A propósito de Solidão
"Sempre que me aventuro pelos corredores do metro sinto-me rodeada de pessoas sós. Impressiona-me o paradoxo: multidões de solitários. Movemo-nos entre gente ansiosa por uma simples palavra de afecto; mulheres que aprendem a miar para poderem conversar com o gato.
(...) Vivemos, literalmente, uns em cima dos outros, em prédios de apartamentos, mas nunca fomos tão estranhos uns aos outros quanto agora. Podemos ouvir todas as manhãs os vizinhos a cantar enquanto tomam duche, podemos ouvi-los a discutir ou a fazer amor, sem, todavia, sabermos que rosto têm."
Faíza Hayat, Crónica, Conversas com o espelho, in XIS, suplemento do jornal Público de 23/09/2006
Ainda a propósito da Solidão e no mesmo suplemento:
"A solidão é hoje um dos medos mais sentidos nas nossas sociedades. Medo de vivermos sós, de morrermos sós, de não termos ninguém que nos acompanhe. Facilmente criamos a ilusão de que estarmos fisicamente perto de alguém, nos vai colmatar uma solidão indesejada. E este é, no entanto, um dos maiores privilégios de que alguém pode gozar: o de estar sózinho. Voluntariamente, entenda-se. Porque a solidão imposta é uma coisa duríssima, difícil de aceitar e de viver com. Porque não procurada, não é consciente nem libertadora.
Estarmos sós, quando o procuramos, não sendo uma imposição, permite-nos um confronto mais real com o nosso eu mais escondido. Porque apenas sozinhos nos podemos confrontar connosco próprios, com o nosso eu mais verdadeiro. É na solidão procurada que nos começamos a conhecer. Porque paramos. E é na paragem, no silêncio, que conseguimos ver melhor as coisas."
Rita Lencastre de Sousa, "A solidão procurada" in XIS suplemento do jornal Público, 23/09/2006
Duas abordagens do mesmo tema mas sob perspectivas diferentes.
Deliciei-me com a primeira crónica que costumo procurar em primeiro lugar no jornal de sábado. A imagem da mulher que aprende a miar para poder conversar com o gato acho que é bem o retrato de uma solidão que se quer contrariar a todo o custo.
Quanto ao segundo texto que valeria a pena ler na íntegra (ou então é apenas a mim que diz alguma coisa ...) retirei apenas este pequeno excerto. Porque me diz muito. Porque entendo que é realmente assim. Porque a solidão pode ser uma mais-valia nas nossas vidas. Saber usá-la e aproveitá-la é algo que muitos não conseguem ... ou não sabem.
(...) Vivemos, literalmente, uns em cima dos outros, em prédios de apartamentos, mas nunca fomos tão estranhos uns aos outros quanto agora. Podemos ouvir todas as manhãs os vizinhos a cantar enquanto tomam duche, podemos ouvi-los a discutir ou a fazer amor, sem, todavia, sabermos que rosto têm."
Faíza Hayat, Crónica, Conversas com o espelho, in XIS, suplemento do jornal Público de 23/09/2006
Ainda a propósito da Solidão e no mesmo suplemento:
"A solidão é hoje um dos medos mais sentidos nas nossas sociedades. Medo de vivermos sós, de morrermos sós, de não termos ninguém que nos acompanhe. Facilmente criamos a ilusão de que estarmos fisicamente perto de alguém, nos vai colmatar uma solidão indesejada. E este é, no entanto, um dos maiores privilégios de que alguém pode gozar: o de estar sózinho. Voluntariamente, entenda-se. Porque a solidão imposta é uma coisa duríssima, difícil de aceitar e de viver com. Porque não procurada, não é consciente nem libertadora.
Estarmos sós, quando o procuramos, não sendo uma imposição, permite-nos um confronto mais real com o nosso eu mais escondido. Porque apenas sozinhos nos podemos confrontar connosco próprios, com o nosso eu mais verdadeiro. É na solidão procurada que nos começamos a conhecer. Porque paramos. E é na paragem, no silêncio, que conseguimos ver melhor as coisas."
