois de ler um post assim...

Ate tou arrepiada, adoro mistura de sentimentos que este texto transmite.

Beijinho*
Passarei mais regularmente por este "cantinho magnifico".

6:17 da tarde  
Blogger wind said...

Nem comento. É bom demais:) beijos

7:15 da tarde  
Blogger Dilbert said...

Só Fernando Pessoa para conseguir retratar o que não se vê mas sente... Lindo.
Beijokas

9:17 da tarde  
Blogger Su said...

já o disse aqui , mas volto a repetir, amo o livro do dessaossego
sinto-me bem lá
jocas maradas

10:49 da tarde  
Blogger Su said...

ops desassossego....errito na tecla

10:50 da tarde  
Blogger AQUENATÓN said...

Boa noite Dulce !

A minha enorme gratidão.

Bji

1:25 da manhã  
Blogger DT said...

Pessoa no seu melhor.

Bjs

2:05 da manhã  
Blogger José said...

Bela é a natureza! Feliz do que vive com ela e a sabe possuir, todos a temos á mão, há que a saber preservar!
Hoje em dia somos escravos do que temos e do que queremos, e transportamos essa sombra que nos abdica das coisas simples e belas da vida!
"(...) Feliz quem não exige da vida mais do que ela espontaneamente lhe dá, (...)

Bjs

9:24 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A mim, que conheço mal a obra do grande Poeta, já me chamaram Alberto, Álvaro, Pessoa e sei lá que mais. Uma Ophélia que encontrou o seu caminho...

12:13 da tarde  
Blogger Choninha said...

Também adoro "O livro do dessassossego" de Bernardo Soares. É livro de cabeceira, salvo seja.

5:28 da tarde  

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