Contou-me ...
A sua história começava assim: “naquele primeiro dia”...
Tudo tem um primeiro dia – um começo. Aquele não fora o começo, mas fora o primeiro dia. O primeiro em que estiveram juntos.
A sua história começara antes contou-me, alguns meses antes. Começara por ser outra coisa disse-me, um encontro de palavras - um encontro de desejos e de sonhos.
Ouço-a contar a sua história e devaneio um pouco. Perco-me na observação de um rosto e de umas mãos que acompanham a narrativa. Leves. Fluente nas palavras. Os olhos perdidos no espaço à minha volta como que se buscasse a imagem do que relatava. Raramente me olhando nos olhos.
“Naquele primeiro dia” dizia-me, os sonhos desceram à terra - construiram o que o desejo apenas criara.
“Aquele primeiro dia” contou-me, amanheceu a sorrir. bem cedo. Estava fresco. o Inverno estava a meio. as nuvens toldavam o sol, mas não o sorriso.
“Naquele primeiro dia” contou-me, tudo tinha sido calculado ao minuto. Tudo, menos a emoção. Tudo, menos aquele galope que em cada minuto crescia no seu peito.
Contou-me que a viagem que a levara ao seu destino final, a fizera entre o olhar perdido na paisagem e a tentativa de leitura do jornal. Qualquer das coisas feitas pela metade. Pela paisagem, deixava que o olhar planasse, lembrando-se apenas que o verde se intercalava com o castanho e o cinzento. Do jornal, as linhas eram meros conjuntos de letras alinhadas que os olhos saltavam sem ver.
Assim chegou ao seu destino. À hora marcada mas com anos de atraso, contou-me.
“Naquele primeiro dia” vestira uma roupa simples como era seu hábito. O cabelo salpicado de prata emoldurava um rosto igual a tantos outros. O coração, esse saltava do peito à medida que percorria os últimos metros. A cada passo mais perto de quem a esperava. De quem ela esperava. O seu olhar antes disperso, debruçava-se agora atento em cada rosto. Procurava o dono das palavras. Contou-me que avançara devagar contrariando a pressa interior que sentia. Obrigando-se a passos cadenciados e a uma expressão calma. Tudo se alterou quando o viu. Era ele. Era mesmo ele - o dono das palavras. A pessoa que esperava há tanto tempo. Aguardava com as mãos nos bolsos e os olhos espreitando acima dos óculos. Formou-se o sorriso. As pernas tremiam de tanta excitação.
“Naquele primeiro dia” contou-me, os seus lábios encontraram-se conforme esperado. Tímidos ainda. Discretos. Uma promessa cumprida. O primeiro beijo de muitos que viriam depois.
Alinhados os passos caminharam lado a lado.
As palavras atropelaram-se, contou-me. Queria dar-lhe o braço ou pegar-lhe na mão. Queria estreitá-lo num abraço, tocar-lhe no rosto. A vontade que tinha era de parar ali mesmo, e frente a frente, olhar demoradamente aquele rosto tão esperado. Senti-lo com o olhar, vê-lo com a ponta dos dedos, mergulhar naqueles olhos claros – um mar de promessas a cumprir – mas isso ficaria para mais tarde, contou-me. Limitados ambos por fortes constrangimentos, guardaram as emoções e calaram as vontades.
As mãos procuraram-se (ou encontraram-se, ela não sabe bem dizer ...) e assim ficaram sentados depois. Os olhos não se cansavam de se buscar e as palavras preenchiam doces silêncios.
Quando no meio das flores o carro parou, soube que o teria mais próximo. Contou-me que naquele primeiro dia as mãos foram tímidas e os beijos doces. Contou-me que os seus olhos claros brilhavam cada vez que pousavam nos seus. À medida que a amava. Contou-me que a sua língua era macia e quente e prometia sonhos e loucuras. Que as suas mãos eram meigas e curiosas.
Contou-me que naquele primeiro dia os seus sonhos se tornaram realidade.
Naquele primeiro dia, a sua vida recomeçou.
A.
Tudo tem um primeiro dia – um começo. Aquele não fora o começo, mas fora o primeiro dia. O primeiro em que estiveram juntos.
A sua história começara antes contou-me, alguns meses antes. Começara por ser outra coisa disse-me, um encontro de palavras - um encontro de desejos e de sonhos.
