domingo, março 30, 2008

Ainda sobre o livro ...

... e porque têm surgido algumas perguntas e duvidas, vou tentar esclarecer.

Este livro é uma edição de autor e por esse motivo não houve nem haverá sessão de lançamento.
Foi totalmente composto por mim e editado no site www.lulu.com, um site onde poderão também editar os vossos escritos ou as vossas músicas, se assim o entenderem.

O acesso ao site é em inglês, francês, espanhol, italiano e alemão mas infelizmente, ainda não em português.

A aquisição do livro, poderá ser feita:

- Através do primeiro link na lateral do meu blog que vos direciona directamente para o site da Lulu. Torna-se mais complicado pois têm que criar uma password para entrar e terão que pagar com um cartão especial para compras na internet. Se estão habituados a fazê-lo (eu não estava) acharão fácil. Basta fornecer todos os dados que vos são solicitados.

- Através do segundo link. Este site, Há-Livros, é uma montra virtual que vos facilita a compra, pois poderão fazer o pagamento via Multibanco, dado que este é um site português. O nome do país não é necessário, pois é Portugal mesmo, (ao passo que na Lulu há a opção para variados países). Só terão que digitar a cidade e o código postal. O preço a pagar pelo livro e os respectivos portes de envio, são exactamente os mesmos.
Penso com isto ter respondido a todas as questões.

Agradeço o vosso interesse e espero que, uma vez na posse do dito livro, gostem tanto de o folhear e saltitar entre os diferentes textos, como eu gostei de os escrever.

terça-feira, março 25, 2008

E ... a pedido de muitas famílias ...

... está aqui mesmo ao lado! Sim, à vossa direita!! Capa escura e letras amareladas (sim, já sei que o visual pode não ser dos mais apelativos ... para a próxima será melhor, prometo).
É meu, sim! Direi mesmo que é - O Meu Primeiro Livro!
Atrás, na contra capa diz assim: "Pedaços de vida. Memórias. Pequeninas peças de um "puzzle" que, unidas a preceito, formam este todo que sou eu"
Do livro fazem parte inúmeros textos deste meu Além, textos esses que retirei desta página.

Se o quiserem, é todo vosso!
Para ler no comboio. No café. Na cama. Naquela esplanada frente ao mar ... Talvez amanhã ... ou para a semana ...

Talvez um Livro!

sábado, março 15, 2008

O resto da viagem

"Oh sr. padre! escreva aí num papelinho as rezas que eu tenho que fazer ... já estou velha ... e depois esqueço-me de tudo ..." Isto foi a velhota dizendo enquanto atravessava a sala em direcção ao velho padre que se encontrava sentado à secretária. Do outro canto da sala o funcionário do Paço Episcopal perguntou-lhe a idade e ela foi respondendo com voz trémula, "já conto oitenta e um". Sorrindo, o funcionário foi-lhe dizendo, "então mais velho é o senhor padre que já conta oitenta e seis... e está aí são como um pêro!!"
Foi aí que levantei a cabeça até então mergulhada nos velhos livros. A velhota era baixa e franzina. O lenço na cabeça deixava a descoberto alguns cabelos grisalhos, e nas mãos engelhadas transportava um pequeno saco de plástico. A voz, já eu a ouvira quando começara a pedir as rezas num papelinho. Chegara há um quarto de hora e apenas a ouvira dizer ao padre que se queria confessar. O padre, de cara redonda e óculos encavalitados no nariz, de boa vontade se levantou, e com passinhos miúdos atravessou a sala em direcção ao interior do Paço. Uns minutos depois voltara e de novo se sentara na secretária ao lado da minha. Com um jornal aberto sobre a mesa vi-o que se debruçava atento numa qualquer leitura.

Este espaço parecia perdido no tempo ...

