segunda-feira, abril 30, 2007

Às vezes ...

Texto retirado

domingo, abril 29, 2007

Noites

"Gosto tanto de andar de carro à noite" disseste-me baixinho. Quase murmuradas as palavras ... Quase apenas pensadas. E com as palavras senti em ti as memórias de outras viagens, de outras estradas. De momentos em que as noites eram felizes. Outras, as expectativas. Outra, a companhia. Intermináveis estradas em noites tornadas longas. Em estrelas, transformadas as palavras. Noites povoadas de sorrisos. Ainda sorrias ...

... a música tocava no rádio ... havia conversas no ar... risos entrelaçando as palavras ... fileiras de pequenas luzes corriam ao longe para depois serem devoradas pela escuridão ...

Gosto tanto de andar de carro à noite. Viaja-se noutra dimensão. Ao silêncio da noite acrescentamos os nossos silêncios. Sei o que sentes quando agarras na minha mão. Sabes o que penso quando repouso a cabeça no teu ombro. Ouvimo-nos quando os olhares se cruzam. Há música no ar e um caminho que se quer infinito. Há um amplo sorriso que preside e domina.

... é doce a música que ouço agora ... canta-la baixinho e sinto a nostalgia que te invade ... os pensamentos que em catadupa te abalroam ... talvez as lágrimas ... não olho ... não sei ...
... a lua espreita ... a noite corre ...


sexta-feira, abril 27, 2007

Não te esqueças


Não te esqueças ... não te esqueças que ... e o resto adivinhei antes de ouvir! Não, não me esqueço. Nunca me esqueço. Como esquecer se o vejo repetido de mil formas? Há palavras que morrem na garganta e outras ... outras que não chegando a nascer se fazem presentes. Perfilam-se. Chamam a atenção. Acenam-nos para que as saibamos ali. Desenham-se imperceptivelmente em lábios mal cerrados. Insinuosamente se reflectem num olhar ansioso. Ínfimo e apenas pensado som que só os nossos atentos sentidos captam.
Há palavras que queria agarrar e encerrar em mim.
Senti-las como vida, recebê-las como dádiva e protegê-las na concha das minhas mãos sedentas.
Como estas que me deste ... que me dás ... como dádiva, como Vida.
Não te esqueças ...
(Foto minha)

terça-feira, abril 24, 2007

Três personagens. Um único acto.

Abriu o portão e deixou que o carro deslizasse para dentro da garagem. O arranhar do travão de mão despertou-a. Chegara ao fim de mais um dia. Ou não. Começava agora a noite e outro ritmo se iniciava também. A filha disparara já direita a casa e ouvia os seus passinhos miúdos a subir as escadas em direcção ao quarto. Os dias grandes que agora começavam deveriam alegrá-la. O jardim resplandecia! Verde polvilhado de inúmeras cores. O ar estava morno e a passarada adivinhava já o fim de tarde num chilreio feliz. A casa acolheu-a em silêncio. Subiu para se despir. No sofá ficara a mala que a miúda pousara descuidadamente. Arrumava-a? Chamava-a para que a arrumasse? Não! Para quê? Nada interessava já. Dizia-lhe depois - mais tarde quando o silêncio deixasse de pesar como agora. Despiu-se lentamente enquanto que ao lado ouvia a filha numa ladainha infantil conversando ... conversando. E ela? conversava com quem? Olhou para si mesma reflectida no pequeno espelho. A magreza extrema era a face mais visível da tristeza. Depois olhou-se na pequena moldura. Vinte anos a menos. No olhar, ainda presente a expectativa do futuro. Procurou-se agora no pequeno espelho. Nada. Por mais que olhasse não encontrava nada neles. Buracos vazios e ocos onde cabia uma mão cheia de fracassos. Mamã, ouviu do quarto ao lado, mamã! e o chamamento arrastou-a para o presente. Ainda era cedo, podia sentar-se um bocado com a miúda. Ouvi-la contar sobre as brincadeiras do dia. Perguntar se havia trabalhos de casa. Ajudá-la. Não, não tinha paciência de ouvir os seus relatos inúteis nem estava interessada no seu pequeno mundo. Só queria ... só queria ... nem ela própria sabia o quê! Fechar as portas, as janelas, os olhos e a vida e deixar-se ficar assim naquele buraco escuro e sujo que ajudara a construir. O seu corpo. Ou o que restava dele.


