quinta-feira, novembro 24, 2005

...

Eu não possuo o meu corpo - como posso eu possuir com ele? Eu não possuo a minha alma - como posso possuir com ela? Não compreendo o meu espírito - como através dele compreender?
Não possuímos nem o corpo nem uma verdade - nem sequer uma ilusão. Somos fantasmas de mentiras, sombras de ilusões, e a nossa vida é oca por fora e por dentro.
Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?
Mas sei que o que eu sinto, sinto-o eu.
Quando outrem possui esse corpo, possui nele o mesmo que eu? Não. Possui outra sensação.
Possuímos nós alguma coisa? Se nós não sabemos o que somos, como sabemos nós o que possuímos?
(...)
PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p.229

4 Comments:

Blogger wind said...

Extraordinária passagem. Dúvidas existenciais e ao mesmo tempo filosóficas. beijos

6:56 da tarde  
Blogger Su said...

"Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?"

... é isso mesmo, tantas perguntas, tantas dúvidas, tantas criticas, tantas sensações

gostei de ler
jocas maradas

9:58 da tarde  
Blogger JPD said...

O texto do Fernando Pessoa é uma delícia.
Não terei a veleidade de dizer e pensar que conheço o meu orpo e as prerrogativas que ele me confere para me conhecer melhor, para me emocionar desta ou daquela maneira.
Porem, sendo ele um certo território da nossa tangibilidade, um certo «eixo» onde se chega ou parte para experimentar emoções...dessa maneira, pode proporcionar a veleidade de nos iludirmos quanto a nós, aos outros, à relação que somos capazes de ter com os outros e daí extrair algo que possamos sentir como nosso...um frémito, uma alegria, uma desilusão, tantos e tantos sentimentos.
Bjs

10:05 da tarde  
Blogger AQUENATÓN said...

Dulce !

Viajamos entre um corpo e uma alma...
Somos parte do Universo.
Partícula ínfima do Cosmos, onde havemos de voltar em forma de Energia.

Assim o creio.

O "eu" o " agora " é efémero. Só o Amor prevalece.

Bji

8:54 da manhã  

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