Voltando um pouco atrás, há que dizer que esta é outra cidade - desta vez Lamego - onde cheguei ontem ao fim da tarde. A subida de Guimarães até Vila Real quase me fez perder a respiração ... Eu, e até a estrada, éramos peças minúsculas do terreno que nos rodeava. Ali, tudo é em grande. Do lado direito de quem sobe, declives quase a pique mergulhavam o olhar em vales sombreados de verde. Aqui e ali pequenos agrupamentos de casas lembravam peças de um Lego deixadas ao acaso. Na vertente da montanha sucediam-se os degraus bem alinhados tão característicos desta zona. (Que pensaria um alienígena se os visse do céu?) Depois, passada uma eternidade, iniciou-se a descida. A cidade, vista de passagem, não me deixou memórias. Outra subida se iniciou depois, para de novo se voltar a descer. A Régua recebeu-me, reflectindo no Douro o sol de um belíssimo fim de tarde. Passando a ponte, aguardava-me o meu destino final. Era cedo ainda quando Lamego me recebeu e num primeiro passeio, fui tacteando os sentires de uma cidade que não conhecia. Com o período pascal a aproximar-se a passos largos, Lamego já se mostrava engalanado para o efeito. Nas alamedas e jardins, o inúmero colorido das flores mostrava o quanto a Primavera está tão próxima. Enquanto procurava um local para jantar deixei que os passos se perdessem entre ruas e ruelas num fim de tarde surpreendentemente morno e apetecível. Lá do alto da escadaria, o Santuário surgiu como um apelo, e ao virar uma esquina surpreendo-me com a imponência da velha Sé.

A noite insinuava-se já quando resolvi voltar.
Depois de uma noite bem dormida, havia trabalho a fazer no Paço, exactamente no local que referi no início destas memórias de uma viagem. Lá dentro, as velhas pedras não deixavam passar o calor do sol , e apenas assomando à imensa janela que dava para o jardim se recuperava um pouco do aconchego que fazia falta.
A velhota não sentiu concerteza o desconforto da velha casa. Foi à procura de outra coisa. De palavras. De compreensão. De alguém que a ouvisse.
Depois ... com o papelinho bem dobrado na sua mão fechada, lá foi ... passinho miúdo e costas curvadas ... enfrentar o resto de mais um dia.

terça-feira, março 11, 2008

Cidade-berço

Esta chuva miúda que persistentemente cai desde há dois dias entristece os dias e a cidade. Cidade antiga esta em que me encontro hoje - diz-se ela o berço da nação. Cidade antiga que se mostra em cada esquina nos velhos monumentos e que se espelha na pedra cinzenta e tosca que envolve os antigos edifícios.
Saio para jantar e a noite acolhe-me, fria e húmida. Nas paredes derramam a luz amarelada alguns velhos lampiões e a pedra da calçada brilha mais na sua esteira. É cedo ainda, mas estas ruas que percorro estão vazias. Ruas estreitas da cidade velha, que é fácil imaginar antigamente percorridas a trote pelos cascos dos cavalos. Das janelas hoje silenciosas e garridas de belas flores, ouvir-se-íam elevadas as vozes de quem regressa a casa depois de um dia de labuta.
Abre-se um largo à minha esquerda e espreitando as casas baixas que o debruam, vejo-as envolvidas por uma bela folhagem amarelada pelo inverno que tarda em acabar. Continuo em passo apressado à procura de um local para jantar e mais uma vez a rua se abre numa outra praça - esta bem maior mas igualmente deserta. Ao percorrer o passeio há uma luz acolhedora que me chama. Santiago, chama-se o espaço. Lá dentro há gente e aquele conforto que consola quem está só. Entro. O tecto baixo de vigas de madeira contrasta agradavelmente com as paredes de grandes blocos de pedra cinzenta e rude. Em cada mesa uma vela vermelha acesa transforma um espaço que podia ser frio numa confortável sala de jantar. Conduzem-me a uma mesa e deixam-me só para que escolha o meu repasto. Depois de o fazer, entretenho-me a espreitar os meus companheiros de refeição. Estrangeiros todos eles. Na mesa do canto, um casal. Não consigo distinguir o que dizem. Na outra mesa mais perto um outro casal de meia idade - estes ingleses - brindam sorrindo com os seus copos de vinho. Ao meu lado dois homens jantam também e é deles que ouço a conversa que me vai entreter. Um mais velho e de cabelos brancos - americano, segundo entendi - é professor e parece-me estar de visita. O seu interlocutor é português - também professor - e fala-lhe do nosso país. Refere o Alentejo quando a conversa incide sobre os vinhos. Fala sobre a nossa comida e sobre os nossos hábitos. Menciona a nossa tão discutida Lei do Tabaco e estabelecem algumas comparações. O seu companheiro escuta mais do que fala, mas quando o faz é com alguma frieza, que apenas se desvanece quando sorri.
No ar, bem baixinho, ecoa o fado na voz quente de Amália e os meus companheiros falam dela e da nossa canção nacional.
O jantar entretanto já lá vai e faz-se hora de partir. Saída a porta, aconchego a mim a gola do casaco, e com as mãos bem enfiadas nos bolsos percorro apressadamente o caminho de volta.

