terça-feira, outubro 31, 2006

1º Encontro dos Poetas Almadenses


No passado sábado dia 28, decorreu em Almada o 1º Encontro de Poetas Almadenses onde foi feita a apresentação de uma colectânea de poesia - Index Poesis - que reune 57 trabalhos de poetas almadenses. Esta iniciativa foi levada a cabo pela SCALA (Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada) e pela Associação de Cidadania de Cacilhas, FAROL, e teve o apoio de todas as autarquias do concelho.
Esta iniciativa surgiu no seguimento de outras ocorridas em Cacilhas e em consequência de um projecto de cariz cultural que teve lugar num conhecido local de Cacilhas, de nome Café com Letras , e graças ao impulso dado por Ermelinda Toscano.
Diz a própria no Prefácio desta obra, que encara "a Cultura como um instrumento legítimo de Poder que, quando efectivamente partilhado entre os diferentes agentes (instituições, autores e publico), de forma integrada, permite transformar a realidade através da compreensão dos valores da sociedade (passados, presentes e futuros)." Diz ainda Ermelinda Toscano que em 2003, quando nasceu o Café com Letras, viu ali a oportunidade de colocar em prática as suas ideias.
Ali decorreram, sempre no último sábado de cada mês, inúmeras sessões de Poesia Vadia e em consequência delas, a colecção Index Poesis.
"Durante cerca de dois anos, esta iniciativa transformou-se no "porto de abrigo" para os poemas que uma série de clientes do Café com Letras se dispunham a partilhar entre si. (...) Publicados ao ritmo da oferta, estes cadernos, apesar de serem uma edição artesanal, rapidamente se tornaram numa das atracções mobilizadoras das sessões de "Poesia Vadia" (...) onde eram apresentados."
O Café com Letras fechou infelizmente as suas portas, em Agosto do corrente ano.

Quem quiser conhecer pormenores desta iniciativa, pode consultar o Blog dos Poetas Almadenses. Aqui pode encontrar toda a história, as fotografias do encontro e os nomes dos que participam desta colectânea.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Trinta e oito, rua da ferradura

Texto retirado

domingo, outubro 29, 2006

Do princípio ao fim ...

Com impaciência atropelo as horas. Sorvo de um só gole os minutos que faltam.
A noite protege o sonho ...
(... e enquanto a manhã desponta e se ganha cada minuto de luz, o novelo das horas que ainda faltam engrossa inevitavelmente ...)
Os passos já se pressentem, ou é apenas o coração que dispara a galope ao teu encontro ...
(... ao encontro do último minuto ... aquele que não se deseja nunca ... que se quer retardar ... que se ignora, disfarçando-o sob mil palavras e olhares fugidios ...)
... e reconhece o teu sorriso entre mil, e abraça o gesto - o teu - oculto por outros gestos ...
(... até que o olhar negue o que as palavras afirmam ...)
e nos olhos se desenhem as palavras imaginadas ...
(até que a distância se anuncie ...)
e as mãos concretizem os gestos.

quinta-feira, outubro 26, 2006

...

"Por mais que dispamos o que vestimos, nunca chegamos à nudez, pois a nudez é um fenómeno da alma e não de tirar fato."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 169

quarta-feira, outubro 25, 2006

...

"Não sei se todos os sentimentos são recíprocos mas gostava de acreditar que assim é. Poupavam-se muitos e grandes desentendimentos."

