Por amor aos livros
Entro nos livros devagar, sem ruído ou sobressalto,
pela porta baixa, arqueada, das grandes interrogações.
Trago-os a tiracolo como se fossem armas de arremesso.
Guardo-me neles para a inquietação e para a dúvida.
Dou-lhes outros nomes, títulos diversos
daqueles que lhes iluminam o rosto.
Depois debruço-me numa qualquer janela
e grito altíssimo o meu amor por eles, como se cantasse.
Uns dão-me a penumbra como presente,
outros pedem-me apenas que lhes chame irmãos,
cúmplices de todas as aventuras do afecto,
outros pedem-me que me deite com eles
e que faça meus, mesmo nos alvéolos do sono,
os seus enredos tecidos com névoa, paixão e vento.
E há sempre uma luz difusa a escorrer
das doces e limpas páginas impressas:
hei-de bebê-la na concha do encantamento dos olhos
como se buscasse uma sabedoria inatingível,
como se perseguisse a claridade que há no texto,
muito para além de todas as mágoas.
E como posso eu esquecer o perfume
de tudo o que amei enquanto lia?
José Jorge Letria, in "Tantas mãos, a mesma Primavera", Oficina do Livro, 2005, p.44
Ontem fui, pela segunda vez este ano, à Feira do Livro de Lisboa. Localizada desde há uns anos no Parque Eduardo VII e cada vez com um maior número de "stands", necessita de algum tempo para ser visitada com atenção.
Lembro-me bem, quando na adolescência percorria a Feira ainda na Avenida da Liberdade. Não sei se por nostalgia, se pelo espaço, aquele é para mim, o sítio ideal para a sua localização.
À sombra das árvores sentava-me impaciente à espera da hora de abertura. Chegava cedo, ainda os "stands" estavam meio-arrumados e alguns mesmo fechados. Procurava os livros mais em conta, as raridades, ou ainda algum livro proibido.
Hoje, cada vez são mais as editoras presentes, obrigando a subir e a descer o Parque diversas vezes, o que se torna bastante cansativo.
Isto tudo para dizer que na minha visita de ontem à Feira do Livro, para além das compras que fiz, trouxe também um pequeno livro de oferta. É deste livro que publiquei o poema do José Jorge Letria que acabaram de ler. É composto de poesia inédita de autores diversos - uns mais, outros menos conhecidos - mas sempre boa poesia.
Tenho o hábito de marcar a lápis ou com marcadores de papel os poemas ou os excertos de que mais gosto. Neste pequeno livro são poucas as páginas que não têm uma marcação.
Passem por lá também. Oficina do Livro. Talvez comprem alguma coisa e se o fizerem trazem também esta oferta. Vale a pena!
pela porta baixa, arqueada, das grandes interrogações.
Trago-os a tiracolo como se fossem armas de arremesso.
Guardo-me neles para a inquietação e para a dúvida.
Dou-lhes outros nomes, títulos diversos
daqueles que lhes iluminam o rosto.
Depois debruço-me numa qualquer janela
e grito altíssimo o meu amor por eles, como se cantasse.
Uns dão-me a penumbra como presente,
outros pedem-me apenas que lhes chame irmãos,
cúmplices de todas as aventuras do afecto,
outros pedem-me que me deite com eles
e que faça meus, mesmo nos alvéolos do sono,
os seus enredos tecidos com névoa, paixão e vento.
E há sempre uma luz difusa a escorrer
das doces e limpas páginas impressas:
hei-de bebê-la na concha do encantamento dos olhos
como se buscasse uma sabedoria inatingível,
como se perseguisse a claridade que há no texto,
muito para além de todas as mágoas.
E como posso eu esquecer o perfume
de tudo o que amei enquanto lia?
José Jorge Letria, in "Tantas mãos, a mesma Primavera", Oficina do Livro, 2005, p.44
Ontem fui, pela segunda vez este ano, à Feira do Livro de Lisboa. Localizada desde há uns anos no Parque Eduardo VII e cada vez com um maior número de "stands", necessita de algum tempo para ser visitada com atenção.
Lembro-me bem, quando na adolescência percorria a Feira ainda na Avenida da Liberdade. Não sei se por nostalgia, se pelo espaço, aquele é para mim, o sítio ideal para a sua localização.
À sombra das árvores sentava-me impaciente à espera da hora de abertura. Chegava cedo, ainda os "stands" estavam meio-arrumados e alguns mesmo fechados. Procurava os livros mais em conta, as raridades, ou ainda algum livro proibido.
Hoje, cada vez são mais as editoras presentes, obrigando a subir e a descer o Parque diversas vezes, o que se torna bastante cansativo.
Isto tudo para dizer que na minha visita de ontem à Feira do Livro, para além das compras que fiz, trouxe também um pequeno livro de oferta. É deste livro que publiquei o poema do José Jorge Letria que acabaram de ler. É composto de poesia inédita de autores diversos - uns mais, outros menos conhecidos - mas sempre boa poesia.
Tenho o hábito de marcar a lápis ou com marcadores de papel os poemas ou os excertos de que mais gosto. Neste pequeno livro são poucas as páginas que não têm uma marcação.
Passem por lá também. Oficina do Livro. Talvez comprem alguma coisa e se o fizerem trazem também esta oferta. Vale a pena!
6 Comments:
Devo andar mesmo muito sensível:)
Ao ler o poema revi-me nos meus livros e depois ao ler-te emocionei-me, porque me lembrei do meu pai.
Era eu pequenina e lá me levava ele à Avenida (antes do 25 de Abril), eu de mão dada na dele, para me deliciar com os livros que ele comprava para ele e os pequeninos para mim.
pois...
Beijos
olá menina!
tb fiu á feira e achei uma desorganização total.
enfim só para quem gosta.
bjs
Vim deixar um beijinho saudoso e votos de uma óptima semana recheada de boas leituras :)*
Também há o ir à feira em boa companhia e por isso, passar " ao lado " dos bons livros.
Bonito lo que escribes Dulce.
Como siempre, los libros, la mejor compañía.
Cuando tomamos un libro prestado resulta muy agradable coincidir con lo que ya ha sido subrayado. En esos instantes reside la verdadera felicidad. Al menos, algo tiene que ver con ello.
Un beso.
este ano não fui à feira do livro, ainda não faço longas viagens
emocionei-me ao ler-te e senti saudades
beijos, doce Dulce
lena
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