segunda-feira, março 03, 2008

O gosto do ofício


Ao telefone com uma amiga, há uns minutos atrás, dizia-lhe como é bom podermos fazer aquilo que realmente nos dá prazer! e quando assim falo refiro-me não apenas aos nossos pequenos passatempos mas também ao nosso trabalho diário. Quantos de nós podemos dizer que o nosso trabalho - aquele que nos dá o ordenado ao fim do mês (ou não!) - é exactamente o nosso maior prazer? Não seremos concerteza muitos! Eu conto-me entre aqueles que o podem dizer. Não, não vou enriquecer com ele nem mesmo consigo um belo e estável ordenado ao fim de cada mês ... mas também nem tudo pode ser bom, não é?
O horário é flexível, o local de trabalho é silencioso e o patrão não espreita por cima do meu ombro a cada meia hora. Neste momento já perguntam de que é que eu estou a falar ... mas eu digo já! Esperem só mais um pouco!
Quando chego ao meu local de trabalho já antecipadamente planeei o meu dia. No balcão peço os microfilmes que abrangem o local e o ano que me interessa e depois, já na posse dos mesmos, escolho uma máquina disponível. Dispo o casaco e coloco-o nas costas da cadeira. Tiro o som do telemóvel para que não perturbe o silêncio da sala e disponho na mesa os papéis que necessito consultar. Ligo a máquina e coloco nela o microfilme em posição de leitura e só depois me sento o mais confortavelmente possível.
A pequena manivela faz deslizar perante os meus olhos as inúmeras páginas que, ora num rápido olhar, ora numa leitura lenta, absorvem toda a minha atenção. As horas passam sem que eu dê por elas. O cansaço, só o sinto quando chega a hora de ir embora. Até esse momento a minha atenção não se desvia um momento das velhas páginas agora transformadas em filme e dos diversos tipos de letra que obrigam a um esforço redobrado. De uma escrita rigorosamente desenhada passa-se para outra que parece ter sido traçada por uma criança. De sucessivas páginas metodicamente alinhadas saltam-se para outras em que mal distinguimos os finais dos parágrafos. Entre folhas que percebemos bem conservadas surgem algumas quase impossíveis de decifrar em virtude da tinta esborratada ou da deterioração do papel. Nada disto no entanto me impede de continuar. Há que saber ler para além do borrão. Há que ter a agilidade de descodificar as grafias mais fechadas. Há que ser persistente porque a recompensa chega a qualquer momento.
Um nome finalmente colhe a minha atenção! Confiro os dados anteriores. Leio toda a descrição e concluo que tudo bate certo. É mais uma peça do grande puzzle que posso encaixar. É nesse momento que me permito parar um momento - um momento apenas, porque já me invade, premente, a vontade de continuar.
Olho o relógio. Está quase na hora! Só mais um pouco ... para encontrar mais um! Só mais um e depois acabo ... por hoje! Afinal, compreende-se o entusiasmo ... acabei de encontrar a certidão de baptismo de um nono avô nascido há trezentos e oito anos!!! Um nono avô de alguém que está interessado em conhecer os seus antepassados. Os meus, já encontrei, e sempre que posso vou tentando desvendar as teias que o tempo teima em ocultar.
Para que um dia os meus netos, possam mostrar aos seus netos, a árvore que lhes deu vida.
(Foto, minha. Um outro tipo de documento)