Abstração
Sem nada fazer. Apenas estar aqui! Aqui ou em qualquer outro lado. Porque hoje, o aqui podia ser noutro lado também. Apenas uma coisa importaria. O silêncio.
Lá fora o vento assobia e as poucas árvores que vejo da janela pouco se agitam afinal! Abrigadas, desafiam o vento que sopra furiosamente. O céu está cinzento chumbo e as gotas que parecem ter cristalizado na janela são a marca mais visível da chuva que caíu há pouco.
Hoje fiquei em casa. Má escolha. Não, foi mais uma opção que tive que fazer, mas errada. Gosto de sair para o meu trabalho do costume. Já sabem qual é ... Lá dentro, não penso em nada. Transporto-me para um espaço em que não existo. Apenas importam os livros, ou os filmes, que me abrem as suas páginas quase desfeitas. Uma hora ou cinco, não interessa quanto. Tudo o que existe dentro de mim desaparece, e outra de mim nasce, vazia, apenas olhos e atenção, e é tão bom quando isto acontece .... Por isso foi errada a minha escolha. Apesar do vento que sopra ameaçador. Apesar da chuva que cai como um dilúvio ... (e ainda há dias era Verão ... quem diria ...) Por isso foi errada a minha escolha. Estou aqui sem nada fazer e sem nada me apetecer. Frente à janela. Ancorada neste silêncio e não conseguindo desligar-me de mim. Presente e passado a acossar-me em cada segundo. Um vaga sensação de desconforto e um peso a tomar forma cá dentro.
Olho para cima da estante à procura dos gatos. Nenhum à vista! Quantas são as vezes que o meu coração salta do peito no momento em que aterram pesadamente sobre a minha secretária. ... mas para já, não! Aconchegam-se concerteza nas camas novas que lhes comprei ontem ... e dormem ... Que sorte! dormem! sem nada em que pensar ... só precisam de comer, dormir e uns carinhos de vez em quando. Já eu! preciso de muito mais! Especialmente em dias como este, em que fiz a opção de ficar em casa. Especialmente em dias em que nada mais me absorve a não ser eu, eu e mais eu!
E depois vêm à memória coisas antigas ... aquelas que preferia não recordar.
Como sou idiota e trágica! Para quê lembrar coisas antigas? O passado já passou ... e o futuro ... é agora, no minuto que se segue e não mais do que isso. São pequenas coisas ... slides que a memória descarrega sem eu querer ... ou são palavras ... daquelas que andam à solta na minha imaginação e que passam tão depressa que não consigo prendê-las. Se ao menos estas palavras que escrevo as aprisionassem - as coisas e as palavras que andam soltas -, se ao menos ficassem aqui cativas no papel e não me pesassem mais ... um rectângulo/baú de palavras e sensações que me libertaria deste peso que me oprime. Que me desobrigaria das perguntas a que não sei dar resposta!
Sete horas! já passa um pouco ... Escurece lá fora e a luz que não acendo torna as teclas quase homogéneas. Apenas os dedos conhecem o caminho das palavras. Há ruído na rua ... um cão que ladra anula o silêncio. É a hora do regresso a casa. Erradamente, eu fiquei aqui!
Mas não amanhã! Não, amanhã!
Lá fora o vento assobia e as poucas árvores que vejo da janela pouco se agitam afinal! Abrigadas, desafiam o vento que sopra furiosamente. O céu está cinzento chumbo e as gotas que parecem ter cristalizado na janela são a marca mais visível da chuva que caíu há pouco.
Hoje fiquei em casa. Má escolha. Não, foi mais uma opção que tive que fazer, mas errada. Gosto de sair para o meu trabalho do costume. Já sabem qual é ... Lá dentro, não penso em nada. Transporto-me para um espaço em que não existo. Apenas importam os livros, ou os filmes, que me abrem as suas páginas quase desfeitas. Uma hora ou cinco, não interessa quanto. Tudo o que existe dentro de mim desaparece, e outra de mim nasce, vazia, apenas olhos e atenção, e é tão bom quando isto acontece .... Por isso foi errada a minha escolha. Apesar do vento que sopra ameaçador. Apesar da chuva que cai como um dilúvio ... (e ainda há dias era Verão ... quem diria ...) Por isso foi errada a minha escolha. Estou aqui sem nada fazer e sem nada me apetecer. Frente à janela. Ancorada neste silêncio e não conseguindo desligar-me de mim. Presente e passado a acossar-me em cada segundo. Um vaga sensação de desconforto e um peso a tomar forma cá dentro.
Olho para cima da estante à procura dos gatos. Nenhum à vista! Quantas são as vezes que o meu coração salta do peito no momento em que aterram pesadamente sobre a minha secretária. ... mas para já, não! Aconchegam-se concerteza nas camas novas que lhes comprei ontem ... e dormem ... Que sorte! dormem! sem nada em que pensar ... só precisam de comer, dormir e uns carinhos de vez em quando. Já eu! preciso de muito mais! Especialmente em dias como este, em que fiz a opção de ficar em casa. Especialmente em dias em que nada mais me absorve a não ser eu, eu e mais eu!
