quinta-feira, junho 01, 2006

Anti-Anne Frank



Esta criança esquálida,
de riso obsceno e olhares alucinados,
nunca apertou nas mãos a fria face pálida,
nunca sentiu, na escada, as botas dos soldados,
Nunca enxugou as lágrimas que aniquilam e esgotam,
nunca empalideceu com o metralhar de um tanque,
nem rastejou num sótão,
nem se chama Anne Frank.

Nunca escreveu diário nem nunca foi à escola,
nem despertou o amor dos editores piedosos.
Nunca estendeu as mãos em transes dolorosos
a não ser nos primores da técnica da esmola.

Batem-lhe, pisam-na, insultam-na, sem que ninguém se importe.
E ela, raivosa e pálida,
morde, estrebucha, cospe, odeia até à morte.

Pobre criança esquálida!
Até no sofrimento é preciso ter sorte.

GEDEÃO, António, "Obra Poética", p. 92
(Foto em www.trekearth.com)

9 Comments:

Blogger wind said...

Bolas, este dói demais:(((( beijos

3:12 da tarde  
Blogger José said...

Mais um poema do professor que sempre adorei e que não conhecia, se não fosses tu a divulgá-lo, Amiga.

4:12 da tarde  
Blogger escrevi said...

Não conhecia.
É tão verdadeiro que dá raiva.
E estes meninos de hoje serão, amanhã, homens. Que homens?
Como se vão vingar estas crianças?

Um beijo.

10:22 da tarde  
Blogger Dulce Gabriel said...

Querida homónima,vim fazer uma visita e desculpar-me por andar tão ausente da blogosfera...Ando sem pachorra para escrever...
Xi-coração

10:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

OLá Dulce, aqui estou em agradecimento de visita. Um abraço!
R

11:04 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Sem dúvida. Beijos.

8:55 da manhã  
Blogger greentea said...

e ontem era dia mundial da criança


para alguns...

10:49 da manhã  
Blogger lena said...

um grito, num dia que devia ser todos os dias

e doeu!


beijinhos

lena

12:41 da tarde  
Blogger DE-PROPOSITO said...

Não digo nada.
fica bem.
manuel

3:30 da tarde  

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