Uma e vinte. Hoje deito-me mais cedo. A rotina. Sempre os mesmos gestos ao deitar e levantar.
(A gata passa aos meus pés numa corrida vertiginosa)
Gestos lentos que atraem o sono e o repouso, à noite. Gestos preguiçosos num primeiro momento que depois maquinizam até estar totalmente acordada, de manhã.
(Saltou agora para cima da cama e aos meus pés começou a amassar com as patas da frente o meu roupão enquanto ronrona de forma gostosa)
O cortinado já está meio aberto preparado para receber daqui a umas horas a luz da manhã.
(Ao meu lado, aquietou-se. Deitada, com os olhos bem abertos olha-me, enquanto espera que acabe a escrita e apague finalmente a luz)
Também às nove a luz se apagou hoje. Deste lado. Para se acender e dar vida a outro mundo, a outras vidas. Para iluminar um cenário simples e outras personagens. Para me levar a visitar um outro tempo. Outro país. Nomes estranhamente sonoros. Um palco dentro do palco. Uma peça dentro de outra peça. Actores que fazem o papel de actores. Como um jogo de espelhos que prolonga a vida daquele lado da vida ... indefinidamente ...
(Ela olha atenta para o evoluir da caneta sobre o papel para depois fugir para a cozinha com um queixume)
... enquanto que deste lado a vida aguarda que o tempo desenrole o tempo. Aguarda em silêncio que outras vozes preencham o nosso silêncio. Aguarda no escuro que essas luzes se apaguem de novo para que a vida recomece deste lado, ao nosso ritmo.
Às nove horas (ou um pouco mais) as luzes apagaram-se. Respira-se baixinho. Interrompem-se os gestos e as palavras para se ver nascer à nossa frente, outras respirações, outros gestos, outras palavras. Até que de novo o pano desça e o encantamento termine. Podemos então recomeçar!
(A gata passa aos meus pés numa corrida vertiginosa)
Gestos lentos que atraem o sono e o repouso, à noite. Gestos preguiçosos num primeiro momento que depois maquinizam até estar totalmente acordada, de manhã.
(Saltou agora para cima da cama e aos meus pés começou a amassar com as patas da frente o meu roupão enquanto ronrona de forma gostosa)
O cortinado já está meio aberto preparado para receber daqui a umas horas a luz da manhã.
(Ao meu lado, aquietou-se. Deitada, com os olhos bem abertos olha-me, enquanto espera que acabe a escrita e apague finalmente a luz)
Também às nove a luz se apagou hoje. Deste lado. Para se acender e dar vida a outro mundo, a outras vidas. Para iluminar um cenário simples e outras personagens. Para me levar a visitar um outro tempo. Outro país. Nomes estranhamente sonoros. Um palco dentro do palco. Uma peça dentro de outra peça. Actores que fazem o papel de actores. Como um jogo de espelhos que prolonga a vida daquele lado da vida ... indefinidamente ...
(Ela olha atenta para o evoluir da caneta sobre o papel para depois fugir para a cozinha com um queixume)
... enquanto que deste lado a vida aguarda que o tempo desenrole o tempo. Aguarda em silêncio que outras vozes preencham o nosso silêncio. Aguarda no escuro que essas luzes se apaguem de novo para que a vida recomece deste lado, ao nosso ritmo.
Às nove horas (ou um pouco mais) as luzes apagaram-se. Respira-se baixinho. Interrompem-se os gestos e as palavras para se ver nascer à nossa frente, outras respirações, outros gestos, outras palavras. Até que de novo o pano desça e o encantamento termine. Podemos então recomeçar!
10 Comments:
Magnífica prosa, duas "estórias" dentro de uma:)
Beijos
A vida, afinal é um teatro. O nosso próprio teatro! Levá-la a palco sem muitos dramas é o melhor que há para o actor.
Bonita crónica, só falta o título.
Beijinho
Gostei muito do que li..
Beijinho
Fiquei aqui sentada em silêncio a ver-te escrever sobre a folha de papel e com a gata a rodear-te, a apressar-te, pendurando-se no roupão. Como sempre, gostei de estar contigo :)
Um beijinho
Continuas, como sempre, a deixar-me sem palavras!
Comentários para quê se estes vão perturbar o "som" da tua escrita?
Um abraço
Jorge
http://vagabundices.wordpress.com/
A tua escrita é tão real que, de repente, dei por mim , como uma intrusa, dentro de tua casa a ver a gata a correr e a ronronar; enquanto a tua escrita deslizava como desliza o nosso pensamento ao ler-te. Desculpa lá, esta invasão à tua privacidade, mas, realmente, é impossível não a sentir.
Bjt
Olá Dulce,
Bom texto. Não te conhecia e, por sorte minha, foste visitar o meu espaço, acabadinho de estrear. Fiquei a gostar do que aqui encontrei. Vou voltar.
Beijinhos e um bom fim-de-semana.
é sempre um prazer ler.te
passa por mim:)
jocas maradas...sempre
Olá dulce, ao passar deixo um abraço...
Recomecemos então...
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