quinta-feira, setembro 29, 2005

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"O homem expressa-se para chegar aos outros, para sair do cativeiro da sua solidão. A sua natureza de peregrino é tal que nada preenche o desejo de expressar-se. É um gesto inerente à vida, não à utilidade, que transcende qualquer possibilidade funcional. Os homens, à sua passagem, vão deixando o seu vestígio; do mesmo modo, ao voltarmos a casa depois de um dia de trabalho esgotante, uma mesinha qualquer, um par de sapatos gastos, uma simples lâmpada familiar, são símbolos comovedores de uma costa que ansiamos alcançar, como náufragos exaustos que conseguiram chegar a terra depois de uma longa luta contra a tempestade."

SABATO, Ernesto, "Resistir", D. Quixote, Lisboa, 2005, p.21/2

(publicado em 07/09/2005)