Companheiros de Viagem
Companheiros de viagem são aquelas pessoas nas quais, ao nos encontrarmos, sentimos um olhar semelhante para o que nos rodeia e acontece à nossa volta. Um espécie de corrente que, ao fazer nascer algo entre nós para lá das roupagens de cada um, nos confirma na forma como respiramos. Corrente essa que reforça a convicção com que acolhemos o sopro da vida que, continuamente, nos empurra para a frente e vai despertando para a essência do que somos.
Sem nenhum de nós abdicar de nada que lhe seja importante, aquilo que em cada momento tem para dar ao outro sempre por ele é acolhido e aproveitado.
E o intercâmbio afectivo que entre ambos assim acontece – ao sabor das oscilações da vida individual e colectiva – vai-se desenvolvendo para lá dos episódios que constituem a espuma da história de cada um.
Encontramo-nos através dos mais variados atributos que permitem que nos destaquemos do seio da multidão anónima, no pano de fundo em que decorre o nosso dia-a-dia. Mas olhamo-nos sobretudo através da alma, porque nada escondemos das também variadas falhas que nos fazem ser tudo o que somos.
(...) Ao olharmos um para o outro, não nos fixamos em conquistas, vitórias, fracassos, que cada um obteve, nos ganhos e nas perdas que lhe enriquecem ou empobrecem o nome pelo qual a sociedade o reconhece.
Nada mais vemos do que algo que permaneceu imune para lá de todo esse vivido.
E, nesse olhar recíproco, sentimo-nos iluminados por uma luz maior do que qualquer um de nós.
Querer agarrá-la será pretender reduzi-la. Não aproveitar o convite que, através desse encontro nos está a ser feito no sentido de olharmos para mais longe e mais alto.
O que então, nos variados recantos do nosso ser se acende, pertence ao domínio do misterioso.
É como que o vislumbre de uma pátria comum. Um lugar de chegada que, estando para lá do tempo e do espaço, coincide com o do outro, por muito diferente que, para cada um deles, este lugar seja.
E deixamos de nos sentir sós, embora sabendo com grande nitidez que, no fundo, nenhum de nós tem a ver com o caminho do outro, com a forma como ele o percorre ou os acidentes desse seu percurso – e, portanto, está sozinho. (...)
COSTA FÉLIX, Maria José, in Xis, Suplemento do jornal Público de 11/03/2006, p.37
Sem nenhum de nós abdicar de nada que lhe seja importante, aquilo que em cada momento tem para dar ao outro sempre por ele é acolhido e aproveitado.
E o intercâmbio afectivo que entre ambos assim acontece – ao sabor das oscilações da vida individual e colectiva – vai-se desenvolvendo para lá dos episódios que constituem a espuma da história de cada um.
Encontramo-nos através dos mais variados atributos que permitem que nos destaquemos do seio da multidão anónima, no pano de fundo em que decorre o nosso dia-a-dia. Mas olhamo-nos sobretudo através da alma, porque nada escondemos das também variadas falhas que nos fazem ser tudo o que somos.
(...) Ao olharmos um para o outro, não nos fixamos em conquistas, vitórias, fracassos, que cada um obteve, nos ganhos e nas perdas que lhe enriquecem ou empobrecem o nome pelo qual a sociedade o reconhece.
Nada mais vemos do que algo que permaneceu imune para lá de todo esse vivido.
E, nesse olhar recíproco, sentimo-nos iluminados por uma luz maior do que qualquer um de nós.
Querer agarrá-la será pretender reduzi-la. Não aproveitar o convite que, através desse encontro nos está a ser feito no sentido de olharmos para mais longe e mais alto.
O que então, nos variados recantos do nosso ser se acende, pertence ao domínio do misterioso.
É como que o vislumbre de uma pátria comum. Um lugar de chegada que, estando para lá do tempo e do espaço, coincide com o do outro, por muito diferente que, para cada um deles, este lugar seja.
E deixamos de nos sentir sós, embora sabendo com grande nitidez que, no fundo, nenhum de nós tem a ver com o caminho do outro, com a forma como ele o percorre ou os acidentes desse seu percurso – e, portanto, está sozinho. (...)
COSTA FÉLIX, Maria José, in Xis, Suplemento do jornal Público de 11/03/2006, p.37
7 Comments:
Grande Texto! E de facto estamos sempre sózinhos. beijos
Há textos com uma actualidade impressionante!...
Que nos fazem reflectir nesta viajem da vida, tão curta e por vezes sem companheiros de viagem.
Grande visão esta da autora, ao olhar para o seu espelho! Para as suas viagens!
Grande escolha. Beijinhos e bom fim-de-semana.
um texto excelente, uma escolha perfeita
o sentir da escritora na viagem, mas da vida, é o que dexa ficar a pensar
beijinhos muitos para ti
lena
Dulce, estou fazendo a minha visita semanal aos links. É só qd tenho tempo.
Não por falta de vontade mas de tempo, deixei de ler a tua escolha.
Mas vim dar-te um grande beijinho por mim ( e claro pela minha mãe! ) e dizer-te que li a carta que lhe escreveste, sb ser amigo, e adorei! Encaixei as tuas palavras na amizade que tenho por aquelas pessoas tão especiais que me preenchem todos os dias com os seus sorrisos.
* Sara
Quando nos olhamos através da alma, talvez possa ser assim, mas não estaremos, portanto, sózinhos. Beijos, Dulce.
No existe otra forma más certera que la mirada del alma. Esa mirada nunca engaña. Un beso para ti.
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