Ouço-a contar a sua história e devaneio um pouco. Perco-me na observação de um rosto e de umas mãos que acompanham a narrativa. Leves. Fluente nas palavras. Os olhos perdidos no espaço à minha volta como que se buscasse a imagem do que relatava. Raramente me olhando nos olhos.
“Naquele primeiro dia” dizia-me, os sonhos desceram à terra - construiram o que o desejo apenas criara.
“Aquele primeiro dia” contou-me, amanheceu a sorrir. bem cedo. Estava fresco. o Inverno estava a meio. as nuvens toldavam o sol, mas não o sorriso.
“Naquele primeiro dia” contou-me, tudo tinha sido calculado ao minuto. Tudo, menos a emoção. Tudo, menos aquele galope que em cada minuto crescia no seu peito.
Contou-me que a viagem que a levara ao seu destino final, a fizera entre o olhar perdido na paisagem e a tentativa de leitura do jornal. Qualquer das coisas feitas pela metade. Pela paisagem, deixava que o olhar planasse, lembrando-se apenas que o verde se intercalava com o castanho e o cinzento. Do jornal, as linhas eram meros conjuntos de letras alinhadas que os olhos saltavam sem ver.
Assim chegou ao seu destino. À hora marcada mas com anos de atraso, contou-me.
“Naquele primeiro dia” vestira uma roupa simples como era seu hábito. O cabelo salpicado de prata emoldurava um rosto igual a tantos outros. O coração, esse saltava do peito à medida que percorria os últimos metros. A cada passo mais perto de quem a esperava. De quem ela esperava. O seu olhar antes disperso, debruçava-se agora atento em cada rosto. Procurava o dono das palavras. Contou-me que avançara devagar contrariando a pressa interior que sentia. Obrigando-se a passos cadenciados e a uma expressão calma. Tudo se alterou quando o viu. Era ele. Era mesmo ele - o dono das palavras. A pessoa que esperava há tanto tempo. Aguardava com as mãos nos bolsos e os olhos espreitando acima dos óculos. Formou-se o sorriso. As pernas tremiam de tanta excitação.
“Naquele primeiro dia” contou-me, os seus lábios encontraram-se conforme esperado. Tímidos ainda. Discretos. Uma promessa cumprida. O primeiro beijo de muitos que viriam depois.
Alinhados os passos caminharam lado a lado.
As palavras atropelaram-se, contou-me. Queria dar-lhe o braço ou pegar-lhe na mão. Queria estreitá-lo num abraço, tocar-lhe no rosto. A vontade que tinha era de parar ali mesmo, e frente a frente, olhar demoradamente aquele rosto tão esperado. Senti-lo com o olhar, vê-lo com a ponta dos dedos, mergulhar naqueles olhos claros – um mar de promessas a cumprir – mas isso ficaria para mais tarde, contou-me. Limitados ambos por fortes constrangimentos, guardaram as emoções e calaram as vontades.
As mãos procuraram-se (ou encontraram-se, ela não sabe bem dizer ...) e assim ficaram sentados depois. Os olhos não se cansavam de se buscar e as palavras preenchiam doces silêncios.
Quando no meio das flores o carro parou, soube que o teria mais próximo. Contou-me que naquele primeiro dia as mãos foram tímidas e os beijos doces. Contou-me que os seus olhos claros brilhavam cada vez que pousavam nos seus. À medida que a amava. Contou-me que a sua língua era macia e quente e prometia sonhos e loucuras. Que as suas mãos eram meigas e curiosas.
Contou-me que naquele primeiro dia os seus sonhos se tornaram realidade.
Naquele primeiro dia, a sua vida recomeçou.
A.
6 Comments:
Dulce!! Vieste de encontro ao meu recomeço...um texto maravilhoso. Beijos.
Tão lindo:)
A doçura das mãos, o quente dos lábios, a a luz dos olhos:)
O princípio da realidade hámuito sonhada:-)
beijos
O primeiro dia é sempre especial.
Um beijo.
Bem intenso!
Gostei da escrita e do ritmo. :)
pega numa flor
a mais linda do teu jardim
e com carinho dá a quem amas,
Pega um sorriso,
aquele sorriso franco e doe
a um amigo que está triste
pega um raio de luz e esperança ,
uma rosa branca, fala de paz ...
fala da ternura , fala do amor
fala da vida , da flor que desabrochou
da criança que acabou de nascer em Ti...
podes mudar o mundo
Só Tu ...
este texto está magnifico doce Dulce,
há sempre um primeiro dia, não sei onde só sei que há...
é tão real o que escreves que encantas
um beijo meu
lena
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