PAIXÃO, Pedro, "Nos teus braços morreríamos", Livros Cotovia, Lisboa, 2000, p.92

segunda-feira, outubro 23, 2006

Diário de um banco de jardim


(Foto minha)

Texto retirado

domingo, outubro 22, 2006

Shibiuza

É esta a minha nova companheira. Shibiuza é o seu nome. Dirão que é um nome estranho. Não há dúvida que é. Vou contar-vos como surgiu.
As minhas filhas têm uma gatinha pequena, a Edsuku (sim, também é estranho !!! aqui em casa as gatas são assim !!!). O nome dela significa Alegria em japonês. (Duas filhas Budistas, é o que dá !!!) . Uma amiga minha, quando me perguntava pela gatita, nunca se lembrava do nome (o que não é de espantar !!) e então saía sempre "então como está a .... a..... shibiuza ??"
Eu achei este nome delicioso. Não sei porquê acho que tem tudo a ver com gatos ... talvez por causa do som inicial ... shhhhh, e disse-lhe que quando tivesse outra gata lhe daria esse nome.
Há um mês decidi-me então a trazer uma gata para me fazer companhia. Queria uma gata preta - toda preta. Há uma loja perto da minha casa que recolhe os gatos que são abandonados, para depois os entregar a quem os tratar bem. Fui lá um dia decidida a trazer a minha Shibiuza. Estava eu a falar com a dona e a dizer-lhe que queria uma gata pequenina e preta, quando entra na loja uma empregada camarária, daquelas que limpam as ruas, com uma gatinha pequenina na mão. "Encontrei-a mesmo agora, ali junto aos esgotos. Miava, miava, toda assustada, e como sei que fica com eles, trouxe-a para cá."
Parece que foi de propósito! Não devia ter ainda um mês. Estava esfomeada, assustada, e era exactamente o que eu queria. Assim baptizei a minha gatita de Shibiuza e somos as duas felizes. Ela, porque ganhou um lar e mimo - muito mimo. Eu, porque a adoro e porque veio mesmo ao encontro dos meus desejos.
Está apresentada. O que acham? Não é linda?

sábado, outubro 21, 2006

Ilha


Isolada e
livre. Lá, onde
habita a tua
alma!

(Foto em www.trekearth.com )

sexta-feira, outubro 20, 2006

Lágrima

Lá onde apenas se
anuncia o
gesto,
reconheço já a
indisfarçável
marca da
ausência!

quarta-feira, outubro 18, 2006

...

"Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 101

terça-feira, outubro 17, 2006

...

"Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p.229

segunda-feira, outubro 16, 2006

...

"Tu disseste, mais tarde ou mais cedo deixaremos de falar com as palavras e os gestos. Neste mistério que somos parecerão inúteis. É para aí que vamos. E eu disse, as palavras sequestram tudo o que apanham, são ciumentas, irrompem por debaixo onde habita o silêncio que as sustém. É para aí que vamos."

PAIXÃO, Pedro, "Os corações também se gastam", Prime Books, Lisboa, 2005, p.23

domingo, outubro 15, 2006

...

"... E quando fazemos amor o teu cheiro intensifica-se, o toque frutoso que fica mesmo debaixo da tua pele acentua-se. Com a consistência do vinho. A sua orla enrosca-se em mim, levanta-me no ar. A toda a minha volta sentem-se aromas como o da chuva tropical, suado e húmido, como terra e sal, água e vinho e mar, tudo misturado. Há um pouco de tudo no teu cheiro - coisas a morrer, coisas a acordar para a vida."

JHA, Radhika, "Aroma", Dom Quixote, Lisboa, 2002, p. 247

sábado, outubro 14, 2006

...

"A minha mãe sempre disse que as recordações são sementes que se transformam em grandes árvores de um dia para o outro, impedindo-nos de ver o futuro."

Jha, Radhika, "Aroma", Dom Quixote, Lisboa, 2002, p. 212

sexta-feira, outubro 13, 2006

Oposição

Deixar
esvair a
seiva que
irriga a
semente, é
trair a
intenção de
reconstruir!

