Bjs, abçs e passou-bem
Nada substitui o contacto pessoal. O toque, o cheiro, a espontaneidade do gesto. Por telefone, já nos começamos a esconder: “Estás estranho?”, “Não, estou apenas constipado...”. Contudo, continuam a exigir-se reacções imediatas. Por escrito, tudo muda. Há tempo para encontrar as palavras certas e embelezá-las com cornucópias, ponderar o discurso, descobrir a forma ...
Escrevem-se coisas que não se dizem ou que se dizem apenas nos filmes e por aqueles que têm presença de espírito. Os novos meios de comunicação interpessoal criaram espaço para vários meios-termos, que adulteram esta dicotomia entre o oral e o escrito: a escrita rápida dos SMS ou das mensagens do mesenger, na maioria dos casos, assemelha-se a uma transcrição fonética.
A tal ponto que existem códigos para aproximar a velocidade da escrita à da fala.
Escreve-se dd tcl (de onde teclas?). k (que), kk (qualquer), tb (também), kolmi (liga-me), lol (rir alto), * (beijinho), [ ] (abraço) :p (deitar a língua de fora), fds (fim-de-semana). :) (sorriso), ;) (piscar o olho).
É um lugar comum dizer que estes meios estão a destruir a língua portuguesa. Mas será assim tão preocupante? Antes, nas escolas, aprendia-se estenografia. Uma série de normas que permitem tirar apontamentos rapidamente. E quem dominava a técnica retirava grandes vantagens, sobretudo em professores de discurso acelerado. Por outro lado, também já se tinha inventado uma escrita simplificada para os telegramas, abdicando de artigos e preposições, tentando não danificar a clareza da mensagem. O que a maioria dos adultos preocupados não se apercebeu é que os adolescentes inventaram e dominam um eficaz sistema estenográfico. E, nesta matéria, são todos alunos aplicados.
Nos e-mails, à partida, há mais tempo para preparar a resposta. Podem-se escolher as palavras, corrigir a ortografia e reflectir sobre o conteúdo. Contudo, regra geral, o tempo disponível é menor do que numa carta e a mensagem mais curta.
Um ponto comum entre todos estes meios é a tentativa de compensação da distância física. Face a face, os discursos frequentemente se atropelam e, muitas vezes, falta a coragem para a intimidade. No e-mail as pessoas tendem a aproximar-se. Por vezes, de tal forma, que os encontros ao vivo e a cores se tornam constrangedores. Há exemplos claros, mesmo a nível profissional. Recebo e envio muitas mensagens que terminam com “um abraço”. Obviamente nunca abraço nenhuma destas pessoas quando por acaso as encontro. Quando muito dou-lhes um passou-bem.
Manuel Halpern, “O homem do Leme”, in Jornal de Letras de 10-23/2006, p. 43
Escrevem-se coisas que não se dizem ou que se dizem apenas nos filmes e por aqueles que têm presença de espírito. Os novos meios de comunicação interpessoal criaram espaço para vários meios-termos, que adulteram esta dicotomia entre o oral e o escrito: a escrita rápida dos SMS ou das mensagens do mesenger, na maioria dos casos, assemelha-se a uma transcrição fonética.
A tal ponto que existem códigos para aproximar a velocidade da escrita à da fala.
Escreve-se dd tcl (de onde teclas?). k (que), kk (qualquer), tb (também), kolmi (liga-me), lol (rir alto), * (beijinho), [ ] (abraço) :p (deitar a língua de fora), fds (fim-de-semana). :) (sorriso), ;) (piscar o olho).
É um lugar comum dizer que estes meios estão a destruir a língua portuguesa. Mas será assim tão preocupante? Antes, nas escolas, aprendia-se estenografia. Uma série de normas que permitem tirar apontamentos rapidamente. E quem dominava a técnica retirava grandes vantagens, sobretudo em professores de discurso acelerado. Por outro lado, também já se tinha inventado uma escrita simplificada para os telegramas, abdicando de artigos e preposições, tentando não danificar a clareza da mensagem. O que a maioria dos adultos preocupados não se apercebeu é que os adolescentes inventaram e dominam um eficaz sistema estenográfico. E, nesta matéria, são todos alunos aplicados.
Nos e-mails, à partida, há mais tempo para preparar a resposta. Podem-se escolher as palavras, corrigir a ortografia e reflectir sobre o conteúdo. Contudo, regra geral, o tempo disponível é menor do que numa carta e a mensagem mais curta.
Um ponto comum entre todos estes meios é a tentativa de compensação da distância física. Face a face, os discursos frequentemente se atropelam e, muitas vezes, falta a coragem para a intimidade. No e-mail as pessoas tendem a aproximar-se. Por vezes, de tal forma, que os encontros ao vivo e a cores se tornam constrangedores. Há exemplos claros, mesmo a nível profissional. Recebo e envio muitas mensagens que terminam com “um abraço”. Obviamente nunca abraço nenhuma destas pessoas quando por acaso as encontro. Quando muito dou-lhes um passou-bem.
Manuel Halpern, “O homem do Leme”, in Jornal de Letras de 10-23/2006, p. 43
8 Comments:
Já tinha visto uma reportagem sobre o mesmo assunto e defendendo a mesma teoria.
Não há dúvida que se pensarmos nos conjuntos de consoantes, que os jovens utilizam nas msgs, (também sei!), como uma espécie de estenografia a ideia torna-se mais simpática.
O problema é que os jovens não são incentivados a ler e nas escolas, mesmo nas secundárias, não se dá a devida importância à escrita.
A continuar assim, um dia destes, só se escreve no computador que tem o recurso ao corrector de erros.
Um beijo.
“Nada substitui o contacto pessoal.
…e por aqueles que têm presença de espírito.”
Também há excepções! Quem escreva com todas as letras e siga o guião, antes escrito, à risca.
Então, um passou-bem.
Completamente de acordo com o autor deste texto. Beijos
Eu tenho um filho adolescente. É preciso um dicionário de sms, para decifrar as msg que me manda. Mas lá vou aprendendo, com paciência e sorrisos...
Beijo e bom fim de semana ;)
Ainda bem, que por entre esses SMS, MMS, e-mails... ainda se busca o acaso do encontro.
Para que se concretize o abraço. Para que se expressem as palavras. Para que se mostrem os rostos.
Para que se diluam os constrangimentos.
Um beijo, amiga.
Voltei...
;)
Peço desculpa pela ausência... confesso k já tinha mtas saudades do vosso carinho... Estive sem PC estes dias... beijinhos***
É isso mesmo. Eu não uso abreviaturas, mas acho uma óptima ideia. Os abraços e beijos que envio por email ou sms, dou-os quando encontro as pessoas! Beijinhos, Dulce.
gostei de ler...as novas tecnologias...uma nova forma de escrever/ de falar....
a diferença q existe entre um livro e um monitor será sempre imensa......
jocas maradas
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