Passeio
O barco quase vazio percorria o Tejo lentamente. Apenas duas pessoas mais para além de nós, e essas dormitavam, ignorando a paisagem que se oferecia lá fora. O rio manso de um azul forte, pouco contrastava com o céu de um azul intenso aqui e ali esbranquiçado por um maravilhoso pincel mágico. No varandim onde nos encostávamos o sol era uma carícia morna que adoçava a pele enquanto o rio deslizava aos nossos pés. Ao fundo, uma ligeira bruma esbatia o horizonte mas na margem, Lisboa brilhava sob um sol cru que fazia realçar os contornos dos telhados encavalitados nas colinas. Na outra margem, inversamente, dissolvia-se a paisagem numa amálgama confusa de verde e luz. A ponte, vista deste ângulo, tornava-se numa construção imensa que nos aprisionava na nossa enorme pequenez. Passa sobre a nossa cabeça ocultando por momentos o sol, para logo em seguida a vermos distanciar-se lentamente redimensionando-nos de novo.
Lisboa aproxima-se a passos largos. A beira-rio acolhe-nos com os seus reflexos. A luz brilhante fica lá para trás e é ao verde dos jardins que nos rendemos agora. Os passos acomodam-se ao conforto dos pensamentos felizes e é lentamente que conquistamos a tarde que se avizinha. O Padrão dos Descobrimentos enfrenta o rio com a mesma ousadia com que antes enfrentou o passado glorioso ainda hoje guardado naquelas enormes pedras. Há gente que passeia por ali e outros que descansam no paredão aquecido pelo sol. Pequenos barcos desfilam entre as duas margens, as velas brancas enfunadas com orgulho.
Lá no cimo do monumento a vista alcança um maior horizonte. Apetece ficar e saborear cada margem. Apetece fechar os olhos e gozar a carícia deste sol doce de inverno. Apetece ... parar o relógio e ficar para sempre neste único-minuto-presente.
Abro os olhos e registo tudo. Guardo as cores, as sensações e o ruído da cidade. Gravo na pele o calor e a suave brisa que o rio envia. Gravo no olhar a luz e na memória o travo e os aromas.
Guardo tudo com cuidado para que mais tarde, as palavras surjam exactas ... claras ... e de novo o dia se recrie.
(Este passeio ao Padrão dos Descobrimentos teve como objectivo visitar a exposição de fotografia de Pedro Mota "Quatro Ventos Sete Mares", ali patente até 31 de Dezembro 2007, que recomendo.)
(Fotos minhas)
32 Comments:
... e o dia recriou-se, e o único minuto presente ficou registado nas fotografias que nos deixas.....
Obrigada, Dulce.
Beijo
Bonito texto, querida Dulce. Já tinha saudades de te ler. A tua escrita é suave, lê-se como quem pega num "origami" com admiração e ternura, pelo delicado trabalho nascido do sentimento. Transformas emoções em palavras leves, doces, que apetece não parar de ler porque criam, em si próprias, e por causa delas, um clima de harmonia e paz interior. Em redor de si, também.
Um beijo com carinho, minha amiga.
Sem sair de Santa Cruz fiz um maravilhoso passeio contigo.
Obrigado pela companhia.
Bjs.
Escrevi
Excelentes fotos e ainda melhor texto!
Tens um desafio no meu Blogue.
Dar-me-ás o prazer de aceitar?
Um abraço carinhoso ;))
Olá Dulce
Lindo!
E as palavras surgiram-te exactas, claras, com ritmo e cadência formando frases que me afectam, como se estivesse a ouvir música e, assim recriaste uns inesquecíveis momentos de um belo dia.
Adorei!
As fotos estão óptimas.
Abraço
Vou começando, aos poucos a deixar umas imagens alusivas ao Natal.
Estamos em contagem decrescente. Mas, vou sabendo de coisas, e gostaria de as divulgar, quem sabe, vos possa interessar alguma delas?
Daí que o título seja:
SABIA QUE...