Porquê
escolher a
recusa
se podes
inventar o
sonho?
Transforma hoje os
ideais.
Recomeça!

quinta-feira, outubro 12, 2006

Recolhimento

"Santa Maria mãe de Deus"...
"Santa Maria mãe de Deus" ..."Santa Maria mãe de Deus"...a toada repetia-se até à exaustão. Um número indefinido de vozes em uníssono. De tempos a tempos há uma voz que se destaca para dizer as mesmas palavras, para depois serem de novo repetidas pelo grupo de pessoas que se agrupa frente ao altar.
Há que tempos não ouvia estas palavras. Em míuda havia uma tia velha que me levava à missa em cada domingo e lembro-me de encontrar um certo encanto no pequeno livrinho de folhas douradas e naquele ritual sempre repetido. Depois ... os anos passaram, as ideias definiram-se e só volto à igreja de visita ou como hoje em trabalho.
Aqui na Sé de Faro as pedras têm nelas gravadas centenas de anos de palavras sussurradas. Ecoam até ao adormecimento. Gosto do recolhimento que se encontra dentro das igrejas. Do silêncio que inspira à reflexão. Gosto delas vazias - onde posso ouvir até o eco dos meus pensamentos.
Esta é alta e imponente, como todas as Sés. As pedras, gastas de tanto serem pisadas. Os dourados, antigos e ricos. Quadros representando cenas escurecidas de santos e milagres. Pelas frestas de vitrais filtra-se a luz em cambiantes coloridos. No altar agora vazio sobressai a cobertura alva e rendada que me lembra a minha avó e os seus belos trabalhos de mãos.
Assim comecei o dia.
Agora, umas horas mais tarde, a toada das rezas ainda ecoa nos meus ouvidos. Um eco ancestral que se colou em mim vindo do fim dos tempos.
Até que a memória esqueça.

terça-feira, outubro 10, 2006

...

"O que são livros avô?"
E ele: "Livros são caixas cheias de vozes."

HAYAT, Faíza, "O Evangelho segundo a serpente", Dom Quixote, Lisboa, 2006, p.135

segunda-feira, outubro 09, 2006

Ausência

Alcança-me
uma
sombra!
Espessa
névoa que
conquista a
impaciência da
alma!

Falo da Ausência!
Daquele vazio de voz e de presença.
Falo da Ausência!
Mistura de vácuo e peso que tento ocultar com palavras reinventadas.
Falo da Ausência!
A ( de alimentar a esperança) U (de uivar na solidão) S (de saudade) E (de esperar em vão) N (de nunca mais) C (de calar o grito) I (de inventar-te) e A (da Arte da espera).
É dela que falo.
Da Ausência!!

domingo, outubro 08, 2006

Estar aqui

Estar aqui e não querer estar aqui.
Estar aqui neste lugar que foi meu, que é meu ainda, mas querer estar noutro lugar.
Estar aqui e circunscrever-me a pequenos espaços.
Sentir os outros como estranhos.
Viver como uma estranha neles.
Estar aqui.
Ou estar ali.
Melhor estar lá.
Lá onde não estou.
Onde não posso ainda estar.
Onde não pertenço.
Estar aqui apenas uma parte de mim.
O resto ... longe ... para além de mim.
Estar aqui e viajar no espaço nos braços de um sonho por acabar.
Lá onde sou.
Lá onde vou.
Lá onde me reconheço.
Estar aqui. De passagem.
Para lá.

sábado, outubro 07, 2006

Joana

É uma pequena moldura de cerâmica. De forma quadrada. No canto superior esquerdo tem um laço côr-de-rosa ... de menina ...
No canto inferior direito inscreve-se um pequeno carrinho de bébé. Côr-de-rosa, claro ... de menina.
Os olhos que me espreitam da moldura são escuros e vivos. Amendoados. As sobrancelhas exprimem supresa. A pequena boca meio entreaberta. Rosto moreno e expressão doce.
Para aquela moldura, olho todas as manhãs quando acordo e todas as noites antes de apagar a luz. Acompanha-me há 23 anos e picos. Não consigo deixar de sorrir quando a olho em cada manhã. Um sorriso de mãe babada ainda hoje, vinte e quatro anos depois de te ter posto no mundo.
O sorriso de uma mãe quando olha para a sua filha.
Hoje e ontem! Hoje e sempre!
Em cada ano recordado aquele momento único do teu nascimento. A minha primeira filha. A experiência indescritível de ser mãe – de ter dado origem a um pequeno ser –, a responsabilidade de o orientar e encaminhar até ele próprio encontrar o seu próprio caminho.
Passo a passo ... até chegar o dia de hoje. Tantas cumplicidades pelo meio. Tantos sonhos partilhados. Tantos os abraços e as lágrimas. De ambas, que ajudámos a secar. Quantas vezes o teu braço em dias de mágoa e dôr! Quantas vezes as palavras certas – doces e carinhosas – quando eu mais precisava!
Tudo isto sabes, filhota. Estas e outras coisas que guardamos para nós. Hoje é dia de te dizer – mais uma vez – todo o carinho que sinto por ti.. Porque hoje completas mais um ano.
E já vão 24. Parabéns filhota!!

