In memoriam
"Ainda não é este ano que vamos dar o nosso passeio a Castelo Branco". Estas foram as últimas palavras que recordo dela. Na altura sei que pensei - e será que ainda vamos conseguir? Dois dias depois partiu sozinha para a sua última viagem.
Conheci-a há dois anos, mais coisa menos coisa. Cantávamos no Coro da Universidade Sénior de Almada. No final dos ensaios reunia-se um grupinho para o café. Dois dedos de conversa que aproximavam mais ainda quem queria aproximar-se.
Chamava a atenção pela postura algo superior no olhar. Atraía os olhares pelas cores que vestia não muito comuns numa mulher de meia idade. Facilmente me aproximei. Atraiu-me a sua maneira de falar, as conversas e os interesses próximos dos meus. Rapidamente estávamos a combinar saídas. A primeira de todas a uma exposição de pintura no Parque das Nações. Depois vieram os concertos em São Roque no Natal. As peças de teatro em Lisboa e em Almada. Ney Matogrosso no Coliseu. Saíamos para comer fora e conversar. Sobre o presente. Sobre o passado. Pouco sobre o futuro. Ajudou-me numa fase de transição da minha vida. Com a sua presença e com o seu apoio. Presente sem interferir.
Gostava de passear e prezava bastante a sua independência e individualidade. O ano passado falámos em ir a Castelo Branco. Dizia-me que era uma bela viagem de comboio. Já a havia feito e aliciava-me para o passeio. Veio o Verão e adiámos. Era uma zona demasiado quente. Veio o Outono e embrenhámo-nos nas actividades lectivas. Chegou o Inverno e não apetecia sair de casa. Seria este ano! De repente tudo se precipitou. Ruiram os projectos. Anularam-se as vontades. A notícia da doença derrubou-me. A ela, arrebatou-lhe o Futuro. Disse-lhe para não desistir. Disse-lhe para lutar. Quis insuflar-lhe alguma esperança. Ela queria viver e lutou. À sua maneira. Como pôde. Aceitou o que de início tinha negado. Regateou o Tempo ... mas com a Morte é inútil discutir.
Quando vou ver o meu e-mail cruzo-me com o seu endereço. Na agenda do telefone ainda está o seu número. No meu telemóvel estão registadas as últimas chamadas. Tão presente ainda na memória. Ainda me é difícil acreditar que já não existe.
Talvez no Outono vá a Castelo Branco. De comboio como planeámos um dia ...
Conheci-a há dois anos, mais coisa menos coisa. Cantávamos no Coro da Universidade Sénior de Almada. No final dos ensaios reunia-se um grupinho para o café. Dois dedos de conversa que aproximavam mais ainda quem queria aproximar-se.
Chamava a atenção pela postura algo superior no olhar. Atraía os olhares pelas cores que vestia não muito comuns numa mulher de meia idade. Facilmente me aproximei. Atraiu-me a sua maneira de falar, as conversas e os interesses próximos dos meus. Rapidamente estávamos a combinar saídas. A primeira de todas a uma exposição de pintura no Parque das Nações. Depois vieram os concertos em São Roque no Natal. As peças de teatro em Lisboa e em Almada. Ney Matogrosso no Coliseu. Saíamos para comer fora e conversar. Sobre o presente. Sobre o passado. Pouco sobre o futuro. Ajudou-me numa fase de transição da minha vida. Com a sua presença e com o seu apoio. Presente sem interferir.
Gostava de passear e prezava bastante a sua independência e individualidade. O ano passado falámos em ir a Castelo Branco. Dizia-me que era uma bela viagem de comboio. Já a havia feito e aliciava-me para o passeio. Veio o Verão e adiámos. Era uma zona demasiado quente. Veio o Outono e embrenhámo-nos nas actividades lectivas. Chegou o Inverno e não apetecia sair de casa. Seria este ano! De repente tudo se precipitou. Ruiram os projectos. Anularam-se as vontades. A notícia da doença derrubou-me. A ela, arrebatou-lhe o Futuro. Disse-lhe para não desistir. Disse-lhe para lutar. Quis insuflar-lhe alguma esperança. Ela queria viver e lutou. À sua maneira. Como pôde. Aceitou o que de início tinha negado. Regateou o Tempo ... mas com a Morte é inútil discutir.
Quando vou ver o meu e-mail cruzo-me com o seu endereço. Na agenda do telefone ainda está o seu número. No meu telemóvel estão registadas as últimas chamadas. Tão presente ainda na memória. Ainda me é difícil acreditar que já não existe.
Talvez no Outono vá a Castelo Branco. De comboio como planeámos um dia ...
