domingo, novembro 27, 2005

Metamorfose

Para a minha alma eu queria uma torre como esta,
assim alta,
assim de névoa acompanhando o rio.

Estou tão longe da margem que as pessoas passam
e as luzes se reflectem na água.

E, contudo, a margem não pertence ao rio
nem o rio está em mim como a torre estaria
se eu a soubesse ter ...
uma luz desce o rio
gente passa e não sabe
que eu quero uma torre tão alta que as aves não passem
as nuvens não passem
tão alta tão alta
que a solidão possa tornar-se humana

SENA, Jorge de, "Quinze Poetas Portugueses do Século XX", Assírio & Alvim, Lisboa, 2004, p.127

6 Comments:

Blogger wind said...

Belo:) beijos

1:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Uma "Metamorfose", nas asas de um desejo. Boa selecção.

"...que eu quero uma torre tão alta que as aves não passem
as nuvens não passem
tão alta tão alta
que a solidão possa tornar-se humana"

Beijinhos.

4:44 da tarde  
Blogger AQUENATÓN said...

Dulce !

Que lindo ... obrigado por este poema.
Encheu-me a alma ... e a minha torre ficou tão alta, que a solidão parece ser só minha.

Bji

5:00 da tarde  
Blogger Wakewinha said...

A solidão não é humana? Eu sinto-a... E dói tanto! Isso faz de mim o quê?

Adorei as analogias...

Beijinho grande (agora que estou de volta à blogosfera)*

9:27 da tarde  
Blogger JPD said...

Não conhecia este poema do J Sena.
Pessoalmente, também acho mais apelativo uma torre a uma margem...Como seria ver repetida a ira do criador numa réplica de babel se a torre fosse por mim utilizada? É que dispor de uma torre faculta a possibilidade de ver de um plano superior, altera a poerspectiva, tambem pode tornar insaciável a ambição...Será? Fiquemos apenas com a ieia lúdica de subir e descer á torre, sozinho ou acompanhado e..., uma vez lá em cima, fruir!
Bjs

10:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A solidão de todos os dias, apesar de rodeados, de gente por todo o lado.

8:57 da manhã  

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