Divagando ...
Estava sentada à secretária quando a luz faltou. A minha janela para o mundo, fechada subitamente.
A noite inundou a sala. Tacteei à procura da chávena de café ali ao lado e envolvi-a com as duas mãos, aquecendo-me. Recostei-me na cadeira. Aos poucos, os objectos que me rodeavam, de invisíveis passaram a difusos. Apenas eu, uma figura com espessura.
Reconheci o espaço.
Olhei a rua, também sem qualquer iluminação. Chovia ainda. Até há bem poucos anos teria ficado colada ao chão, aterrorizada pela escuridão. Mas já não agora. A noite deixa-me confortável, a escuridão é um abraço em que me aninho. Sem medos!
Levanto-me e passeio pela sala tocando ao de leve com os dedos nos móveis, acompanhando a curva dos sofás, tacteando o rebordo dos quadros. Elementos sólidos que me rodeiam. Olho as máscaras na parede. Olhos vazios de expressão. São outras máscaras que temo. São outras as máscaras que não quero encontrar aqui.
Fecho os olhos para a escuridão ser ainda maior e encosto-me à parede. Sinto o frio que passa através dela. Com os olhos ainda cerrados tento sentir as presenças do passado ... As minhas filhas ainda pequenas, numa altura semelhante encolhidas no sofá a cochichar com medo. E outras presenças que já não me acompanham mais.
Será que estão por aqui? Será que me observam? Que me tocam ao de leve? Que me rodeiam gesticulando e tentando comunicar? Ou apenas me olham – um sorriso vago no rosto – aguardando ... aguardando apenas que um dia me reúna a elas.
Agora, já sem receios, gosto de pensar que me acompanham de vez em quando, que visitam os lugares que antes percorriam apenas com o intuito de velar por mim. Com a intenção de ver como percorro este caminho que desbravo em cada dia. Olhando, sorrindo ou lamentando, as minhas pequenas alegrias ou as minhas desilusões. Mas fundamentalmente aguardando – com uma imensa paciência – aquela que lhes é dada por um saber secreto ... esperando por mim. Um dia! Quando chegar a hora ...
Encosto o rosto à janela e nos vidros embaciados fica desenhado o meu contorno.
Pressinto a luz de volta ainda antes de acontecer. A noite agora é só lá fora. Aqui tudo ganha a dimensão habitual. Só eu me esbato.
A noite inundou a sala. Tacteei à procura da chávena de café ali ao lado e envolvi-a com as duas mãos, aquecendo-me. Recostei-me na cadeira. Aos poucos, os objectos que me rodeavam, de invisíveis passaram a difusos. Apenas eu, uma figura com espessura.
Reconheci o espaço.
Olhei a rua, também sem qualquer iluminação. Chovia ainda. Até há bem poucos anos teria ficado colada ao chão, aterrorizada pela escuridão. Mas já não agora. A noite deixa-me confortável, a escuridão é um abraço em que me aninho. Sem medos!
Levanto-me e passeio pela sala tocando ao de leve com os dedos nos móveis, acompanhando a curva dos sofás, tacteando o rebordo dos quadros. Elementos sólidos que me rodeiam. Olho as máscaras na parede. Olhos vazios de expressão. São outras máscaras que temo. São outras as máscaras que não quero encontrar aqui.
Fecho os olhos para a escuridão ser ainda maior e encosto-me à parede. Sinto o frio que passa através dela. Com os olhos ainda cerrados tento sentir as presenças do passado ... As minhas filhas ainda pequenas, numa altura semelhante encolhidas no sofá a cochichar com medo. E outras presenças que já não me acompanham mais.
Será que estão por aqui? Será que me observam? Que me tocam ao de leve? Que me rodeiam gesticulando e tentando comunicar? Ou apenas me olham – um sorriso vago no rosto – aguardando ... aguardando apenas que um dia me reúna a elas.
Agora, já sem receios, gosto de pensar que me acompanham de vez em quando, que visitam os lugares que antes percorriam apenas com o intuito de velar por mim. Com a intenção de ver como percorro este caminho que desbravo em cada dia. Olhando, sorrindo ou lamentando, as minhas pequenas alegrias ou as minhas desilusões. Mas fundamentalmente aguardando – com uma imensa paciência – aquela que lhes é dada por um saber secreto ... esperando por mim. Um dia! Quando chegar a hora ...
Encosto o rosto à janela e nos vidros embaciados fica desenhado o meu contorno.
Pressinto a luz de volta ainda antes de acontecer. A noite agora é só lá fora. Aqui tudo ganha a dimensão habitual. Só eu me esbato.
10 Comments:
A noite é lá fora.
A escuridão ou o vazio.
A noite é cá dentro.
A Luz e preenchimento da presença de quem não se esbate.
Não, a claridade da alma permite-te tactear esses objectos.
Quem sabe as presenças que te guiam.
As memórias que recordas.
A Luz para ti.
Um beijo, amiga.
Às vezes não sei o que escrever e hoje ao ler esta tua prosa fiquei assim.
Sinto que é demasiado intimo, pessoal, para que eu escreva algo. beijos
Nunca te esbates!
Nem tu, nem a recordação de ti !
Bji
É. É Dulce. Eles velam por nós e esperam-nos, com toda a sua sabedoria. Beijos para ti.
deixei-me levar pelo teu texto e as palavras ficaram presas na garganta, e os dedos sem força para as escrever, senti essa escuridão dentro da solidão
abraço-te com carinho Dulce
beijinhos meus
“Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nos fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.
Excerto
Natália Correia
Poesia Completa
Publicações Dom Quixote
1999”
Bonita prosa, acompanhada de Carlos Paredes, é uma maravilha visitar este cantinho.
Beijinhos, bom fim de semana.
Gran habilidad la tuya para construir una bella pieza literaria de un simple corte fluído eléctrico.
La magia de la sensibilidad al apreciar lo accesorio. Te felicito.
Un beso Dulce.
A sensibilidade que colocou nesta magia de um anoitecer, na noite em si, está tão mágica!
Eles estão lá e velam por sí.
Também gosto de pensar dessa forma quanto aos meus, que eu sinto que tantas vezes me ajudam a seguir em frente!
Um dia, seremos nós essa presença tão reconfortante.
Deixo-lhe o meu carinho num abraço com amizade.
Simplesmente Lindo e Enigmático!!
Adorei ler-te...
Beijos
Ana Paula
amei ler.te
e tantas vezes sentimo.nos assim
jocas maradas
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