sexta-feira, agosto 31, 2007

Agradecimento


A Isabel do blog Sophiamar teve a gentileza de me oferecer este Certificado que vai ficar colocado na faixa lateral deste meu blog.

Um beijo grande para ti Isabel. Pelas palavras que sempre me deixas e pela tua escrita que nos permites partilhar.




terça-feira, agosto 28, 2007

Manhã

Que estranha força me tem afastado do mar quando tanto o amo?
Nele me debruço quando os pensamentos são mais negros. Nele me procuro quando a angústia insiste em perseguir-me.
Hoje amanheceu cinzento o céu. No horizonte fundem-se a linha do céu e do mar - este cinzento como o primeiro. Como eu.
Não me chega a frescura da maresia nem o seu aroma agreste. Apenas escuto as ondas pequenas a rebentar sem força na areia . Obrigo os passos a uma cadência a que não corre o coração. Obrigo-me a pisar a manhã pausadamente. Quase marcha. Quase pranto. A cabeça voltada para o mar deixa que os olhos se fundam nas águas cinzentas do pensamento. Agarro com mão de ferro as imagens que querem à força romper estas muralhas que construo.
Concentro-me nos passos. Embrenho-me no marulhar das ondas em que quero afundar a memória. Até que o sol desponte e a vida se retome.

sexta-feira, agosto 24, 2007

In memoriam

"Ainda não é este ano que vamos dar o nosso passeio a Castelo Branco". Estas foram as últimas palavras que recordo dela. Na altura sei que pensei - e será que ainda vamos conseguir? Dois dias depois partiu sozinha para a sua última viagem.
Conheci-a há dois anos, mais coisa menos coisa. Cantávamos no Coro da Universidade Sénior de Almada. No final dos ensaios reunia-se um grupinho para o café. Dois dedos de conversa que aproximavam mais ainda quem queria aproximar-se.
Chamava a atenção pela postura algo superior no olhar. Atraía os olhares pelas cores que vestia não muito comuns numa mulher de meia idade. Facilmente me aproximei. Atraiu-me a sua maneira de falar, as conversas e os interesses próximos dos meus. Rapidamente estávamos a combinar saídas. A primeira de todas a uma exposição de pintura no Parque das Nações. Depois vieram os concertos em São Roque no Natal. As peças de teatro em Lisboa e em Almada. Ney Matogrosso no Coliseu. Saíamos para comer fora e conversar. Sobre o presente. Sobre o passado. Pouco sobre o futuro. Ajudou-me numa fase de transição da minha vida. Com a sua presença e com o seu apoio. Presente sem interferir.
Gostava de passear e prezava bastante a sua independência e individualidade. O ano passado falámos em ir a Castelo Branco. Dizia-me que era uma bela viagem de comboio. Já a havia feito e aliciava-me para o passeio. Veio o Verão e adiámos. Era uma zona demasiado quente. Veio o Outono e embrenhámo-nos nas actividades lectivas. Chegou o Inverno e não apetecia sair de casa. Seria este ano! De repente tudo se precipitou. Ruiram os projectos. Anularam-se as vontades. A notícia da doença derrubou-me. A ela, arrebatou-lhe o Futuro. Disse-lhe para não desistir. Disse-lhe para lutar. Quis insuflar-lhe alguma esperança. Ela queria viver e lutou. À sua maneira. Como pôde. Aceitou o que de início tinha negado. Regateou o Tempo ... mas com a Morte é inútil discutir.
Quando vou ver o meu e-mail cruzo-me com o seu endereço. Na agenda do telefone ainda está o seu número. No meu telemóvel estão registadas as últimas chamadas. Tão presente ainda na memória. Ainda me é difícil acreditar que já não existe.
Talvez no Outono vá a Castelo Branco. De comboio como planeámos um dia ...

domingo, agosto 19, 2007

Lágrimas

A luta terminou hoje para ti. O Tempo acabou antes de tempo. Tanta coisa ainda por fazer ...

segunda-feira, agosto 13, 2007

Clausura

De quando era pequena e o meu pai me empurrava para a piscina, ficou-me o silêncio. Aquele silêncio que me atordoava os sentidos e me envolvia pesadamente enquanto me debatia até encontrar a segurança de um apoio que me tirasse de dentro de água. Ainda hoje me pesa aquele silêncio! Opressivo! Dominador! Brutal!
De quando falta a luz de repente, retenho aquela escuridão densa. A cegueira total que atordoa durante alguns minutos. Um véu negro e opaco que nada deixa vislumbrar. Perde-se o sentido de orientação e de olhos abertos procuramos inutilmente os contornos que nos tranquilizam. E da escuridão espreitam-nos os medos ancestrais que julgávamos esquecidos. Antiquíssimos! Irracionais!
Dos pesadelos nocturnos assombram-me os gritos mudos e as palavras abafadas por mãos ocultas e invisíveis. Quantas vezes a força desses gritos sonhados desagua num estertor aflitivo e manso que nos devolve brutalmente à realidade! Quantas as palavras que se abafam encerradas naquele balão de vidro que não conseguem estilhaçar!
É neste silêncio e escuridão que as minhas palavras andam mergulhadas.
E afundadas no Nada as palavras não brotam. As ideias não florescem. Os sentires solidificam pela força de um magma que não consigo deter.
Hoje lutei! A escuridão abriu brechas. O silêncio estilhaçou-se e as palavras dispararam como pássaros procurando a liberdade.
Hoje calei o Silêncio e dominei a Noite. Hoje ganhei!