E depois vêm à memória coisas antigas ... aquelas que preferia não recordar.
Como sou idiota e trágica! Para quê lembrar coisas antigas? O passado já passou ... e o futuro ... é agora, no minuto que se segue e não mais do que isso. São pequenas coisas ... slides que a memória descarrega sem eu querer ... ou são palavras ... daquelas que andam à solta na minha imaginação e que passam tão depressa que não consigo prendê-las. Se ao menos estas palavras que escrevo as aprisionassem - as coisas e as palavras que andam soltas -, se ao menos ficassem aqui cativas no papel e não me pesassem mais ... um rectângulo/baú de palavras e sensações que me libertaria deste peso que me oprime. Que me desobrigaria das perguntas a que não sei dar resposta!
Sete horas! já passa um pouco ... Escurece lá fora e a luz que não acendo torna as teclas quase homogéneas. Apenas os dedos conhecem o caminho das palavras. Há ruído na rua ... um cão que ladra anula o silêncio. É a hora do regresso a casa. Erradamente, eu fiquei aqui!
Mas não amanhã! Não, amanhã!
17 Comments:
Eu senti, ou percenti, que algo estava a escurecer o teu coração.
Há dias assim, tristes, sós...
Qualquer um de nós já passou por essa experiência mas, "idiota e trágica" são expressões que nunca deves usar para definir seja qual fôr o sentimento que te assole a alma.
Tu não és trágica e muito menos idiota (ou seje só és idiota quando dizes que o és) entendeste?
Mas deixa o vento, que hoje sopra forte ("o vento é bom bailador...sopra forte e redopia..."dizia Afonso Lopes Vieira) levar consigo a tua tristeza.
Tu és vida, és mulher, és alegria de viver, és força redobrada a cada pedra que te aparece no caminho, como ousas deixar entrar dentro de ti esse péssimismo viroso (sim só pode ser virús)?
Alegra-te amiga, poeta, escritora.
Não gosto de ler os teus textos tristes mas, de qualquer forma obrigado por teres escrito porque andavas muito fugidia.
Esqueci-me de mandar bjs e assinar.
Escrevi
Ohhhh rapariga....amanhã vai para a TT fazer umas pesquisas para mim, ficas tu feliz e eu também:-)))
Só se preferires acompanhar esta tua amiga tipo Balão nas suas peregrinações de Hospital - Centro de Saúde e vice-versa, gggrrrr.
Já sabes que estou a brincar contigo!!!
Beijinhos grandes e sabes que tou aqui...
Olá Dulce. Estava a ler-te e a pensar: Não, não vou cair nesta de me deixar levar pela tua aparente tristeza.
Dizem que o poeta é um fingidor!
O que sei é que este tipo de escrita é óptimo para funcionar como catarse e para nos dar estes momentos de excelente leitura.
A chuva estava a fazer muita falta :))
Um beijinho grande
"Idiota e trágica" ;)
Até sempre!
Ai,ai! Lá ele há dias assim. à gente dá-nos pra ficar prá i. A desculpa da chuva, ou do vento, ou do frio é quanto basta. Quando damos por ela, é cá uma neura! E se ficas à espera dos gatos, fica bem esperando. Cheiram-te os odores das hormonas massacradas pelo tédio, mandam-te bugiar e viram-se para o outro lado. Ainda por cima, com caminha nova, pois não! Dormir é que faz sentido e acordar, só muito depois para esticar e desentorpecer as pernas.
Adorei ler e sei o que é sentir isso:)
Beijos
Ao ler ao Sábado, vejo que amanhã (amanhã, não!) é Domingo.
E os Domingos (e por aqui os sábados, segundas, terças, etc) são terríveis, não são? Já o escreveste.
Um só desejo: que Amanhã, Domingo, seja um dia Feliz. Para ti. Para mim. Para todos.
QUERIDA AMIGA DULCE
Para mim, muitas vezes só uma coisa importa: O silêncio.
Já eu não gosto de sair para o meu trabalho do costume. É um martírio todos os dias dirigir-me para aquele lugar...
Tenho andado ausente, mas cheia de saudades tuas, acredita.
Beijinhos.
Bom FIM de semana.
Apenas importa viver!
Olá... Já chegou o teu livro....
Beijinho
Ainda não o li mas já o folheei..Está excelente!
(acho que lhe devias pôr um índice)
Hic nihil novi.
A adiar a decisão de mandar vir o teu livro para a data de entrada das minhas receitas mensais...
Conheces gente do AN/TT?
Mas não amanhã! Não, amanhã!
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Pois é!... É que o amanhã, é hpje.
Fica bem.
E a felicidade por aí.
Manuel
..fico aqui..........
jocas maradas de dias bons
Delicioso o texto, a tristeza , a nostalgia , essa é próprio de alguns dias menos bons, só isso.. Amanhã é sempre outro dia, felizmente que assim é.. um beijinho, ell
*
que se passa ???
,
conchinhas
,
*
Como eu te compreendo querida Dulce!...
Um beijo
O ausente
Jorge
http://vagabundices.wordpress.com/
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