Soneto
Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?
Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.
Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.
Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.
José Carlos Ary dos Santos, Obra Poética, Edições Avante, 5ª edição, Lisboa, 1999, p.35
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?
Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.
Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.
Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.
José Carlos Ary dos Santos, Obra Poética, Edições Avante, 5ª edição, Lisboa, 1999, p.35
6 Comments:
Ary dos Santos-a imortalidade de um Poeta. Beijinhos
Vamo viver e deixar de lado o monstro.
Apesar de andar por ai, um velho do Restelo.
Muito bonito, Ary
Bjs
" Antes o olhar que peca ... a voz que grita ! "
Antes o grito e a carícia adiada !
Bji
Grande Ary, aqui na sua vertente revolucionária. beijos
Tão agressivamente duro, mas simultaneamento belo... Uma ou outra frase poderia ser minha!
Beijinho de bom fim-de-semana*
Hola Dulce, amiga. Tienes una gran sensibilidad para seleccionar los más bellos poemas.
Sí, soy la de la máscara. Estuve en Siria en el mes de noviembre.
Un abrazo fuerte.
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