Noite de música
Dia de concerto. Sala cheia. Algumas caras conhecidas (poucas). Costumo olhar por cima das cabeças, não me fixando nos rostos. Se alguém sobressai do esbatido, então fixo o olhar no objecto da minha atenção.
Mas dizia eu ... sala cheia. O começo, atrasado, como é já costume. Pela primeira vez nesta sala, obrigo-me a olhar os pormenores. Anfi-teatro bastante inclinado. Estofos vermelhos, confortáveis, mas não demasiado.
No palco, uma cacofonia de sons. Uma desordem visual e auditiva. Afinam-se os instrumentos. Os que já o fizeram conversam baixinho entre si. Aos poucos o ruído vai diminuindo, até que se suspende de todo. Baixam as luzes. Aprumam-se os elementos da orquestra nos seus lugares. As mulheres, de negro vestido. Brilham os instrumentos na expectativa do início. Suspendem-se os gestos, abafando o nervosismo latente. O maestro entra e é saudado pelos seus e pela assistência.
Faz-se silêncio total e dá-se o lugar à música.
Orquestra Sinfónica Portuguesa do Teatro Nacional de São Carlos. É deles que falo.
Gosto de quem se faz prolongamento do instrumento que toca. Gosto quando o intérprete não executa apenas o que lê na pauta, mas se deixa penetrar pela melodia, se deixa ganhar pelo ritmo, se deixa envolver ele próprio, naquele diálogo íntimo entre o instrumento e a música. Gosto que se flexibilize, que se esqueça de si próprio e reflicta em cada pedaço de si, cada nota arrancada e cada "nuance".
Isso aconteceu com dois elementos da orquestra - ambos ligados à percussão - que nos momentos em que intervieram, realizaram uma simbiose perfeita com o seu instrumento.
Ainda me resta falar dos compositores e temas interpretados. Arnold Schonberg com o trecho "O Sobrevivente de Varsóvia" onde pontuou igualmente o Coro do Teatro Nacional de S.Carlos. "Em Louvor da Paz" de Fernando Lopes-Graça e "Leningrado" de Dimitri Shostakovich.
O maestro, Peter Rundel.
O local: Teatro Municipal de Almada - o Teatro Azul.
Mas dizia eu ... sala cheia. O começo, atrasado, como é já costume. Pela primeira vez nesta sala, obrigo-me a olhar os pormenores. Anfi-teatro bastante inclinado. Estofos vermelhos, confortáveis, mas não demasiado.
No palco, uma cacofonia de sons. Uma desordem visual e auditiva. Afinam-se os instrumentos. Os que já o fizeram conversam baixinho entre si. Aos poucos o ruído vai diminuindo, até que se suspende de todo. Baixam as luzes. Aprumam-se os elementos da orquestra nos seus lugares. As mulheres, de negro vestido. Brilham os instrumentos na expectativa do início. Suspendem-se os gestos, abafando o nervosismo latente. O maestro entra e é saudado pelos seus e pela assistência.
Faz-se silêncio total e dá-se o lugar à música.
Orquestra Sinfónica Portuguesa do Teatro Nacional de São Carlos. É deles que falo.
Gosto de quem se faz prolongamento do instrumento que toca. Gosto quando o intérprete não executa apenas o que lê na pauta, mas se deixa penetrar pela melodia, se deixa ganhar pelo ritmo, se deixa envolver ele próprio, naquele diálogo íntimo entre o instrumento e a música. Gosto que se flexibilize, que se esqueça de si próprio e reflicta em cada pedaço de si, cada nota arrancada e cada "nuance".
Isso aconteceu com dois elementos da orquestra - ambos ligados à percussão - que nos momentos em que intervieram, realizaram uma simbiose perfeita com o seu instrumento.
Ainda me resta falar dos compositores e temas interpretados. Arnold Schonberg com o trecho "O Sobrevivente de Varsóvia" onde pontuou igualmente o Coro do Teatro Nacional de S.Carlos. "Em Louvor da Paz" de Fernando Lopes-Graça e "Leningrado" de Dimitri Shostakovich.
O maestro, Peter Rundel.
O local: Teatro Municipal de Almada - o Teatro Azul.
12 Comments:
Que Privilegiada, Dulce.
Que Privilegiada, Almada.
Com a dimensão da sua Presidente.
(Ainda o é)
Minha Almada, de 1968 a 1976.
E da minha Lena. onde estás? Foi triste o nosso Fado...
O que te fizeram Varsóvia!!!
Um meio Judeu, meio louco, exterminou milhões, da sua raça, na defesa, da pureza ariana, em que, morfologicamente não tinha nada de nada.
