sexta-feira, janeiro 06, 2006

Soneto

Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.

José Carlos Ary dos Santos, Obra Poética, Edições Avante, 5ª edição, Lisboa, 1999, p.35

6 Comments:

Blogger Maria Carvalho said...

Ary dos Santos-a imortalidade de um Poeta. Beijinhos

2:53 da tarde  
Blogger José said...

Vamo viver e deixar de lado o monstro.
Apesar de andar por ai, um velho do Restelo.
Muito bonito, Ary
Bjs

4:17 da tarde  
Blogger AQUENATÓN said...

" Antes o olhar que peca ... a voz que grita ! "

Antes o grito e a carícia adiada !

Bji

4:21 da tarde  
Blogger wind said...

Grande Ary, aqui na sua vertente revolucionária. beijos

6:07 da tarde  
Blogger Wakewinha said...

Tão agressivamente duro, mas simultaneamento belo... Uma ou outra frase poderia ser minha!

Beijinho de bom fim-de-semana*

11:00 da tarde  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Hola Dulce, amiga. Tienes una gran sensibilidad para seleccionar los más bellos poemas.

Sí, soy la de la máscara. Estuve en Siria en el mes de noviembre.

Un abrazo fuerte.

2:24 da manhã  

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