Na ilha por vezes habitada
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raíz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
SARAMAGO, José, "Provavelmente Alegria", Editorial Caminho, Lisboa, 1985, p.52
(Foto de Nana Sousa Dias)
6 Comments:
Pela tua mão, vou gostando desse outro lado de Saramago!
Obrigado !
"Cada um de nós é por enquanto vida" Eu diria que só isso não nos basta, necessitamos saber qual o nosso contributo para essa vida que nos é dada!.. Senão nunca faria sentido o existirmos.
Beijos, bom fim-de-semana
As suas palavras são sempre um Presente...
Obrigado
Olá,
Vim cá ouvir o Adriano, ler-te e dizer-te que essa foto é lindissima.
Beijo da Mar Revolto
gostei da foto e do texto...a ilha, na ilha, em nós...
jocas maradas
Uma fotografia muito bonita, e o José Saramago essencial! Beijos
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