sexta-feira, outubro 06, 2006

"As praias desertas continuam ... esperando por nós dois .."

Texto retirado

quinta-feira, outubro 05, 2006

...

"Não vale a pena despedirmo-nos. Não vale a pena dizer quase nada. O que dizemos fica calado. Ouve-se só um pouco mais tarde. Aos poucos, baixinho, em segredo: são palavras que só nós sabemos."

PAIXÃO, Pedro, "A noiva judia", Livros Cotovia, Lisboa, 1998, p.36

quarta-feira, outubro 04, 2006

Noite!


Aquele ruído enchia a noite.
A minha noite!
Ao silêncio do quarto sobrepunha-se aquele som dominador - impossível de ignorar.
O vento e o mar. Ou o mar e o vento. Qual deles o mais forte!
De olhos fechados, apurei o ouvido tentando isolá-los, mas era como se o mar e o vento - ou o vento e mar - se enovelassem num abraço, e era os dois que eu ouvia.
Levantei-me e fui até à janela. O mar não se distinguia, mas no céu a lua despontava de um emaranhado de nuvens - desenhando-as de novo a cada segundo que passava. Aquela luz leitosa derramava-se numa pequena cascata que ora se escondia ora reaparecia - a única luz naquela noite tão escura.
O vento lá fora arrepiou-me a pele e um friozinho desagradável percorreu-me toda. Abraçei-me com os meus próprios braços e voltei para o conforto da cama.
Fechei os olhos. Procurei um aroma morno que me envolvesse e, enrolando o meu corpo a um sonho, foi no embalo de uma respiração compassada que adormeci de novo.

(Foto em www.trekearth.com)

terça-feira, outubro 03, 2006

...

À medida que me esforçava por
não representar um erro de
gramática
teu lençol de sílabas ajustava-se ao
verbo amar e às
conformações da noite e
da madrugada.
Incendiava-se um espelho no
teu corpo e
em mim uma gaivota iniciava
uma viagem de
falésias, de
ilhas compensadoras de ninhos e de
chuvas.

LEAL, Leonilde, "Basalto da casa", Escritor, p.43

segunda-feira, outubro 02, 2006

...

"O amor sempre mete muito medo."

PAIXÃO, Pedro, "Viver todos os dias cansa", Livros Cotovia, Lisboa, 1995, p. 100

domingo, outubro 01, 2006

Jantar de Outono

Ontem fomos sete àquela mesa. Sete pessoas. Sete vontades. Sete desejos de estarmos juntos. Noutras alturas já fomos muitos mais ... Acredito que no próximo, o número de participantes se acrescente de novo. O que importa realmente é que estejamos ali, não para cumprir um ritual que se criou, não para ver quem vai ou quem não vai, mas porque realmente nos agrada estar ali. Rever os rostos de quem habitualmente lemos. Alargar o âmbito das conversas. Abraçar os amigos. Sorrir e ver os sorrisos nos outros.
(Estarei a exagerar? Serei só eu a ver as coisas deste modo?)
Em Janeiro há mais. Com os convivas do costume!

E agora Fernando Pessoa ...

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

in Poemas de Fernando Pessoa, Visão, JL, p. 201