Dulce
As fotos estão belas, o texto excelente. Como sempre, fico alucinada com a tua escrita...
FESTAS FELIZES.
Imagens fantásticas... um texto... como sempre, que me é difícil comentar.
Desculpa-me a ausência...
Bjks.
A anónima sou eu...
Um belíssimo texto para descrever um local sempre bonito.
Bem sublinhado, de resto, pelas tuas fotos.
Bfs, beijinhos.
;)
Apetece fechar os olhos e gozar a carícia deste sol doce de inverno
Foi o que fiz, deixei-me embalar nas ondinhas mansas das tuas palavras, voltei a ser pedrinha de beira Tejo e acho que até ganhei um pouco de cor...
Um beijinho
P.S. as fotografias são lindas!
Olá Dulce, excelentes fotos e texto magnífico.
Beijinhos.
Fernandinha
belo texto e belas fotos.
Feliz Natal para a Dulce e para todos os leitores
Um beijo
Sempre a mesma qualidade...
Beijinho
Viva, Dulce! Passo para desejar um Bom Natal, e saber se já publicaste. Estou ansioso.
Beijos
Passei para desejar-te um Feliz Natal, uma boa passagem de ano cheia de alegria paz e amor e são também votos meus de um Bom Ano de 2008.
Sem vir de barco, cheguei para te desejar um Feliz Natal.
Um beijo. Augusto
*
viagem´
do achamento de,
" quatro ventos sete mares"
*
A maravilhosa maneira como fazes o relato deste passeio, fez com que eu visualizasse ao pormenor toda a viagem, e... é claro, adorei!
Um beijo
Jorge
http://vagabundices.wordpress.com/
É um lugar poderoso, toda aquela envolvente de água e pedra!
Senti-me de novo lá, com as palavras e as tuas fotos de suavidade. Obg e beijinhos, Dulce. (Que o SOL te brilhe)
Uma escrita fluente, pintada por quem da arte percebe. Naveguei contigo, senti o cheiro do Tejo, o bulício da beira-rio mas não entrei no Padrão. Para grande pena minha.
Beijinhosssss
Bom Natal
Boa descrição, excelentes fotos.
Beijos
Qué surte tienes, tenéis todos los que vivís en Lisboa al disfrutar de ese tibio sol de invierno junto al Tajo.
Aquí nos han llegado los rigores del invierno, duro y áspero aunque se nos derrita el corazón.
Bellísimas tus fotografías como bellísimos y sentidos tus textos.
Te deseo, igualmente, unas felices fiestas navideñas junto a los tuyos que tanto te aman y necesitan.
Concha
Que o Natal, o verdadeiro, não o dos Centros Comerciais, possa constituir um momento de introspecção que nos leve a ser melhores e a entender os nossos Irmãos caminhantes desta terra.
Que una as famílias e os amigos e ajude a perceber o propósito da nossa vida aqui, nesta
Terra que é de todos mas que, infelizmente, só alguns usufrem a seu belo prazer.
Um abraço,
gostei deste passeio,,,,que acabei de dar ..contigo.....
jocas maradas...sempre
Olá Dulce
Venho desejar-te um Bom Natal.
Que reine a Alegria, a Paz e o Amor.
Grande Abraço
Um Santo Natal na companhia de quem te é querido e que o Ano 2008 te traga a felicidade que mereces.
Um beijo
Um registo sem saudade, guardam-se as memórias de um tempo sem horas
Desejo-te um Natal recheado de alegria, saúde, pão na mesa, paz..
Mil beijinhossss
QUE DELICIA DE CONTO... DEIXO UM ABRAÇO E DEIXO O DESEJO DE QUE O SEU NOVO ANO SEJA DE PAZ E AMOR.. UM BEIJINHO, ELL
Olá Dulce, passei para dizer-te que deixei uma prendinha no Fotos-Fernanda.
Muitos beijinhos,
Fernandinha
=) nunca sei o que dizer...dizes sempre tudo, e tão bem... =)
FELIZ NATAL!!!
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