domingo, setembro 24, 2006

A propósito de Solidão

"Sempre que me aventuro pelos corredores do metro sinto-me rodeada de pessoas sós. Impressiona-me o paradoxo: multidões de solitários. Movemo-nos entre gente ansiosa por uma simples palavra de afecto; mulheres que aprendem a miar para poderem conversar com o gato.
(...) Vivemos, literalmente, uns em cima dos outros, em prédios de apartamentos, mas nunca fomos tão estranhos uns aos outros quanto agora. Podemos ouvir todas as manhãs os vizinhos a cantar enquanto tomam duche, podemos ouvi-los a discutir ou a fazer amor, sem, todavia, sabermos que rosto têm."

Faíza Hayat, Crónica, Conversas com o espelho, in XIS, suplemento do jornal Público de 23/09/2006

Ainda a propósito da Solidão e no mesmo suplemento:

"A solidão é hoje um dos medos mais sentidos nas nossas sociedades. Medo de vivermos sós, de morrermos sós, de não termos ninguém que nos acompanhe. Facilmente criamos a ilusão de que estarmos fisicamente perto de alguém, nos vai colmatar uma solidão indesejada. E este é, no entanto, um dos maiores privilégios de que alguém pode gozar: o de estar sózinho. Voluntariamente, entenda-se. Porque a solidão imposta é uma coisa duríssima, difícil de aceitar e de viver com. Porque não procurada, não é consciente nem libertadora.
Estarmos sós, quando o procuramos, não sendo uma imposição, permite-nos um confronto mais real com o nosso eu mais escondido. Porque apenas sozinhos nos podemos confrontar connosco próprios, com o nosso eu mais verdadeiro. É na solidão procurada que nos começamos a conhecer. Porque paramos. E é na paragem, no silêncio, que conseguimos ver melhor as coisas."

Rita Lencastre de Sousa, "A solidão procurada" in XIS suplemento do jornal Público, 23/09/2006

Duas abordagens do mesmo tema mas sob perspectivas diferentes.

Deliciei-me com a primeira crónica que costumo procurar em primeiro lugar no jornal de sábado. A imagem da mulher que aprende a miar para poder conversar com o gato acho que é bem o retrato de uma solidão que se quer contrariar a todo o custo.
Quanto ao segundo texto que valeria a pena ler na íntegra (ou então é apenas a mim que diz alguma coisa ...) retirei apenas este pequeno excerto. Porque me diz muito. Porque entendo que é realmente assim. Porque a solidão pode ser uma mais-valia nas nossas vidas. Saber usá-la e aproveitá-la é algo que muitos não conseguem ... ou não sabem.

9 Comments:

Blogger wind said...

Ai ai Dulce, noutra encarnação devemos ter sido almas gémeas!:)
Nem preciso escrever mais nada que percebes com certeza:)
beijos

2:17 da tarde  
Blogger Aldina Duarte said...

A maior solidão para mim é ter um mundo interior de afectos muito reduzido, pois acredito que para ter é preciso ser, quando se trata de realidades tão concretas como é o caso da solidão.

até sempre!

10:57 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Tranformar a solidão imposta em solidão procurada é o segredo! Beijos.

9:36 da manhã  
Blogger axadresado said...

exelente post, como sempre.
bjs

10:49 da manhã  
Blogger 100smog lda. said...

oláaaaaaaaaaaaaa parabens mais uma vez pela escrita!!! ;9 é sempre uma referencia lol de qq forma vamos passando para ver o q se passa ;)

1:09 da tarde  
Blogger Ana Fundo said...

Mas agora já não existe solidão...com a minha afilhada Shibiuza :-)))))
Jokinhas
Adorei o convite
Ana

2:23 da tarde  
Blogger JPD said...

Eu nem sei bem se isto que irei acrescentar não constitui um disparate, mas lá vai: o nosso quotidiano está muito dependente das emoções e sentimentos que pautam a nossa acção, o nosso pensamento, o nosso bem estar, as nossas inquietações.
Uma emoção poderá ser mais partilhável; um sentimento quando é a ressaca de uma emoção pode ser uma tremendo estado de isolamento por nos privar da capacidade de comunicar, de nos emocionarmos com semelhantes, com a natureza, tudo que vive e pulsa à nossa volta.
Estar só não é problema se jamais se transformar em solidaão onde já não sentimento nem emoção mas turbilhão.
E não acrescento mais nada para que isto não pareça maior trambolhão
Bjs

10:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Claro que gostava de pertencer a classe dos animais não racionais, assim não tinha de ficar assim ao ler-te, assim sem saber bem ao certo o que dizer, como os demais que falam com cuidado, e outro com medo te apoiam sem saberem ao certo o que queres dizer, eu parei de pensar, penso as prestações quando necessito mesmo, esta a perceber o que quero dizer? e mesmo assim falando pouco e pouco dizendo, continuo a ser muito respeitado, tão respeitado que parece que me evitam. Um falcao... isso sim, isso era vida, sem ter de pensar o que ando aqui a fazer, julgo que inteligentemente devemos concluir sempre, que vivemos para amar e ser amados, mas nao devemos pensar nisso para nao estragar, hora como vê este é o problema de toda a humanidade não sabem para que servem, eu espero ter familia um dia um sucessor no minimo, ser amado, mas isto não é objectivo, isto é facto consumado como o respirar, o ser humano precisa de objectivos, constituir familia não é objectivo, não é sequer um meio, nem um fim, realmente as gentes de hoje, olham-se sem se verem. A solidão é salutar quem não a percebe ainda não atingiu... os animais irracionais desenvolvem o corpo e as capacidades todas que tem em simultaneo, porra ser superior o ser humano? então porque? os menos inteligentes sao felizes os mais são tristes, e o corpo e desenvolve sem que necessariamente se desenvolvam as capacidades maximas do ser em questão o humano... xiça, éra arcaica a nossa ( tendo em conta que a energia será em breve não poluente, e a vida na terra será longa e capaz de um dia evoluir) tenho pena de ser um primata. Beijinhos e obrigado por me estraires estas coisas.

3:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

eu o que queria ser falcao e, que queria pertencer outra cadeia alimentar, que julgo esta humanidade ainda primata, fico aberto a qualquer coisa seja lá o que for atraves do email p_helder@hotmail.com

3:51 da manhã  

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