quinta-feira, setembro 29, 2005

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"O tempo disponível para ler e o desejo de ler, nem sempre coincidem. Porque, se virmos bem, ninguém tem tempo para ler. (...) A vida é um perpétuo entrave à leitura.
(..) O tempo para ler é sempre um tempo roubado. (Como aliás o tempo para escrever, ou para amar.)
Roubado a quê?
Digamos que ao dever de viver.
É sem dúvida por essa razão que o metropolitano - símbolo tranquilo do referido dever - é a maior biblioteca do mundo.
Tanto o tempo para ler como o tempo para amar dilatam o tempo de viver.
Se encarássemos o amor pela perspectiva do emprego do tempo, o que sucederia? Quem tem tempo para estar apaixonado? No entanto, alguma vez se viu um apaixonado não ter tempo para amar?
Nunca tive tempo para ler, mas nada, nunca, me impediu de acabar um romance de que gostava.A leitura não resulta da organização do tempo social, ela é como o amor, uma maneira de ser".

PENNAC, Daniel, "Como um romance", Edições Asa, Porto, 1995, p.119/120
(O sublinhado é meu)

(publicado em 09/09/2005)