domingo, abril 02, 2006

O mar


Hoje acordei a pensar em mar. Não concerteza por estar um céu azul, que não está, não concerteza pelo brilho do Sol, que hoje ainda se esconde atrás de uma neblina alta que o torna difuso e estranho.
Acordei a pensar em mar, talvez porque é Abril e o Verão se aproxima a passos largos. Talvez porque a hora, agora alterada, transforma os dias, acrescentando-lhes mais luz, dando-lhes outra dimensão.
E depois, comprei o jornal habitual e naquela crónica fantástica de "Perdidos no Correio" e através das palavras sempre intensas de Paulo Moura, fui transportada também para a visão do mar. O texto de hoje intitula-se "A minha namorada de Verão", e fala de mar, e de Sol, e de sonhos. E fala ainda de momentos fugazes que deixam marcas para toda a vida.

"Está provado que o mar existe nas montanhas. sob as dunas de neve. nas florestas e até no deserto. onde encontrei uma concha."

A água que em tempos antiquíssimos cobriu o planeta, recuou depois, deixando a lembrança da sua presença, assim como o mar, presente em toda a minha vida, deixou também a sua marca na minha memória. Avalanche de sensações que me soterram e das quais não quero vir à superfície.
O mar no Verão e o mar no Inverno. O mar na Primavera e no Outono. Sempre o mesmo e eternamente diferente.
De Verão chegada à praia cedo em cada manhã, é indiscritível aquele respirar de vida, é indescritível o prazer do olhar que se espraia no horizonte, é indescritível a felicidade que me inunda - um prazer quase físico que transborda em mim. Só, caminho pela areia, e a partilha inicia-se. Nela deixo os pés enterrar-se e, quando à beira mar, é a sua frescura que me revigora.
Depois, deitada na areia, preparo-me para uma verdadeira osmose entre o meu corpo e o Sol. Entre o meu espírito e o mar.
No resto do ano, quando o mar é menos azul e as ondas se multiplicam com violência, é ainda de osmose que falo. O sol, ainda que encoberto, é sempre protector e envolvente. O mar, ainda que bravio, sempre um êxtase para o olhar. A maresia, sempre o melhor aroma.
E depois, há os passeios à beira-mar. Pés nus sobre a areia molhada, ou o passeio vagaroso sobre o paredão, de quando em vez salpicada pelas ondas mais atrevidas.

"Prometo encontrar-te na praia que ao pôr-do-sol passeia em nós."

Eu encontro-te. Em mim.

"A praia que levamos às voltas na cabeça. pregada nos olhos. despedaçando-se-nos o coração."

Os passos que ainda não dei e que me esperam. As conversas que ainda não tive e que me aguardam.

"A praia só nossa. fechada na mão. emaranhada nos cabelos. à solta nos raios de sol. Lá estarei."

(Os textos em itálico e entre aspas são excertos da crónica acima citada, publicada hoje, no suplemento Pública, do jornal Público)
(Foto minha)

10 Comments:

Blogger escrevi said...

O mar...
Palavras para quê?

Um beijo.

1:29 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Dulce, hoje eu tive um apelo do mar assim...nem calculas o que foi a minha manhã desde as 8h30!!! Ehehehe Adorei este teu texto. E acabei de colocar um poema, escrito à beira mar hoje, que se chama 'domingo'...Acho que estamos numa onda, revigorante?! Não sei. Beijos para ti.

1:51 da tarde  
Blogger wind said...

Espectacular! Como te entendo:) Além disso fizeste muito bem a ligação entre o teu texto e o da crónica. O mar é sempre uma força que nos entra, uma terapia:) Bonita foto:-) beijos

2:09 da tarde  
Blogger lena said...

o mar como companhia, belo texto
não saberia viver sem ele, é a força que me alimenta todos os dias

como te compreendo se o desejas tanto e não o tens ao teu lado

alguém que escreve o mar como ninguém, alguém que é imortal e me toca em cada verso, deixo-te para ti um poema dela que certamente conheces:

Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen


beijinhos para ti doce menina

lena

4:29 da tarde  
Blogger Benjamim Gil said...

Uma frescura de prosa (ou será poesia?)...

Beijinhos

5:57 da tarde  
Blogger Su said...

deixo.te jocas maradas de a. mar

6:10 da tarde  
Blogger Andy More said...

Acordar a pensar em mar, é um lindo pensamento para dar início ao dia.
A minha namorada de verão, já há muito a esqueci, porque passou a ser em toda a estação, habitada no meu coração... Seja ela no Inverno ou Verão, Outono ou Primavera, já não consigo viver sem ela! Faz parte desta minha condição no acordar de cada novo dia.

Um beijo amigo

10:35 da tarde  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Dulce. Tienes que venir a Zamora a conocerla. Seguro que te va a encantar. Seré tu guía y anfitriona. Mañana, con calma, leeré tu texto de hoy. Un beso.

1:17 da manhã  
Blogger AQUENATÓN said...

Querida Dulce!

Gostei muito ... muito deste teu texto.

Transmite esperança... com aromas do mar à espera, e o prazer de olhar o horizonte...

Ilustrado com estas passagens :

"Está provado que o mar existe nas montanhas. sob as dunas de neve. nas florestas e até no deserto.

"A praia só nossa. fechada na mão. emaranhada nos cabelos. à solta nos raios de sol. Lá estarei."...

Bji

10:18 da manhã  
Blogger saisminerais said...

O mar, sempre o mar, fonte de inspiração para os romnticos, sonhadores, poetas... Tu, eu a Lena que o tem a seus pés, que inveja! Não, não tenho. Tenho-o bem perto e se um dia te apetecer dar um passeio à beira-mar, é muito simples, envias um mail e dizes quando. O teu amigo fará de cicerone e apoio para levar os sapatos, para que possas andar na areia linda e fresca da minha praia de pés descalços.
Neste mês de Abril já apetece, fica o convite amiga Dulce.
beijinhos

10:25 da tarde  

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