quinta-feira, outubro 27, 2005

Na ilha por vezes habitada


Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raíz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

SARAMAGO, José, "Provavelmente Alegria", Editorial Caminho, Lisboa, 1985, p.52

(Foto de Nana Sousa Dias)

6 Comments:

Blogger AQUENATÓN said...

Pela tua mão, vou gostando desse outro lado de Saramago!
Obrigado !

7:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Cada um de nós é por enquanto vida" Eu diria que só isso não nos basta, necessitamos saber qual o nosso contributo para essa vida que nos é dada!.. Senão nunca faria sentido o existirmos.

Beijos, bom fim-de-semana

9:51 da tarde  
Blogger Dameuntango said...

As suas palavras são sempre um Presente...
Obrigado

11:22 da tarde  
Blogger Que Bem Cheira A Maresia said...

Olá,

Vim cá ouvir o Adriano, ler-te e dizer-te que essa foto é lindissima.

Beijo da Mar Revolto

2:52 da manhã  
Blogger Su said...

gostei da foto e do texto...a ilha, na ilha, em nós...

jocas maradas

7:43 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Uma fotografia muito bonita, e o José Saramago essencial! Beijos

11:50 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home