Rita Lencastre de Sousa, "A solidão procurada" in XIS suplemento do jornal Público, 23/09/2006
Duas abordagens do mesmo tema mas sob perspectivas diferentes.
Deliciei-me com a primeira crónica que costumo procurar em primeiro lugar no jornal de sábado. A imagem da mulher que aprende a miar para poder conversar com o gato acho que é bem o retrato de uma solidão que se quer contrariar a todo o custo.
Quanto ao segundo texto que valeria a pena ler na íntegra (ou então é apenas a mim que diz alguma coisa ...) retirei apenas este pequeno excerto. Porque me diz muito. Porque entendo que é realmente assim. Porque a solidão pode ser uma mais-valia nas nossas vidas. Saber usá-la e aproveitá-la é algo que muitos não conseguem ... ou não sabem.
9 Comments:
Ai ai Dulce, noutra encarnação devemos ter sido almas gémeas!:)
Nem preciso escrever mais nada que percebes com certeza:)
beijos
A maior solidão para mim é ter um mundo interior de afectos muito reduzido, pois acredito que para ter é preciso ser, quando se trata de realidades tão concretas como é o caso da solidão.
até sempre!
Tranformar a solidão imposta em solidão procurada é o segredo! Beijos.
exelente post, como sempre.
bjs
oláaaaaaaaaaaaaa parabens mais uma vez pela escrita!!! ;9 é sempre uma referencia lol de qq forma vamos passando para ver o q se passa ;)
Mas agora já não existe solidão...com a minha afilhada Shibiuza :-)))))
Jokinhas
Adorei o convite
Ana
Eu nem sei bem se isto que irei acrescentar não constitui um disparate, mas lá vai: o nosso quotidiano está muito dependente das emoções e sentimentos que pautam a nossa acção, o nosso pensamento, o nosso bem estar, as nossas inquietações.
Uma emoção poderá ser mais partilhável; um sentimento quando é a ressaca de uma emoção pode ser uma tremendo estado de isolamento por nos privar da capacidade de comunicar, de nos emocionarmos com semelhantes, com a natureza, tudo que vive e pulsa à nossa volta.
Estar só não é problema se jamais se transformar em solidaão onde já não sentimento nem emoção mas turbilhão.
E não acrescento mais nada para que isto não pareça maior trambolhão
Bjs
Claro que gostava de pertencer a classe dos animais não racionais, assim não tinha de ficar assim ao ler-te, assim sem saber bem ao certo o que dizer, como os demais que falam com cuidado, e outro com medo te apoiam sem saberem ao certo o que queres dizer, eu parei de pensar, penso as prestações quando necessito mesmo, esta a perceber o que quero dizer? e mesmo assim falando pouco e pouco dizendo, continuo a ser muito respeitado, tão respeitado que parece que me evitam. Um falcao... isso sim, isso era vida, sem ter de pensar o que ando aqui a fazer, julgo que inteligentemente devemos concluir sempre, que vivemos para amar e ser amados, mas nao devemos pensar nisso para nao estragar, hora como vê este é o problema de toda a humanidade não sabem para que servem, eu espero ter familia um dia um sucessor no minimo, ser amado, mas isto não é objectivo, isto é facto consumado como o respirar, o ser humano precisa de objectivos, constituir familia não é objectivo, não é sequer um meio, nem um fim, realmente as gentes de hoje, olham-se sem se verem. A solidão é salutar quem não a percebe ainda não atingiu... os animais irracionais desenvolvem o corpo e as capacidades todas que tem em simultaneo, porra ser superior o ser humano? então porque? os menos inteligentes sao felizes os mais são tristes, e o corpo e desenvolve sem que necessariamente se desenvolvam as capacidades maximas do ser em questão o humano... xiça, éra arcaica a nossa ( tendo em conta que a energia será em breve não poluente, e a vida na terra será longa e capaz de um dia evoluir) tenho pena de ser um primata. Beijinhos e obrigado por me estraires estas coisas.
eu o que queria ser falcao e, que queria pertencer outra cadeia alimentar, que julgo esta humanidade ainda primata, fico aberto a qualquer coisa seja lá o que for atraves do email p_helder@hotmail.com
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