Estações do passado
Alguém se lembra ainda de uma estação chamada Cruz da Pedra?
Deveria ser Cruz de Pedra. De onde uma tal denominação? Seja como fôr ... já não existe tal apeadeiro. A Graça morava lá. A minha velha amiga Graça. Por detrás dos leões que se ouviam rugir à noite.
Santa Cruz de Benfica. Vivendas baixas do lado direito da estação (lado direito de quem vai para Sintra). Hoje escondidas atrás de edifícios que ganharam a paisagem. A Manuela morava lá. Morena, Cabelos pelos ombros, escorridos. Óculos de aros de massa escura. Lembro uma festa na sua casa um sábado à tarde. A música demasiado alta. Gente deitada pelo chão. Outros dançando.
Reboleira. Ponto de passagem sem paragem. Gare alta que diferia das restantes. A Graça mais uma vez ligada a ela. Também o D. – e um gafanhoto verde, musculado, colocado na minha mão desprevenida. Ainda o Z. A., o namorado das tardes longas. Louro. Envolvente. Aroma a Tabac. A sua língua atraída pelas minhas orelhas.
Queluz. Rosita. Chamava-se Rosita a minha prima. Bastante surda. Bastante medrosa. Um pavor das trovoadas que a fazia enfiar-se debaixo da cama. Infindáveis tardes de domingo passadas em conversas que nunca mais acabavam.
Rio-de-Mouro. N., chamava-se. O namorado. Havia também um grupo - de amigos que nunca chegaram a sê-lo. Tardes quentes de Verão sentada num muro à sombra das árvores. E uma festa memorável. O maior bonitão da festa todinho para mim. Ainda estou para saber como. E ainda a Laurinda. Guarda da estação. Algarvia, baixa e morena. Um sorriso sempre presente.
Mercês. O meu monte. Hoje coberto de prédios. Irreconhecível. Indetectável. Aquele onde um dia disse que queria ser enterrada. Quinze anos e já a morte por perto ... O velho muro da estação que já não existe. Lugar de longas conversas. Perdido e reeencontrado há pouco tempo numa pequena estação a caminho de Coimbra.
Algueirão. Mais amigos. O J. O namorado. O L. O amigo especial. O pai. A obrigação dos fins de semana. O café do Fortuna e os chocolates tirados à sorte de uma velha caixa que se perfurava.
Sintra. O Castelo a que nunca fui. A Praia das Maçãs no fim de um percurso de eléctrico. Estrada antiga e frondosa. A esplanada sobre a praia. As ondas, violentas. A piscina de má-memória.
Hoje voltei. Ao eléctrico. À Praia das Maçãs. O mesmo percurso frondoso, perturbado pelo intenso chiar das rodas nos carris. Colares e aquele café de esquina junto a um ribeiro - paragem obrigatória em fins de tarde. Monserrate a despontar luminoso entre o arvoredo. A paisagem, exuberante. As ondas, poderosas. Da esplanada resta o local. Hoje um restaurante.
Hoje voltei. A Sintra. A uma recordação e a um amigo.
Deveria ser Cruz de Pedra. De onde uma tal denominação? Seja como fôr ... já não existe tal apeadeiro. A Graça morava lá. A minha velha amiga Graça. Por detrás dos leões que se ouviam rugir à noite.
Santa Cruz de Benfica. Vivendas baixas do lado direito da estação (lado direito de quem vai para Sintra). Hoje escondidas atrás de edifícios que ganharam a paisagem. A Manuela morava lá. Morena, Cabelos pelos ombros, escorridos. Óculos de aros de massa escura. Lembro uma festa na sua casa um sábado à tarde. A música demasiado alta. Gente deitada pelo chão. Outros dançando.
Reboleira. Ponto de passagem sem paragem. Gare alta que diferia das restantes. A Graça mais uma vez ligada a ela. Também o D. – e um gafanhoto verde, musculado, colocado na minha mão desprevenida. Ainda o Z. A., o namorado das tardes longas. Louro. Envolvente. Aroma a Tabac. A sua língua atraída pelas minhas orelhas.
