segunda-feira, março 06, 2006

Viagem

Persegue-me na noite a voz do impossível,
Rebentam-me aos ouvidos as ampolas de sangue.
Avanço devagar para a hidra intangível
Que dorme no horizonte do lado do levante.
Fascinam-me o mistério do seu rosto sem nome,
O muro de silêncio que a separa de mim,
A jornada no escuro, os perigos, os escombros,
As barreiras de sombra a que vou pondo fim.

Avanço devagar para a hidra que dorme
O seu sono latente na véspera de mim.

E percorro países como esqueço palavras
E atravesso rios como desprezo leis
E pairo nas alturas com as costas voltadas
Aos séculos de pasmo que para trás deixei.

Avanço devagar para a hidra que dorme
O seu sono de pedra num abismo sem fundo.

É a hora em que a terra não gira,
Em que o vento não corre.
É o tempo do homem descobrir o mundo.

ARY DOS SANTOS, José Carlos, "Obra Poética", Edições Avante, Lisboa, 1999, p.77

6 Comments:

Blogger luis manuel said...

São horas.
O avanço é forçosamente lento.
A conquista do primeiro dia.
Não posso adormecer, não posso...
Serei como uma árvore na Primavera. Forte, a retomar os ramos, as folhas. A cada golpe, a cada dor, sofridos, um novo ramo estende-se e erguido ao Sol, liberta as folhas e as flores que são a sua vida.

Um beijo, amiga

2:59 da tarde  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

He recorrido las
selvas
los mares
los continentes...´
Palpita el mundo
sobre un suelo de misterios
y misterosa se encuentra mi mente
buscando la infinitud
de mis ensueños....

De unos versos míos que me han recordado los que hoy nos muestras.

Un beso Dulce.

4:25 da tarde  
Blogger JPD said...

Tão cedo não teremos um poeta tão veemente, um declamador tão emociona(nte)do...
Bela escolha, Dulce.
Bjs

10:26 da tarde  
Blogger Unknown said...

Querida amiga, estive meio ausente mas já estou voltando, pouco a pouco... Gostei de poder ler-te outra vez!
Muitos beijos, flores e muitos sorrisos neste começo de nova semana!

10:39 da tarde  
Blogger wind said...

Ary sempre:) beijos

11:53 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Qualquer dos poemas de Ary dos Santos, daqueles que já li, me fascina. Gostaria imenso de ter tido o privilégio de o ter conhecido pessoalmente. Permanece em mim, intemporal, imortal e um Poeta. Beijos, Rosa.

12:13 da manhã  

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