quinta-feira, setembro 29, 2005

O passado e o presente

Frequentei nestes últimos quatro dias um curso que tinha como mote o aniversário dos 250 anos do Terramoto de 1755. Chamaram-lhe "História e Ciência da Catástrofe".
Decorreu este curso no Museu Nacional de Arte Antiga, onde foi inaugurada uma exposição alusiva ao tema - Tremeu a Terra, Tremeu o Pensamento - e na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa.
Muitas e variadas foram as intervenções. Desde historiadores a geólogos, arquitectos e especialistas em psicologia social, várias e interessantes foram as abordagens feitas a este tema.
Hoje, e após o encerramento dos trabalhos, estava preparada uma visita à Lisboa Pombalina, guiada por Mário Lopes e Rita Bento, ambos de Instituto Superior Técnico.
E aqui se fez também a ponte entre o passado e o presente. Entre a herança da Lisboa de Pombal e a actual Baixa lisboeta.
Mostraram-se algumas das características da construção preconizada no período pós-terramoto: a gaiola pombalina - uma estrutura treliçada tridimensional de madeira, inserida no interior da alvenaria das paredes interiores dos edifícios acima do 1º andar e que lhes conferia resistência a cargas horizontais, e ainda a estrutura regular dos quarteirões da Baixa. Pudemos ver num prédio em recuperação as ditas "gaiolas" bem preservadas (pelo menos por enquanto).
Acontece no entanto, que ao longo do séc XIX e XX várias intervenções foram levadas a cabo nesses edifícios que puseram em causa a segurança inicial.Sâo elas por exemplo, o corte de pilares ao nível do piso térreo, o corte dos painéis de gaiola para abertura de espaços no interior, e ainda o acrescento do número de pisos dos edifícios.
Estas alterações vieram reduzir a resistência sísmica dos edifícios da Baixa, assim como também conduzem a um risco significativo de perda de grande parte deste património de inestimável valor.
Para finalizar a visita, fomos conhecer e visitar o Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeeiros, associado ao BCP. Sob a intervenção do IPPC-IPPAR foram escavados 850 m2 a uma profundidade média de 3,5 m. A presença humana surge ali desde o séc IV A.C até ao séc XVIII. Pudemos observar a presença de tanques de salga de peixe, a demarcação de uma casa, os esgotos pombalinos, tudo isto perfeitamente integrado numa estrutura visitável, estando ao nível do chão uma cobertura em vidro que nos permitia ver, em baixo, a presença do passado.
A importância destas iniciativas prende-se nos dias de hoje com a importância da preservação do nosso património histórico e ainda com as lições que podemos e devemos aprender com o passado. Todos já ouvimos falar do risco de um grande tremor de terra. Quando, não sabemos. É preciso saber ler no passado e prevenir o futuro. E todos somos precisos. Não só os arquitectos e engenheiros, mas também os historiadores e os geólogos, num esforço conjunto de saber evitar danos maiores.
Porquê toda esta minha explicação? Porque a História também faz parte de mim e do meu viver. E já há algum tempo que não me sentia integrada neste "banho de saber". Foi bom mais uma vez ouvir falar de História, saber das investigações que estão a decorrer, encontrar amigos e pessoas com os mesmos interesses que eu.Já não está para além de mim. Pertence-me. Faz parte daquilo que sou.

(publicado em 24/09/2005)