quarta-feira, setembro 19, 2007

Recomeço

Costumava telefonar-te uma hora antes para combinar o local do encontro. Normalmente o café mais próximo onde conversávamos um pouco e bebíamos a bica da noite. Umas vezes chegava eu primeiro, outras já te encontrava sentada, cigarro na mão e "phones" nos ouvidos recordando os últimos temas que ensaiámos. Bebido o café, percorríamos aqueles poucos metros até à igreja onde os restantes elementos conversavam e confraternizavam antes de entrar. Depois ... chegado o maestro, subíamos as escadas íngremes até ao topo e acomodávamo-nos até se iniciar o ensaio.
Era assim até há bem pouco tempo. Hoje, senti a tua falta. Eu e todos os restantes elementos que olhando para mim se recordavam de ti. Perguntaram sobre a tua doença tão súbita e fatal. Sentiram-me um pouco triste e perdida e chegaram-se a mim tentando compensar a tua falta. Infelizmente, não se substitui quem já morreu. Por diversas vezes olhei para o lado desejando ainda ver-te ali. Ainda me custa a crer que já não existas. Que já não te possa ver mais. Oiço ainda a tua voz e vejo os teus trejeitos em certos temas que cantávamos. Lembro-me do teu riso malandro. Sei o que dirias.
Um colega disse-me ter receado que eu não voltasse. Respondi-lhe que era muito estranho estar ali sem ti. Retorquiu-me haver ali outros amigos e que todos precisamos uns dos outros.
Tinha razão, sim!
Devemos lembrar sempre os que já partiram e guardá-los na nossa memória pois assim viverão para sempre, mas também acarinhar os que nos rodeiam e que ainda precisam de nós.
O ensaio acabou à hora do costume. Descemos as escadas íngremes e desembocámos na viela quase adormecida.
A noite cheirava a cigarro acabado de acender.

(Porque é importante ler os testemunhos e participar.
Porque cada vez mais são mais as pessoas que conheço que têm este tipo de doenças.
Porque é importante divulgar.
Porque é necessário ajudar.
Aqui fica o site: http://www.oncologiapediatrica.org/ )

27 Comments:

Blogger Maria said...

Sem palavras, deixo-te um abraço.
E um beijo, sentido...

1:59 da manhã  
Blogger Carminda Pinho said...

E apesar...a vida tem que continuar amiga.
Beijinhos grandes

5:57 da manhã  
Blogger Zé-Viajante said...

E aproveitando, deixo este endereço da ACREDITAR
www.acreditar.org.pt

Bjs

6:16 da manhã  
Blogger Paula Raposo said...

Sou amiga de algu�m que tem escrito a favor da Acreditar. Penso que ainda este ano sair� um novo livro. Fico sem palavras.

2:41 da tarde  
Blogger The Perfect Stranger said...

sei...
beijos por te lembrares

3:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vem , vem voar nas " Asas De Fogo " ...

Um delicado beijo .

6:45 da tarde  
Blogger Paulo said...

Obrigado pela visita. Considerando que se identifica como sendo "crítica muito crítica, amiga dos meus amigos, volúvel e Trabalhadora";
considerando a "mágia" das suas «postagens»;
considerando que é uma mulher com sentido de humor.
Cumpre-me, hic et nunc, (aqui e agora) informar o seguinte:
Haud ignota loquor (falo de coisas não conhecidas) para a grande parte dos leitores do meu blogue - inter alia (entre outras coisas) mais ou menos «treviais» mas ne quid nimis (nada de excesso). Há lugares próprios para fazermos uso de uma linguagem técnica o que não é o caso do meu blogue cujos destinatários vão desde «maltezes» até doutas "criaturas" passando por "fantasmas" da nossa praça.
Entendi a "mensagem" do seu comentário, facto que me deixa animado. Rissssssss
Sabe, timeo hominem unius libre - agora é você que deve traduzir esta frase do latim - Rissssssss
Não leve a vida muito a sério...
Um grande beijo para si.
Paulo Sempre.

8:03 da tarde  
Blogger FERNANDINHA & POEMAS said...

Dulce sem comentários deixo-te um grande beijo.
Uma noite tranquila.

Fernandinha

9:24 da tarde  
Blogger Ana said...

É a primeira vez que aqui passo, e acho que vou voltar. Uma escrita fluída e sentida é para se continuar a ler. =)

Não imagino a sua dor, pois nunca por tal passei. Mas conheço quem passou e é desvastante, a dor. Mas, com o tempo, dói menos. E a vida lentamente retoma o seu curso. Força...

9:42 da tarde  
Blogger A. Jorge said...

História triste!
Infelizmente também já passaram histórias dessas na minha vida. Diferentes, é certo, mas com o mesmo final.
Tais, penso eu, servem para nos mostrar a nossa fragilidade e insignificância obrigando-nos a pôr um freio nos dentes da "égua doida" que montamos.
O facto de sermos completamente impotentes nesta matéria assusta-me e perturba-me de uma maneira talvez exagerada e é por isso que assumo uma total cobardia em relação a este assunto.

Abraço

Jorge

http://vagabundices.wordpress.com/

11:36 da tarde  
Blogger Boop said...

Triste mas doce...
É assim a memória.

Um beijo

11:38 da tarde  
Blogger Teté said...

