Anti-Anne Frank
Esta criança esquálida,
de riso obsceno e olhares alucinados,
nunca apertou nas mãos a fria face pálida,
nunca sentiu, na escada, as botas dos soldados,
Nunca enxugou as lágrimas que aniquilam e esgotam,
nunca empalideceu com o metralhar de um tanque,
nem rastejou num sótão,
nem se chama Anne Frank.
Nunca escreveu diário nem nunca foi à escola,
nem despertou o amor dos editores piedosos.
Nunca estendeu as mãos em transes dolorosos
a não ser nos primores da técnica da esmola.
Batem-lhe, pisam-na, insultam-na, sem que ninguém se importe.
E ela, raivosa e pálida,
morde, estrebucha, cospe, odeia até à morte.
Pobre criança esquálida!
Até no sofrimento é preciso ter sorte.
GEDEÃO, António, "Obra Poética", p. 92
(Foto em www.trekearth.com)
9 Comments:
Bolas, este dói demais:(((( beijos
Mais um poema do professor que sempre adorei e que não conhecia, se não fosses tu a divulgá-lo, Amiga.
Não conhecia.
É tão verdadeiro que dá raiva.
E estes meninos de hoje serão, amanhã, homens. Que homens?
Como se vão vingar estas crianças?
Um beijo.
Querida homónima,vim fazer uma visita e desculpar-me por andar tão ausente da blogosfera...Ando sem pachorra para escrever...
Xi-coração
OLá Dulce, aqui estou em agradecimento de visita. Um abraço!
R
Sem dúvida. Beijos.
e ontem era dia mundial da criança
para alguns...
um grito, num dia que devia ser todos os dias
e doeu!
beijinhos
lena
Não digo nada.
fica bem.
manuel
Enviar um comentário
<< Home