Queluz. Rosita. Chamava-se Rosita a minha prima. Bastante surda. Bastante medrosa. Um pavor das trovoadas que a fazia enfiar-se debaixo da cama. Infindáveis tardes de domingo passadas em conversas que nunca mais acabavam.
Rio-de-Mouro. N., chamava-se. O namorado. Havia também um grupo - de amigos que nunca chegaram a sê-lo. Tardes quentes de Verão sentada num muro à sombra das árvores. E uma festa memorável. O maior bonitão da festa todinho para mim. Ainda estou para saber como. E ainda a Laurinda. Guarda da estação. Algarvia, baixa e morena. Um sorriso sempre presente.
Mercês. O meu monte. Hoje coberto de prédios. Irreconhecível. Indetectável. Aquele onde um dia disse que queria ser enterrada. Quinze anos e já a morte por perto ... O velho muro da estação que já não existe. Lugar de longas conversas. Perdido e reeencontrado há pouco tempo numa pequena estação a caminho de Coimbra.
Algueirão. Mais amigos. O J. O namorado. O L. O amigo especial. O pai. A obrigação dos fins de semana. O café do Fortuna e os chocolates tirados à sorte de uma velha caixa que se perfurava.
Sintra. O Castelo a que nunca fui. A Praia das Maçãs no fim de um percurso de eléctrico. Estrada antiga e frondosa. A esplanada sobre a praia. As ondas, violentas. A piscina de má-memória.
Hoje voltei. Ao eléctrico. À Praia das Maçãs. O mesmo percurso frondoso, perturbado pelo intenso chiar das rodas nos carris. Colares e aquele café de esquina junto a um ribeiro - paragem obrigatória em fins de tarde. Monserrate a despontar luminoso entre o arvoredo. A paisagem, exuberante. As ondas, poderosas. Da esplanada resta o local. Hoje um restaurante.
Hoje voltei. A Sintra. A uma recordação e a um amigo.
9 Comments:
:))))
Sorri ao acabar de ler.
É incrível como se olharmos para trás temos tantos pontos de referência, que no dia a dia nem nos lembramos.
Texto maravilhosamente escrito:)
beijos
Mais uma vez gostei de te ler, Dulce. Beijinhos.
Dulce, é bom recordar locais e pessoas com eles relacionados, sobretudo se as recordações são boas, como parecem ser.
Lembro-me dessas caixas onde se furava e saiam chocolates. Quem fizesse os últimos furos levava una caixa de bom-bons, daí eu andar sempre à espreita.
Bom fds*
...e aquela historia do tipo que, com nove anos, saltava da janela da escola (aula de Moral) para ir até ao Jaleca-vulgo Zoo? Na antiga Cruz da Pedra.
E havia ainda um riacho que era atravessado a medo, com uma cana na mão e assobiando...
e o apeadeiro de S. Domingos de Benfica, lembras-te?
e o apeadeiro da Portela que ainda não havia.
e...
e...
e...
E as fotos do passeio?
Nem aqui, nem AQUI nem ACOLÁ.
Uma viagem ao passado que gostei de acompanhar.
Bjs.
Tanto que aprendi contigo nesta viajem...tu és um espanto de pessoa "Minha Amiga"
doce beijo
Que viagem ao passado amiga.
Simplesmente Belo!!!
Beijos
Olá Dulce
Então não é que nessa caixinha dos furos caia uma bolinha correspondete pela cor que tinha a um dito chocolate?
Mas sabias que essa caixinha hoje voltou a aperecer? Verdade... Encontrei nela o ultimo furo e adivinha qual a cor que saiu!
Nem imaginas era verde e corresponde a uma visita guiada pelo dono do ultimo furo ao castelo a pena em sintra!!! Achas normal?
Para alegria do vencedor ele pode levar uma acompanhante! Como li algures neste teu post que nunca visitaste o dito... Fica aqui o convite.
Beijinhos
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