segunda-feira, janeiro 28, 2008

Justificação

A todos os amigos que têm passado por aqui e deixado o rasto da sua amizade quero dizer que esta interrupção tem apenas um motivo: a minha total incapacidade de criar. Espero que a crise seja breve e possa voltar a estas lides dentro de pouco tempo, mas entretanto podem sempre espreitar-me nos meus outros dois espaços O que os meus olhos vêem e Quando me faltam as palavras
Quanto a mim ... vou sempre passando pelos vossos cantinhos.
Um abraço grande para todos.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Domingo

A tarde deste domingo chuvoso e cinzento decorreu lenta como seria de esperar. Domingos como o de hoje são para serem passados no nosso canto do sofá, aquele que tem o nosso nome escrito, e, conforme a disposição, agarrar um bom livro para ler ou apenas adormecer frente à televisão. Confesso-me culpada: escolhi a segunda hipótese. Sim, eu sei que foi uma má escolha, mas vejam se me entendem! O sábado foi uma desgraça completa. Ou sou eu que estou fragilizada ou então estou a ficar velha e chorona. Dois abanões e fico de rastos. Hoje ao acordar dou de caras com um dia de chuva. Ainda tapei a cara com o cobertor e dei mais duas ou três voltas na cama, mas quando espreitei de novo pelas frestas da persiana, o dia estava exactamente igual. Nem uma “nuance” (é francês mesmo, ou pensavam que eu estava a violar o acordo ortográfico!!) de azul para animar! Enfim, respirei fundo e saí da cama tentando animar-me com a ideia do pequeno almoço.
Acho que nunca mencionei aqui esta minha característica: todos os dias acordo com fome e o pequeno almoço é para mim, a melhor refeição do dia. Posso não almoçar mas a refeição da manhã não pode falhar. O conteúdo da mesma é normalmente constituído por uma taça bem cheia de leite à qual junto uma porção generosa de flocos integrais. A marca ... não digo! Publicidade não! a não ser que me paguem, e aí falarei maravilhas dos deliciosos flocos da K.... upssss, já me escapava!
Voltando então ao meu domingo ... depois do pequeno almoço, o café! Mais outro ritual que não pode falhar, e depois um giro ao supermercado para me abastecer de alguns petiscos que os meus gatos não dispensam: frango do campo, truta com espinafres e cenoura (para os vegetarianos) delícias de atum com molho especial (este até me abre o apetite a mim !!!). Enfim, uma hora e meia bem passada em corredores atravancados de gente que não tem mais nada para fazer numa manhã de domingo chuvosa. A caminho de casa já ía a pensar no cantinho do sofá que me aguardava após um almoço simplificado e rápido como se espera de uma mulher como eu.
Quando acendi o aquecedor na sala os bichanos ocuparam majestosamente os seus lugares. O Patudo na primeira fila junto ao aquecedor. Não sei como aguenta o calor no corpo durante tanto tempo!! A Shibiuza – Shibi para os mais íntimos – na lateral do sofá, de onde pode controlar todos os movimentos do companheiro e ainda antecipar as suas jogadas e eu, almofada atrás das costas e o jornal por perto, preparada para dividir a minha tarde entre a leitura das últimas notícias e os quarenta canais da televisão. A oferta televisiva de um domingo à tarde pode revelar-se inesperada, sobretudo quando adormecemos a ver o Bruce Willis e acordamos no enredo do Sem Rasto. Pela janela , a tarde não mostrava melhoras e o calorzinho do aquecedor adormecia qualquer iniciativa. Fui ficando e dizendo a mim própria que um dia não são dias ... e que talvez estivesse para começar um filme que ainda nunca tivesse visto ... e bla bla bla, bla,bla,bla ... e a noite caiu. Dei poi isso quando a luz da televisão me pareceu um farol no canto da sala, corri a persiana e o barulho acordou o gato que se espreguiçou no tapete.
Agora é uma da manhã e já passou mais um filme que por acaso (milagre !!!!!!!!!!!!!!) ainda não tinha visto. Baixei o som agora porque este que começou logo de seguida já o vi mais de quatro vezes (hoje querem afogar-nos em cinema ...) e os gatos estão na hora do recreio. Felizmente não tenho vizinhos no rés-do-chão ! já me teriam saneado e aos gatos também por causa destas corridas nocturnas ...
Acho que já não chove. Fez-se aquele silêncio tantas vezes povoado de inquietude e solidão. Pé ante pé o texto foi somando palavras. Os olhos perdem-se entre o ecrã do computador e o da televisão onde as imagens já minhas conhecidas se sucedem. Bem, afinal acho que ainda vou ver, pela quinta vez, o Carteiro de Neruda.

sábado, janeiro 12, 2008

Ausência


(Foto minha)

domingo, janeiro 06, 2008

Janeiras


Há um ano o frio era intenso naquele pátio. Amontoavam-se as pesssoas à volta da grande fogueira em busca do conforto que o calor proporcionava. As golas dos casacos puxadas para cima aconchegavam as orelhas que o vento gelado teimava em arrefecer. Há um ano havia mais gente no pátio do velho solar. Há um ano fazia mais frio.

Quando hoje chegámos, os portões abriam-se para uma antiga tradição. As varandas iluminadas recortavam docemente cada aresta, e nos antigos azulejos as cenas ganhavam vida nesta noite de festa. Na escadaria juntava-se já a assistência, e da sua base elevavam-se as vozes, umas vezes mais alto, outras abafadas pelo ruído de outras vozes que, mais em surdina também se faziam ouvir.

A fogueira lá estava, à esquerda do velho pátio. Sobre um monte de areia dispunham-se os grandes e toscos troncos a que alguém pegara fogo e o calor irradiava generosamente os que a ela se chegavam. As chamas alaranjadas crepitavam furiosamente e no ar o fumo colava-se às roupas como uma antiga lembrança. Hoje não estava frio. Todo o dia caira uma morrinha que entristecera ainda mais o dia já de si cinzento e escuro. As nuvens espessas nunca permitiram que o sol rompesse e a tarde sucedeu naturalmente a uma manhã sem história. Era à noite que a vida ganharia côr.

Havia agitação no pátio do velho solar. Os instrumentos faziam-se ouvir salpicando o espaço de alegria. Eram muitos os grupos que ali acorriam nesta noite de Janeiro. Cada um com as suas músicas. As Janeiras. Uma dádiva como canta a tradição. No fim os abraços, e os votos de um bom ano e depois, subida a escadaria de pedra, era no interior que nos aguardava uma mesa posta com as iguarias próprias desta época.

Espreitei à janela. Nos vidros reflectia-se o alaranjado da fogueira e pelas frestas escoava-se baixinho o reconfortante som de uma antiga tradição.
(Foto minha)