quinta-feira, julho 13, 2006

A Vila


Aquele percurso, fi-lo durante quase vinte anos ...
Hoje voltei.
Registar as diferenças de nada serve. São tantas e tamanhas que quase não reconheço certos locais. Noutros subsistem ainda alguns traços do passado - uma rua que reconheço ou um prédio agora em ruínas. Também os comboios hoje são diferentes. Mais frescos, e dizem que bastante menos seguros. As estações - diferentes também. Umas completamente modernizadas - todas à imagem e semelhança da anterior. Noutras ainda descortino o velho edifício com o antigo relógio verde na parede.
Há quase trinta anos que ali não passava...
Hoje voltei.
A Vila de Sintra continua bela como sempre foi. Um pouco mais caótica talvez. Vejo-a agora de uma outra forma. Os olhos de hoje, apesar de os mesmos, olham com mais pormenor. Observam de outra maneira. Calcorreei velhos caminhos. Deixei perder o olhar em antigas paisagens. Retemperei as forças no verde que me envolvia.
O Castelo pareceu-me hoje mais perto. Tâo sobranceiro à Vila. Dominador.
Há locais que não mudaram.
(Apenas eu mudei.)
Permanecem para que eu os reconheça quando os procuro nos arquivos da memória. Outros, descobri-os hoje pela primeira vez.
Passeei pela Volta do Duche - uma estrada arborizada e fresca que serpenteia até ao Palácio da Vila. Deixei-me acolher pela frescura daquelas árvores centenárias que me lembram ainda outras árvores, outra frescura. Deixei-me seduzir pelo aroma das inúmeras flores que brotam da paisagem e no verde encontrei a tranquilidade e a paz que me acalmam e me fazem feliz.
De máquina fotográfica na mão procurei os melhores ângulos, o melhor enquadramento - aquele que os meus olhos primeiro registam. Sentei-me um pouco num muro baixo e aproveitei para desfrutar de toda a beleza envolvente.
Uma da tarde. O sol ía a pique. Em todas as sombras alguém descansava e também eu as procurava para me refrescar.
Este percurso nunca o havia feito. Pelo menos, não com estes olhos. Pelo menos, nunca só.
Hoje voltei.

(Foto minha)

6 Comments:

Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Hola Dulce.

Es grato, triste a la vez también, volver a un lugar que nos fue familiar.

Los ojos son los mismos ojos, pero no vemos las cosas de la misma forma. El tiempo hace que alcancemos una nueva perspectiva donde se mezclan los paisajes antañaones, sus cambios, nuestra vida, cambiante tambien y la propia evolución. Todo ello nos envuelve y nos emociona un poco. Besos para ti.

5:42 da tarde  
Blogger wind said...

Estás a redescobrir a beleza de tudo.
Sintra é bela e misteriosa, o seu verde é efectivamente tão relaxante que é um bálsamo para a alma.
Hoje voltaste e...vimos, sentimos muito bem como o fizeste:))))
beijos

6:12 da tarde  
Blogger wind said...

Descukpa, esqueci de escrever que a música da Kate Bush é espectacular:) bjs

6:16 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Pela fotografia reconheci Sintra. Vou lá várias vezes. Foi lá, que um dia visitei a minha Avó no Hospital, que penso não existe agora, pelo menos da maneira que eu o conheci (!) e ela morria no dia seguinte...Memórias. Beijos.

6:53 da tarde  
Blogger lena said...

Sintra é realmente linda e toca-nos

o teu dia devia ter sido excelente, Sintra encanta e é misteriosa

lembrei-me e deixo-te:

EM SINTRA

As águas maravilham-se entre os lábios
e a fala, rápidos
em Sintra espelhos surgem como pássaros,
a luz de que se erguem acontece às águas,
à flor da fala
divide os lábios e a ternura. Da linguagem
rebentam folhas duma cor incómoda, as de que
maravilhado de água surges entre
livros, algum crime, um
menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues
equívoca a luz depois. Rápidos
espelhos então cercam-te explodindo os pássaros.

Luís Miguel Nava
Películas (1979)
in Poesia Completa 1979-1994
Lisboa, Dom Quixote, 2002

um beijo para ti Dulce

lena

9:02 da tarde  
Blogger Su said...

hoje voltei....atraves das tuas palavras...eu que amo sintra....
jocas maradas de verdes

1:06 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home