domingo, abril 23, 2006

Dia Mundial do Livro


Os livros. Não sei viver sem eles. Presença constante na minha vida desde sempre.
O gosto pela leitura, fomentaram-no deste criança.
Em casa do meu pai, na pequena estante em frente da cama, alinhavam-se diversos livros de histórias. Ainda desse tempo possuo "A menina do Mar" de Sophia de Mello Breyner e um livro em francês que fazia as minhas delícias. "Noël" era o título, e apesar de não ler em francês encantavam-me as belas imagens de um Natal de sonho.
Em casa da minha mãe os livros estavam arrumados, vá-se lá saber porquê, nas prateleiras da dispensa. Eram um mundo à minha espera. Longas tardes de leitura passei estendida no sofá a ler "A morgadinha dos Canaviais", "As pupilas do senhor reitor" ou o "Amor de perdição" que me levou às lágrimas, e muitos mais que ía sucessivamente desenterrando do fundo das prateleiras.
Ninguém me dizia o que ler. Ninguém me impedia de ler fosse o que fosse.
Mais tarde, já na adolescência, entrei no mundo da poesia. Sophia de Mello Breyner, Natália Correia, Carlos de Oliveira ou Pablo Neruda. Lia. Lia tudo avidamente.
De Manuel Alegre comprei "A praça da Canção" na Livraria Portugal na Rua do Carmo, a minha livraria de eleição. Disfarçados a um canto, podíamos sempre encontrar alguns dos livros proibidos na época, e era uma emoção poder levá-los para casa para os ler às escondidas.
Foi lá também que adquiri alguns livros de Engels, Lenine, Mao-Tsé-Tung (ou Mao-Zedong, como li anos mais tarde), pequenas luzes naqueles anos de escuridão.
Nas viagens de comboio que fazia diariamente as páginas desfiavam-se na razão directa da velocidade a que me deslocava.
Nos cafés que frequentei ao longo da vida sempre há-de permanecer a recordação de uma certa mesa que preferia, e em que me sentava a ler e a escrver durante tardes a fio.
Nos jardins em que passeava, há sempre um banco que me recorda tempos antigos em que lá me sentei com um livro nas mãos, aproveitando o silêncio e o sol.
Livros e mais livros.
São imensos já, os que enchem as minhas prateleiras. Amontoam-se já, com alguma desarrumação, que eu confesso, até gosto.
Tentei em tempos organizar uma base de dados mas é um trabalho sempre incompleto. Todos os meses há mais para acrescentar.
O meu sonho foi sempre ter uma sala só para mim com os meus livros. Uma secretária, um cadeirão e um bom candeeiro. O silêncio completa o quadro de sonho.
O meu gosto é variado. Romance, Poesia, Temas de História, Crónica, ... e Enciclopédias e Dicionários. (podem rir-se ... cada um com a sua mania!!!)
Hoje é Dia Mundial do Livro. Comprei o jornal como em todos os domingos e, espantem-se ... nem uma referência à data.
No jornal Público, entre as páginas 3 a 6, pormenoriza-se longamente a conquista do 21º título do futebol clube do Porto. Quem sabe eram essas as páginas antes pensadas para falar deste dia! Gostaria de pensar que pelo menos tinham pensado em falar do assunto.
É pena! Preferiram outro tema.
Para mim, hoje é Dia Mundial do Livro. Um dia que eu comemoro.

(Foto da capa de um livro da minha infância)

10 Comments:

Blogger axadresado said...

olá, em nenhum jornal uma referencia!
por aí se pode medir o nivel da cultura a começar pela sra. ministra.
enfim.
cumprimentos

1:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

INGENUIDADE ! QUANDO O " GANDA PORTO " ARRECADA MAIS UM TÍTULO, QUERÍAS O QUÊ? SOPHIA, NERUDA, TORGA?
E AS VENDAS, MENINA?

AMBRÓSIO

2:01 da tarde  
Blogger escrevi said...

Gosto sempre de ler as tuas memórias.
As minhas leituras de infância foram outras, "A Princezinha", "Mulherzinhas", "Os Cinco" etc. Depois veio Dostoievsky, Urbano Tavares Rodrigues, Camões, e muitos, muitos livros sobre psicologia e sobre a História da Humanidade.
Continua a ser a minha pricipal paixão, como sabes, romances históricos. Só com eles, e mal, consigo entender alguns dos acontecimentos da história contemporânea.

Ler é também sonhar, viver outras vidas, ter experìências novas...

Enfim, comemoremos o dia Mundial do Livro. Mas sinceramente acho que ler é cada vez mais um vício muito, muito burguês, porque quem tem dinheiro para comprar livros? Eu não, para grande pena minha. Felizmente que tenho uma amiga que vai "alimentando" esta minha fome com um fornecimento regular de livros.

Um beijo para ti amiga.

2:24 da tarde  
Blogger wind said...

Tal como tu também leio bastante desde pequena. Desde livros infantis até livros da minha avó, romances, grandes escritores, policiais, aventuras, ...sei lá era o que havia no escritório lá de casa. Também já fui espreitar as notícias na net e nem um arzinho do dia dolivro. É lamentável. Beijos

2:43 da tarde  
Blogger Su said...

sempre li, ou melhor devorei tudo o que havia para ler em casa, tn nunca ninguem mo proibiu, mtos só os entendi, lendo uma 2º ou 3º vez, sim pq eu tenho a mania de reler..sempre, qto à tua mania das enciclopedias, ainda hoje leio como calha o dicionario e continua sendo um prazer..manias? nop, hábitos!
jocas maradas de livros e letras

7:22 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A maioria do nosso povo não se alimenta de livros; mas de futebol, e novelas de cortar à faca, ou cor de rosa. Isso já todos nós sabemos…
Agora o que é ainda mais lamentável, é as próprias editoras não se empenharem mais na divulgação deste dia, uma vez que é a sua obrigação, e podiam, eventualmente, vender mais o seu produto. Enfim, assim pensam os empresários deste país…

Beijos

10:02 da tarde  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Hola amiga. Tu texto podría suscribirlo casi al completo. Esa senda por la lectura ha sido idéntica a la mía. Y sueño también con tener a alguien que me ordene lo que yo no soy capaz de ordenar. Me moriré y me iré con esa espina: nontañas de libros, fotografías, apuntes, papeles que no puedo tirar...que no sé organizar. Ni quiero tampoco.

Los libros son esos amigos que no nos fallan nunca, que siempre están ahí, con sus hojas abiertas, como abrazos cálidos.

Un beso.

1:45 da manhã  
Blogger Maria Carvalho said...

Pelos vistos o futebol é mais importante que os livros, para alguns!! Beijos, Dulce.

10:43 da manhã  
Blogger luis manuel said...

Dulce.... não houve o cuidado ou a lembrança de ir gravando num ficheiro à parte, e lá se foi o meu comentário.
O computador desliga-se vezes sem conta ! Fui obrigado a dizer mais um palavrão ...!

Não foi só por cá o esquecimento nos meios de comunicação, parece-me.
No entanto houveram, e ainda estão a realizar-se muitos eventos no nosso país.
O cadeirão, a luz reconfortante.
O sonho retratado no olhar das crianças.

Um beijo, amiga

10:55 da manhã  
Blogger vero said...

Olá querida amiga,
passei para te deixar um GRANDE beijinho ***
:)

2:31 da tarde  

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