quinta-feira, setembro 29, 2005

Libelo

Por caminhos só rectos, não sei ir.
Nos ínvios por que vou, não sei ficar.
Suspenso do passado e do porvir,
Venho e vou!, venho e vou!, não sei parar,

Abri asas nas mãos para fugir,
E raízes nos pés para amarrar.
(levava chão nos pés indo a subir,
Trazia céu nas mãos vindo a baixar...)

Eis, porém, que estes dons ultra-humanizam,
E os homens, meus irmãos, se escandalizam
E me espontam as asas e as raízes.

Assim se castram eles próprios, pobres!,
E tendo-se, mais vis, por mais felizes,
Se satisfazem com seus magros cobres...

José Régio, "Antologia Poética", Quasi, p.41

(publicado em 17/09/2005)