Entrou em casa. Contrastava a luz interior com a intensidade de uma tarde ainda soalheira. Na televisão aquele concurso detestável que antecedia as notícias. Ninguém à vista. Momentâneamente substituiu a máscara de frieza que colocara, pelo seu verdadeiro rosto. Através das grandes vidraças viu os gatos que brincavam no jardim. Mãe e filho. Sorriu com ternura e deixou-se ficar uns minutos a observá-los. Depois abriu as portas e foi ao seu encontro. Chamou-os com voz terna e pegou num e depois no outro para lhes fazer as festas que já esperavam. O silêncio era quebrado pelos miados doces de ambos e pelo chilrear da passarada que se abrigava na grande palmeira. A tarde caía e era doce a luz do crepúsculo. Dourada e breve, adoçava o verde do jardim e matizava a multiplicidade de cores. Se pudesse ficar ali ... se pudesse tirar a máscara para sempre pensou, e logo os olhos se turvaram, obscurecidos pelo denso passado e entristecidos por um futuro incerto. As notícias estavam a começar. Sentou-se no seu canto do sofá e a filha veio correndo pelas escadas. Já chegaste pai, e abraçou-se ao seu pescoço. Sentou-a ao colo e as notícias ficaram para trás, diminuídas pela vivacidade dos relatos da miúda. Brincadeiras entrelaçadas em mimos. Palavras poucas que o hábito sempre fora esse. Por detrás de si ouvia os passos na cozinha. O jantar que se aprontava. A miúda correu ao chamamento da mãe e ele ali ficou - no rosto vincado a sombra do último sorriso. Nas mãos agora quietas, o calor da última carícia. O olhar afundava-se no pequeno ecrã. Sonhava. Ou não. Pensava no passado e no que construira. Filhos. Pedras. E sonhos que acalentara bem no fundo do seu coração. Bem escondidos para que ninguém soubesse que se atrevia a sonhar. Como poderia? Os sonhos desmoronavam-se como castelos de areia. Se eles soubesssem que tivera sonhos. Se eles desconfiassem que se atrevera a sonhar ...

segunda-feira, abril 23, 2007

Devaneio

Só não quero estar assim daqui a dez anos, disse. A resposta surgira-lhe uns segundos antes, ou nem resposta era - era mais conclusão. Formulação de um íntimo desejo. Só não quero estar assim daqui a dez anos. Primeiro fora um flash. As letras nítidas sobressaindo de um futuro obscuro. Depois ficaram a brilhar no escuro como que a dizer, diz! diz alto! atreve-te! e quase sem pensar os lábios deixaram sair os sons que no seu mais íntimo explodiram. Só não quero estar assim daqui a dez anos, ouviu-se a dizer, e admirou-se com o eco das palavras que apesar de apenas murmuradas dispararam velozes e ganharam vida própria.
Não estar, ganhou volume e enfrentou olhos nos olhos o assim, enquanto os números se sobrepunham um a um, cada vez mais alto, cada vez mais longe, até que o dez desaparecia lá no alto, tão longe e tão ténue que a fez duvidar da sua existência. Depois, as palavras cairam. Todas juntas. Só não quero estar assim daqui a dez anos tornou-se um monte de estilhaços partidos ao fundo dos seus olhos. Valeria a pena dar-lhes de novo a forma? Daqui a dez anos ... repetiu para si própria, daqui a dez anos ... daqui a dez anos ... e as palavras perdiam o sentido, quebradas por uma repetição que as extinguia.
Só. Não. Quero. Estar. Assim. Daqui. A. Dez. Anos.
Disse-as uma a uma procurando uni-las de novo, dar-lhes sentido.
Disse-as uma a uma de novo para que brilhassem como antes e disparassem velozes e com vida própria.
Disse-as uma a uma ... para Acreditar.

quinta-feira, abril 19, 2007

Atribuição


Hoje tive a surpresa de me ver contemplada com o Thinking Blogger Award, tendo-me sido essa nomeação atribuída por três blogs distintos:

Cabana de Palavras, da Lena

O Cheiro da Ilha, da Maria e

Palavra puxa Palavra, da Manuela,

blogs que visito e leio diariamente e que muito aprecio. Só posso agradecer às três e dizer-vos que fico feliz por me terem incluído nas vossas preferências.