Bom, gostei de tudo o que li, adoro prosas poéticas...

Vou voltar, para continuar a ler-te, diariamente...

Quando à dor dessas perdas, infelizmente, já todos passámos por algumas. A sensação de vazio que se segue é quase inexplicável, mas tu conseguiste transmiti-la!

Jinhos!

12:00 da manhã  
Blogger Isabel said...

Minha amiga,a dor é grande e a falta é algo que não se consegue repor.
Venho agradecer-te o carinho que me tens dedicado ao visitares-me sem que eu te retribua. Estou aqui de passagem; pois, vou-me ausentar por algum tempo. Mas a minha Fé, diz-me, que não vai ser longo.

Um grande beijinho e até breve

1:29 da manhã  
Blogger Isabel said...

Voltei só para te dizer que já adquiri o livro "O que é o "Amor?" e achei-o uma ternura.
Vou levá-lo comigo, junto com os do António Paiva e do Mário Margaride que, também, acho deliciosos; e, assim, tenho-vos sempre presentes.

Beijinho

1:33 da manhã  
Blogger Paula Raposo said...

Desculpa, deixaste-me beijos no meu blog porquê? Não percebi. Leste os poemas? Os beijos são pelos poemas? Gostaste? Tudo bem.

3:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bello texto.
Não é normal oferecer prendas no dia de anos, mas é original, se entenderes podes fazer copy/paste das tuas linhas p/o site oncologiapediatrica.org,(parte do novo livro).
Paula Raposo - Penso que sou eu o amigo em questão. Não esqueci o teu Blog, tenho-te lido também, não te tenho comentado, apenas porque a prioridade pós laboral é o livro. Aqui, onde também leio sem comentar, "parei" apenas para deixar um beijinho de parabéns.
Vanadis, A.Jorge, tete...- fico a aguardar o deposito dos vossos textos (vossos dos vossos amigos) no site.
Isabel - "...a falta é algo que não se consegue repor", nada mais certo, visite o site e tenho a certeza que vai saber "esticar" esta frase até encher um écran.
Obrigado a todos, um beijinho extra à dona do blog e à Paula por partilharem comigo a aventura de um livro difícil.
PS: a web page não é minha, não foi feita por mim, apenas a quero partilhar, apenas quero humildemente tentar ajudar a Acreditar e os seus "carequinhas".

10:13 da manhã  
Blogger wind said...

Lamentando tens de viver o teu luto.
Beijos

4:53 da tarde  
Blogger mfc said...

A vida continua.Se ela vir um sorriso na tua boca vai gostar muito!
Faz-lhe esse gosto.

6:53 da tarde  
Blogger Flôr said...

Durante algum tempo vais sentir um vazio. Vais olhar para o lado e julgar vê-la.
Depois, a pouco e pouco, vai passar para o baú das recordações e deixar-te-á um sorriso, quando te lembrares dela.

Gosto muito de passar por aqui...

Beijitos

9:27 da tarde  
Blogger António Inglês said...

Dulce

As palavras não apagam nunca a dor mas se poderem atenuar já é bom...
Para ti uma palavra de solidariedade ... como te compreendo...
Beijinhos
José Gonçalves

1:25 da tarde  
Blogger Isamar said...

Felizmente as pessoas não podem ser substituídas. A tua amiga permanecerá para sempre na tua memória e recordá-la é cada vez mais doce, mais calmo, mais apaziguador. Os outros, Dulce, precisam de ti e , acredita, a noite do teu regresso foi-lhes mais agradável e passou rapidamente. Um "passarinho" tinha voltado a cantar.
Beijinhos, amiga!

10:48 da tarde  
Blogger Maria Carvalhosa said...

Comovente e lindo, amiga Dulce. (Infelizmente, como interiorizo quase como meu o teu comentário entre parêntesis!).

Beijos.

11:14 da tarde  
Blogger Mariamar said...

Continuo sem conseguir comentar o que sentes pela falta da minha mãe. Doí-me demais porque me faz pensar o dobro...É este nó na garganta, este vazio... Este algo quase tudo que não consigo descrever... obrigada por te lembrares dela.
Beijos

12:26 da manhã  
Blogger Maria said...

Sempre esteve presente mas agora encontro-a quase em cada esquina ou em cada lugar onde vou, porque lá estive com ela um dia. Na semana passada estive na Musicália, na Fil. A primeira exposição que fui ver com ela foi à Fil precisamente e logo no primeiro stand voltou-me à memória, quando me deparei com uma exposição de pianos. Quantas vezes ela me disse que queria comprar um!! Ali estavam!
Vai continuar a estar presente e a doer, até um dia em que apenas se vai manter presente.

1:01 da manhã  
Blogger jorge esteves said...

(...) O ensaio acabou à hora do costume. Descemos 'todos' as escadas íngremes e desembocámos na viela (...)
...
São as memórias que nos tornam imortais.

Abraço, amiga!

11:54 da manhã  
Blogger Mariamar said...

Eu encontro-a a cada passo que dou... cada vez que respiro... e sei que dói, mas... enfim...

11:40 da tarde  
Blogger Maria said...

Mas a dor vai continuar, Dulce. Apenas amenizada...
Um beijo, com carinho

1:10 da manhã  

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