...
A rua franziu-se de luz intensa e pálida, e o negrume baço tremeu, de leste a oeste do mundo, com um estrondo feito de escangalhamentos ecoantes ... A tristeza dura da chuva bruta piorou o ar negro de intensidade feia. Frio, morno, quente - tudo ao mesmo tempo -, o ar em toda a parte era errado. E, a seguir, pela ampla sala uma cunha de luz metálica abriu brecha nos repousos dos corpos humanos, e, como o sobressalto gelado, um pedregulho de som bateu em toda a parte, esfacelando-se com silêncio duro. O som da chuva diminui como uma voz de menos peso. O ruído das ruas diminui angustiantemente. Nova luz, de um amarelado rápido, tolda o negrume surdo, mas houve agora uma respiração possível antes que o punho do som trémulo ecoasse súbito doutro ponto; como uma despedida zangada, a trovoada começava a aqui não estar.
... com um sussurro arrastado e findo, sem luz na luz que aumentava, o tremor da trovoada acalmava nos largos longes - rodava em Almada ...
PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, Lisboa, 2000, p.148/149
... com um sussurro arrastado e findo, sem luz na luz que aumentava, o tremor da trovoada acalmava nos largos longes - rodava em Almada ...
PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, Lisboa, 2000, p.148/149
3 Comments:
Adoro este livro. O mais estranho é que quando comecei a ler, pensei por segundos que era algo escrito por ti:)
beijos
Obrigada pelas palavras sempre bonitas que deixas nas minhas romãs. A música é escolhida pelo Friedrich, e é linda,concordo contigo. Quanto a Fernando Pessoa, não o comento. Beijos.
um livro que não me canso de ler, adoro
Fernando Pessoa o mestre que tanto me diz
um beijo meu Dulce
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