Casa
se algum dia por acaso
eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
podes abocanhar-me
caçar-me com os incisivos balançar-me na boca
não aceites as minhas habituais desculpas
de nómada
nem
acredites quando te disser que tudo o que tenho
cabe dentro de uma mala
começa por enconder-me os sapatos
convence-me a destruir os mapas de viagem
e a engolir âncoras pedras uma morada
com número na porta
mesmo que o meu desassossego geográfico
estremeça a perna direita
debaixo da mesa e agite o metal dos talheres
não hesites
leva-me para tua casa
prova-me que não tenho que apanhar o último comboio da noite
que incendeia a costa e que me ajuda
a fugir todas as madrugadas
recebe-me nas zonas sem roupa
do teu corpo
manobra-me a língua
usa-me
quando a tua carne já não precisar de mim
amarra-me
cuida do meu sono temporário
obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
sem coração nunca autorizaram:
esta noite durmo contigo
Hugo Gonçalves in "Tantas mãos, a mesma Primavera", Oficina do Livro, p. 41/2
eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
podes abocanhar-me
caçar-me com os incisivos balançar-me na boca
não aceites as minhas habituais desculpas
de nómada
nem
acredites quando te disser que tudo o que tenho
cabe dentro de uma mala
começa por enconder-me os sapatos
convence-me a destruir os mapas de viagem
e a engolir âncoras pedras uma morada
com número na porta
mesmo que o meu desassossego geográfico
estremeça a perna direita
debaixo da mesa e agite o metal dos talheres
não hesites
leva-me para tua casa
prova-me que não tenho que apanhar o último comboio da noite
que incendeia a costa e que me ajuda
a fugir todas as madrugadas
recebe-me nas zonas sem roupa
do teu corpo
manobra-me a língua
usa-me
quando a tua carne já não precisar de mim
amarra-me
cuida do meu sono temporário
obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
sem coração nunca autorizaram:
esta noite durmo contigo
Hugo Gonçalves in "Tantas mãos, a mesma Primavera", Oficina do Livro, p. 41/2
8 Comments:
“Por vezes é preciso acreditar que vai haver alguém a rasgar a nossa latitude.
Por vezes é preciso saber agarrá-la e mostrar que nem só em viagens se aprende.
Por vezes é preciso esconder-lhe as flores da chegada e o bilhete da partida.
Por vezes é preciso olhar a concha e arriscar.
A partir desta noite durmo contigo. “
Belíssima escolha, muito bonito, Dulce
Beijos duces
Realmente bonito.
Um beijo.
belo poema
jocas maradas
Sublime!:))))
beijos
PS:Tenho-me esquecido de escrever que esta música é linda:-)
Dulce, gracias por descubrirme al autor de texto tan hermoso.
Un abrazo.
Poema sublime! Incisivo. Cortante. Beijos, Dulce.
Belo poema. as tuas partilhas são sempre excelentes e com muito bom gosto e qualidade
perdi-me e encintrei-me no poema
beijinhos meus doce Dulce
lena
Lindíssimo Dulce.
...esta noite.desejo-a
cheia de paz.cheia de amor.
abraços minha doce dulce.
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