Leningrado, determinação de um certo povo russo.
Staline, não esteve a altura, posteriormente !!! opinião, só.
Lopes Graça:
Acordai.
Avordai.
Homens que Dormis. ((Actual ?))
Letra dele... J. Gomes Ferreiro !
Amo o que sinto.
È um labirinto
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Porque não minto.
Sou um laborinto.
Como te invejo, Dulce.
poetaeusou(huuummmmeeeee...)
Ressalvo.
Avordai»acordai.
Ferreiro»Ferreira.
Laborinto»Labirinto
Mais ???
poetaeusou(roidodeinveja)
A música é uma das mais belas faculdades do homem.
cada instrumento, a sua função, para que a melodia seja alcançada e se torne estética.
Bjs
Sinto e gosto do mesmo que tu.
Quem toca, tem de sentir. Estava a ler-te e veio-me logo à cabeça Carlos Paredes.
Como ele, noutro estilo de música há alguns, e adoro ver isso:)
Também o que descreveste no princípio é engraçado, do barulho da afinação ao silêncio total, para começar o concerto, parece que uma pessoa é transportada para outra dimensão:)
Caramba fala-se de música e não páro:)))
beijos
ALMADA: CIDADE COMPLETA. ATÉ HOUVE UM ENCONTRO INTERNACIONAL DE COMUNISTAS ESTE FIM DE SEMANA.
(DULCE:TEM CUIDADO. ISTO ANDA A GUINAR MUITO PARA A DIREITA... )
Real esta forma de descrever o "antes"...
Depois, os pormenores da performance dos músicos...
Estive a "ouvir" com toda a atenção.
Gostei de ter 'ouvido' esta espectacular música através das tuas palavras! Beijos, obrigada pelo carinho que vais deixando no meu espaço.
Tem graça que praticamente todos os fins de semana vou ao teatro de almada assistir a peças de teatro, concertos ou dança como foi o caso de 6a f passada. Mas na semana anterior assisti a um concerto fantástico do Pedro Caldeira Cabral, quiçá também lá esteve!
É bom as coisas de qualidade que este novo teatro nos tem trazido, e tenho pena de não ter ido tb assistir ao concerto que tão bem descreve neste post.
Um abraço
TD
Adoro concertos de música dita "eurodita" não sei bem o porquê desta classificação, quando eu só a devido em boa ou má conforme gosto ou não.
Tenho muitas saudades dos concertos que ouvia no Convento do Carmo, aos sábados à tarde, executados pela orquestra da GNR, quando era muito jovem.
Assistir a um concerto é como purificar a alma.
Um beijo. Augusto
Que sorte a tua... e eu quase sempre metida nesta redoma, sem sair...
Falar de música... ouvir música...
é um dos meus melhores prazesres...
Um abraço e boa semana ;)
Estava a ler este texto e como acontece quase sempre quando te leio, fui tirar uma memória ao meu baú: estava numa das primeiras filas da plateia do S. Carlos para assistir a uma ópera. Quando a orquestra começou a "atacar" a Abertura reparei que uma das violoncelistas estava a chorar. E não parou de o fazer quase todo o espectáculo. Eu não sei o que se passou no palco porque estive todo o tempo a olhar para ela que tocava nas alturas certas com os outros violoncelistas. Nas pausas mais prolongadas, assoava-se discretamente. Deve ter sido um dia horrível para se manter assim neste estado tanto tempo e ser obrigada a estar presente no seu trabalho. Perguntarás qual o propósito desta lembrança. Nem eu sei bem. Talvez por te referires a esta sala de espectáculos que frequentei muitas vezes quando morava aí perto. Talvez por o teu tipo de escrita ter o condão de acordar partes do passado de cada um. Beijinho
F O S T E A O T E A T R O ?
ESTOU A IMAGINAR-TE SENTADA NO TEU LUGAR MUITO APRUMADINHA E LINDA COMO SEMPRE.
e GORA PERGUNTAS TU! ALEX PORQUE ESCREVES EM MAIúSCULAS?
Sabes amiga, no palco estava uma bslburdia de instrumentos e gente barulhenta que só assim me consegues ouvir. Mas adorei a descrição de uma ida a um teatro, algures perto de mim uma orquestra, centenas de pessoas ali sentadas e no meio de tanta gente uma pessoa, uma cara que tão bem conheço. E sabendo-te lá, sei que posso ter poupado o dinheiro! Tu descreves melhor que se eu la estivesse e visse com os proprios olhos. Assim estive ká com os sentidos depois de te ler neste post.
Beijinhos
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