Domingo à tarde
Sentada à minha frente, observo-a. Ocupou a mesa do canto junto à grande janela. Pediu café e abriu o jornal. Folheia-o lentamente mas demorando-se pouco em cada artigo, como se lesse apenas os títulos principais. De vez em quando levanta o olhar que se perde na observação das pessoas que passam apressadas lá em baixo na rua, ou nos pombos que pousam na grande janela mesmo ao seu lado. Não sei se os observa ou se apenas se perde em pensamentos que não imagino.
Quando o telemóvel tocou estremeceu claramente. Tocou duas vezes apenas. Ela olhou o visor e marcou um número. Recostada na cadeira esperou que atendessem. Frente a ela observo a sua expressão calma. Vejo o sorriso que se começa a desenhar no rosto. Não ouço o que diz mas o que ouve adoça-lhe a expressão. As palavras pronuncia-as baixinho mas os seus olhos falam uma alegria mansa que se espraia pelo rosto.
O jornal espera, aberto sobre a mesa, ainda meio lido. Agora a conversa tem mais pausas. Há silêncios da parte dela. São mais as vezes que sorri e escuta.
Gostava de saber com quem fala. O que diz. Do que sorri ou porque gesticula com pequenos e eloquentes gestos de mãos. Mãos pequenas de unhas curtas arredondadas. Na mão esquerda um anel de fantasia. Na direita, uma aliança. Gostaria de saber ... por curiosidade apenas.
Os minutos passam e a conversa prolonga-se. Já lá vai quase uma hora.
Por momentos voltou a olhar o jornal. Passou duas páginas rapidamente, aposto que sem as ler.
Por momentos o seu olhar escureceu, marcou-se mais o ricto da sua boca. A mão crispou-se no ar, como se a conversa não lhe agradasse. Como se uma nuvem lhe tivesse toldado o sorriso.
Por momentos o nosso olhar cruzou-se. Por tempo demasiado. Mas ela não me olhava. Via através de mim algo que não eu, concentrada nas palavras que lhe chegavam.
Momentos depois desligou. Ficou imóvel alguns minutos com o olhar perdido algures. A respiração compassada e profunda revelava-se nos movimentos do seu peito. As mãos pousadas no colo e o jornal à espera - aberto ainda sobre a mesa.
O meu olhar dificilmente se desviava dela. Tentava ler os seus gestos e os seus olhos. Perceber para além do seu olhar, o que lhe ía no pensamento. Uns olhos claros e transparentes que quase me deixavam ver o que lhes ía dentro.
Distraída, olhava-a insistentemente e só tarde demais percebi que me olhava atentamente.
Agora era mesmo para mim que olhava, intrigada talvez com a minha insistência.
Sorri-lhe timidamente e ela retribuiu o sorriso.
Quando se levantou e saíu, rapidamente a mesa foi ocupada. Outros rostos. Outras vidas.
Algo dela porém ficou em mim. O seu olhar. As suas mãos. A sombra que junto a ela seguiu.
Quando o telemóvel tocou estremeceu claramente. Tocou duas vezes apenas. Ela olhou o visor e marcou um número. Recostada na cadeira esperou que atendessem. Frente a ela observo a sua expressão calma. Vejo o sorriso que se começa a desenhar no rosto. Não ouço o que diz mas o que ouve adoça-lhe a expressão. As palavras pronuncia-as baixinho mas os seus olhos falam uma alegria mansa que se espraia pelo rosto.
O jornal espera, aberto sobre a mesa, ainda meio lido. Agora a conversa tem mais pausas. Há silêncios da parte dela. São mais as vezes que sorri e escuta.
Gostava de saber com quem fala. O que diz. Do que sorri ou porque gesticula com pequenos e eloquentes gestos de mãos. Mãos pequenas de unhas curtas arredondadas. Na mão esquerda um anel de fantasia. Na direita, uma aliança. Gostaria de saber ... por curiosidade apenas.
Os minutos passam e a conversa prolonga-se. Já lá vai quase uma hora.
Por momentos voltou a olhar o jornal. Passou duas páginas rapidamente, aposto que sem as ler.
Por momentos o seu olhar escureceu, marcou-se mais o ricto da sua boca. A mão crispou-se no ar, como se a conversa não lhe agradasse. Como se uma nuvem lhe tivesse toldado o sorriso.
Por momentos o nosso olhar cruzou-se. Por tempo demasiado. Mas ela não me olhava. Via através de mim algo que não eu, concentrada nas palavras que lhe chegavam.
Momentos depois desligou. Ficou imóvel alguns minutos com o olhar perdido algures. A respiração compassada e profunda revelava-se nos movimentos do seu peito. As mãos pousadas no colo e o jornal à espera - aberto ainda sobre a mesa.
O meu olhar dificilmente se desviava dela. Tentava ler os seus gestos e os seus olhos. Perceber para além do seu olhar, o que lhe ía no pensamento. Uns olhos claros e transparentes que quase me deixavam ver o que lhes ía dentro.
Distraída, olhava-a insistentemente e só tarde demais percebi que me olhava atentamente.
Agora era mesmo para mim que olhava, intrigada talvez com a minha insistência.
Sorri-lhe timidamente e ela retribuiu o sorriso.
Quando se levantou e saíu, rapidamente a mesa foi ocupada. Outros rostos. Outras vidas.
Algo dela porém ficou em mim. O seu olhar. As suas mãos. A sombra que junto a ela seguiu.
10 Comments:
Também eu gostava de saber o que se teria passado com a tal senhora...
Um beijo.
eu tenho essa mania de ficar olhando, vendo e imaginado as pessoas que estão perto de mim... qd não as entendo de todo...dou-lhes uma vida....
jocas maradas
Extraordinária esta tua descrição, conseguiste que visualizasse tudo e sentisse o que sentiste. Fiquei curiosa sobre o que lhe terá transformado a expressão:) beijos
Fantástico Dulce, foi como se estivessemos dentro de ti, e observassemos tal e qual como tu!!!
Beijinhos doces
Ana Paula
Ola amiga Dulce
Passei para te deixar um beijinho
obrigado pela companhia...
um dia repetimos e tem de ser com mais tempo lol...
Observas com atenção a mais e depois és apanhada!
beijinhos
Acontece tanto...ver-mos
ou sermos vistos assim.
Vidas,tantas vidas que passam
todos os dias ao nosso lado...tantas que muitas vezes entram e tocam.
Querida Dulce
...
Não há dúvida que o telemóvel foi uma grande invenção para os amorosos ...
Da maneira como descreveste tudo, eu também estava na mesa ao lado da tua a observá-la. Beijos, Dulce.
Adorei este relato, mas sou muito cusco, será que não há mais?
Beijinhos
Muita gente não acredita, mas um olhar pode-nos transportar para o mundo virtual de outro, aquele que a nossa imaginação idealizou.
Um beijo. Augusto
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