Agora cabe-me a mim escolher cinco blogs a quem atribuir essa distinção. Tarefa complicada esta! Escolher tão poucos de tanta gente que escreve de forma tão bela! Confesso que tive que fazer uma selecção mais alargada e depois ir cortando. No entanto, e porque as minhas nomeações são 3, perdoem-me se fujo um pouco às regras impostas, e escolho, não cinco, mas sete.

E os nomeados são ... (por ordem alfabética)


Bom Dia Isabel
Das Palavras que nos Unem
Folhas da Gaveta
Mundos Paralelos
Sinestesia Crepuscular
Viagens na Aldeia
Words


(todos nos meus Favoritos)

Um abraço a todos!





segunda-feira, abril 16, 2007

A Voz

Do outro lado ... a Voz. A que eu não queria ouvir. Ou a que eu queria tanto ouvir, mas de outra forma. Não assim, naquele tom.
Transformada.
Fria.
Contida.
Emparedada.
Aprisionada.
A Voz.
No fundo ... aquela que eu queria ouvir, mas não assim. Apenas como sempre.
A Voz.
Doce.
Transbordante.
Feliz.
Meiga.
A Voz de sempre.
A Voz de ontem.
A Voz que eu guardo tão fundo e que me embala quando me deito Só em cada noite.
A Voz que me acorda em cada manhã.
A Voz que quero amanhã, e depois, e depois, e sempre.
Não esta de agora - transformada, aprisionada, emparedada.
Entrou em mim como o arrepio da morte. Sentia-a, e abalou a minha estrutura mais profunda. Penetrou-me e fez rebentar os meus diques. Impossível contê-los. Impossível explicar.
Na Voz que sei por detrás da Voz está a resposta.
Deixa-me ouvir-te - Voz

sábado, abril 14, 2007

No topo


(Foto minha)
Texto retirado

terça-feira, abril 10, 2007

"Slides"

Texto retirado

sexta-feira, abril 06, 2007

Páscoa


Esta Páscoa não vou ter o prazer de comer os folares da minha infância. Feitos de véspera e deixados a levedar em grandes tabuleiros, antes de irem ao forno. Depois ... era aquele cheirinho gostoso que se espalhava pela casa enquanto eu cirandava à sua volta à espera que arrefecessem. Era assim quando a minha avó os fazia. Brilhantes e rosadinhos. Apetitosos e aromáticos. Na primeira dentada esboroava-se a massa nos nossos dedos e inundava-nos o sabor da erva-doce. Os ovos, eram a minha avó e a minha mãe que os comiam, nunca eu que não lhes achava graça nenhuma.
Depois eram as amêndoas. Para mim, e enquanto muito pequena, as recheadas com pinhão (porque lhe chamo eu amêndoas?) e mais tarde, aquelas castanhas de forma irregular, só açucar e amêndoa. Para a minha avó eram umas mais macias - meio areadas - lembro-me que lhes chamavam amêndoa de Coimbra -, nem sei se ainda existem. Mas especiais, eram aquelas recheadas com licor. Sempre tinha direito a um pequeno pacote delas e ainda hoje fazem o meu encanto. São lindas, de formas várias e mimosas. As mais caras de todas, creio eu.
Páscoa ... nada mais que lembranças de velhos doces caseiros e mimos especiais.
Os primeiros, não existem mais. Os segundos têm a nostalgia de um tempo que já passou há muito.
Páscoa. A de hoje. Tem a forma de uma flôr azul céu. No seu centro a pureza de uma ideia. Na sua raíz, a doçura de uma amizade cultivada.
Obrigada, amiga!
(Foto, minha)

segunda-feira, abril 02, 2007

Choupal


(Foto minha)
Texto retirado

domingo, abril 01, 2007

Inquietação

Este silêncio que agora me pesa no peito, escurece o futuro.