quarta-feira, junho 28, 2006

Manhã

Finalmente deito-me. Meia-noite e meia. Deixo ficar a luz acesa enquanto respiro controlada e pausadamente. Tento encontrar o equilíbrio e a paz necessários ao sono. Antes de apagar a luz olho mais uma vez o telemóvel. Verifico se há mensagens ou chamadas não atendidas. Verifico pela sétima vez a hora do despertar.
Tudo em ordem.

(E o ...)

Quando dou por mim de novo, é ainda madrugada. Sem abrir os olhos sinto a não presença da luz e o silêncio da rua. Que horas serão? Não, não vou olhar o relógio. VIro-me para o outro lado e tento encontrar uma posição confortável que me traga de novo o sono.
Será que são quase horas de me levantar? Desfilam no pensamento as imagens das próximas horas.
Volto-me de novo na cama e inspiro profundamente.
Não sei quanto tempo depois reconheço-me de novo acordada. Desta vez vou ver as horas. Abro os olhos e vejo a luz tímida da madrugada que passa através dos cortinados. Jogo a mão ao relógio e, sem acender a luz, procuro a inclinação necessária para conseguir ler o mostrador. 5,20. Faltam dez minutos. Enrosco-me e procuro o aconchego macio da cama. Já não vale a pena tentar adormecer. Não conseguiria. Aproveito os últimos minutos para relaxar.
5,30. Salto da cama ao primeiro bip. Virada para o espelho e já sentada na cama esfrego os olhos e espreguiço-me. Já passa mais luz através da janela. O dia nasce.
Passo da inércia da espera para a contagem decrescente em movimento. O banho. Os últimos preparativos. O pequeno almoço. O dia já clareou definitivamente. Mala ao ombro, abro a porta e saio para a rua. Com o café tomado sinto-me bem melhor.

(E o ....)

Agora os transportes. Autocarro. Barco. Táxi. A compra do jornal faz parte da rotina. Desta vez o Diário de Notícias e mais um café no sítio do costume. Percorro agora - o bilhete comprado - os derradeiros metros de gare que me levam até à minha carruagem. Entro e acomodo-me.
7,30. O relógio da estação do meu lado direito avança penosamente para o seu limite.
Recosto-me. Tiro o discman da pasta mas ... ainda não me decido a ligá-lo.
7,45. O comboio vai cheio desta vez. Há gente que entra procura o seu lugar e se acomoda. As vozes, ouço-as em surdina. O comboio estremece e olho o relógio pensando que vai arrancar.
7,50. AInda não. Algum ajuste apenas. Fixo por momentos o ponteiro vermelho dos segundos. O seu movimento é seguro e calculadamente ritmado. Perco-me por instantes naqueles pequenos passos saltitantes que executa com uma determinação maquinal.
53 ... 54 ... 55.

(E o ...)

4 Comments:

Blogger wind said...

56...
(E o...)
Escreves tão bem que às tantas se vê e sente o que transmites, ao lermos através deste écran esses símbolos pretos:)
beijos

2:25 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Magnífica descrição deste princípio de manhã! Beijinhos, Dulce.

9:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

fez-me lembrar o 24: na 2. Os minutos passam a um ritmo impressionante...

4:47 da tarde  
Blogger lena said...

viajei contigo nesse tempo de espera

a tua descrição leva-me a sentir as andanças de uma manhã sempre apressada

escreves muito bem Dulce

beijinhos meus

lena

3:30 da tarde  

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