terça-feira, dezembro 13, 2005

XLIX

Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas-noites,
E a minha voz contente dá as boas-noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva.
Ou tempestuoso como se acabasse o mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Ser ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

CAEIRO, Alberto, "Poesia", Assírio & Alvim, Lisboa, 2004, p. 87

5 Comments:

Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Pues tú, Dulce, reflejas todo eso: mansedumbre, río placentero que discurre suave, casi en un murmullo. Besos.

3:01 da tarde  
Blogger JPD said...

Quierude e apaziguamento, também são imprescindíveis. Sobretudo, nestes nossoa dias em que a "luz" da TV parece tiranizar...
Bjs

10:16 da tarde  
Blogger Su said...

já te disse que gosto do teu blog?
adoro.o
sempre belos poemas, lindas escolhas, palavras cheias...
adoro caeiro
jocas maradas

10:33 da tarde  
Blogger APIUR said...

Vale sempre a pena voltar a esta ilha criada em "trova"...nem que seja para ouvir a memorável "canção do vento que passa"....mas mensagem que não acaba!
Mas ainda há poesia, sempre de escolha muito especial.
"E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme".Brilhante!
Saudações de Apiur

11:01 da tarde  
Blogger lena said...

sinto-me bem aqui no teu blog
tens escolhas perfeitas

Caeiro é dos que mais gosto de ler

para ti:

É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

Alberto Caeiro

beijinhos meus

lena

11:49 da tarde  

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