Introspecção
Já houve tempo em que me distanciei mais dos outros. Agora, em certos casos, quase lhes visto a pele. E como dói vestir-lhes a pele!
No escrever estou cada vez mais introspectiva. Procuro cada vez mais o pormenor. A descrição perfeita de uma paisagem. A impressão exacta que uma determinada côr representa para os meus olhos. O impacto perfeito de um som.
É cada vez mais uma escrita de sentidos onde cada palavra tem que descrever exactamente as minhas sensações. Nem mais ao lado, nem mais ou menos. Quantas vezes fecho os olhos enquanto relembro um determinado sentir e ali fico até encontrar o termo certo que o descreve! Quantas vezes me emociono! Quantas vezes as lágrimas correm imparáveis quando revivo um determinado momento que quero descrever, porque de novo estou dentro dele, tão intensamente o sinto!
Vejo hoje com outros olhos. Mais profundamente. Mais intensamente. Degusto o belo com um intenso prazer. Aprecio cada momento especial como se fosse o último, e sei-o porque o retorno à rotina de todos os dias me deixa entregue a uma intensa tristeza e a uma nostalgia que com dificuldade derrubo.
Apesar de não sentir ou sequer lamentar o avanço da idade vejo que ela me trouxe a compreensão de inúmeras coisas. Pequenas coisas, ... ou talvez grandes coisas sei lá!
Como tudo pode ser tão relativo!
Como tudo pode, num ápice, deixar de ser!