20 Comments:
Sei o que sentes...
.... porque sei o que é...
Deixo-te um abraço muito apertado
Vai...vão!
Beijos
Vai... vai, que ela vai gostar.
A vida é bastarda!
Vais a Castelo Branco e Ela vai contigo. Sabes isso.
Bjs
Amiga, vai....a C. iria ficar orgulhosa de ti.
Um beijinho forte, pois perder um amigo é perder um pedaço de nós.
Ana Paula
Vim ver como estavas...
Fazes bem partilhar a tua tristeza, alivia a dor.
Sei exactamente o que estás a passar, aconteceu comigo há bem pouco tempo, com a minha amiga J.
Custa muito a separação, mas ficam as memórias: os momentos passados juntas, as cumplicidades.
Beijinhos
Infelizmente, sei avaliar bem a tua dor. Aconteceu comigo a três de Fevereiro. A minha amiga partiu repentinamente depois de termos estado a tomar café antes do almoço.44 anos e uma mão cheia de projectos!Tanta vontade de viver. Partiu para sempre nesse mesmo dia, às cinco da tarde, enquanto via televisão.O coração traiu-a.
Por isto e pela partida de outro ente querido , este tem sido o Verão do meu descontentamento.
Deixo-te beijinhos e um forte abraço.
Beijinhos
Temos o mesmo signo. Agosto.
Dulce, fui com triteza que li tão belo texto.
As amizades verdadeiras continuam no nosso coração.
Um dia ,quem sabe reencontres a tua amiga.
Um Xi coração
Fany
Um beijo grande, Dulce.
uma abraço quente e grandeeeeeeeee
jocas maradas de tempo...muito..
ola dulce
a isabel do sofiamar e o ze do viajante passaram la no meu sitio, leram o meu post e disseram que o tema era o mesmo da dulce.
e eu perguntei, quem é a dulce.
eis a dulce.
agora percebo o que eles queriam dizer.
bonito texto.parabens
beijinhos
Vai.
Se te apetecer ir, vai!
Vais com ela, sem dúvida, mas não tens de ir sozinha.
Naõ era uma viagem solitária que planeavam. Planeavam a partilha de algo bonito, a espetativa< das conversas, das refeições feitas em conjunto, de um olhar a duas para a paisagem que a janela do comboio oferece.
Não tens de ir sozinha.
É sempre assim. Também prometi levar alguém a Salamanca… mas não deu tempo.
Vai, acho que se vão divertir as duas.
Um beijo.
AMIGA DULCE
hoje...vim ler-te com aten�o!
Absorvo todas as tuas palavras e sentimento.
Que dizer?
Sabes que � dif�cil dizer algo.
Respeito o teu sofrimento.
Apenas um conselho: n�o adiar os planos...
Beijitos azuis (em homenagem ao meu neto que faz esta semana o seu 1� aninho de Vida).
Beijo Grande, um dizer gosto de ti como daqui até à lua.
Vai.
Descobri que não existe felicidade extrema na vida de um ser humano se ele não tiver um grande amor.
Já fui "Apenas Palavras" depois "A Minha Louca Paixão" e agora "O Fôlego de um Homem" no entanto os meus amigos, aqueles que se distinguem pela qualidade daquilo que escrevem nunca me serão indiferentes nem deixarei de os ler, pois a tua escrita dá-nos coisas lindas e maravilhosas, gosto dos teus textos e a forma como escreves, dentro do pouco tempo que tenho é um dos cantinhos que eu gosto de visitar.
Boa semana,
Beijo
O post está lindo, no final senti arrepios... pele de galinha nos meus braços.
Vá... a vida continua, muita força, e boa viagem para Castelo Branco.
Já li este teu post algumas vezes mas, até agora, não consegui comentá-lo; pois, quando chego a meio os meus olhos negam-se a continuar ficando rasos de água que vem do coração.
Perder alguém é algo que não tem justificação, nem definição. Só fica a saudade e as lembranças por cada canto que percorremos.
Por hoje, chega. Os meus últimos dias têm sido tortuosos, não vou continuar.
Força, amiga; e, cumpre o vosso desejo: vai a Castelo Branco.
Bjnh
Uma parte de nós vai também quando perdemos alguém de quem gostamos.
Foi uma viagem adiada, quando fores, ela, lá estará contigo...
Beijitos
irás... iremos... tu; eu ; os meninos; ou todos porque na singularidade a viagem a todos e a cada um nos foi prometida. Um dia. Em Outubro, o crepúsculo ou na Primavera, um amanhecer, um renascer, mais um passo... Irei, iremos. E tu?
Bjks.
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