quarta-feira, janeiro 31, 2007

Novo sistema de Blogger

Mudei hoje para o novo sistema de Blogger.
Houve algumas alterações que ocorreram e que estou a tentar contornar, nomeadamente ao nível dos comentários. Tenho agora uma grande quantidade de comentários anónimos. Outros, mantiveram-se como estavam. Até conseguir resolver esta questão agradeço que assinem os vossos comentários.
Um abraço a todos

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Estar aqui

estar aqui
é calar este céu de chumbo
- esta ameaça.
é teimar neste chão que me acompanha.
estar aqui é negar o tempo
descrevendo-o em metáforas de saudade.
estar aqui
é deslizar no espaço em branco que intercala os dias.
estar aqui é duvidar.
interrogar-me.
não saber se ainda.
até quando.
se.
porquê.
estar aqui
é combater a derrota.
dominar o medo.
equilibrar perdas e ganhos.
estar aqui
é reconstruir o que cada noite destrói.

estar aqui.

eu e o medo
de soçobrar neste delta
antes de encontrar a foz.

aqui.

Etiquetas:

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Lado a lado

Percorrer.
( do Lat. percurrere)
o trilho.
( aquele, à beira mar delineado com ternura)
o horizonte.
a vida.
olhos ao fundo
construindo sonhos.
infinito perfeito feito ir(real).

Percorrer.
(do Lat. percurrere).
a vida.
olhos no chão.
rasando o trivial
de uma calçada contada.
duplamente calcada.
a vida.
comum.
finita.
real.

Percorrer.
(Do Lat. percurrere).
os pés -
aqui!

nunca o olhar.

Etiquetas:

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A.H. de Oliveira Marques

É sempre um momento triste, aquele em que acompanhamos alguém à última
morada. Ninguém chegado desta vez, mas alguém que é património da cultura do nosso país.
A.H. de Oliveira Marques. Sim, o historiador. Não foi meu professor. Não o conheci pessoalmente. Assisti a uma ou duas intervenções públicas dele nos últimos anos. Era alguém que não poderíamos deixar de admirar. Qualquer biografia vos falará dele muito melhor que eu. Há trinta e cinco anos atrás comprei a minha primeira História de Portugal. Dois grossos volumes encadernados a negro. O autor? A.H. de Oliveira Marques. Trinta anos depois tornaram-se outra vez necessários e valiosos quando a eles recorri na Faculdade.
Hoje fiz a homenagem possível. O sol brilhava e no céu recortavam-se os ciprestes e as esculturas tumulares. Caminhávamos lentamente e no silêncio derradeiro disseram-se as últimas palavras. As palavras ao Historiador e ao Homem. Uma homenagem simples.
Depois, o regresso. Passos lentos. Pequenos grupos. O vento sussurrando nas folhas do arvoredo. Ele ficou lá. O corpo. A obra é de todos nós.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Quero

Quero a
única e mais
esperada
resposta
ouvir!

(Não tenhas medo!)

Etiquetas:

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Vazia

Quis escrever ...
as mãos indecisas, suspensas de pensamentos vagos,
e em todas as frases que inventei, a mesma palavra.
"Ontem ..."
Na folha em branco quis projectar-me.
Primeiro, aguarela clara reflectindo a luz.
Hoje,
traço a carvão esborratado e denso.
Aquele ponto que no infinito fixava - translúcido agora -
distorcia as imagens,
iludia os rostos.

Desisto! pensei.
Vazia e muda.
De tudo.
De mim.

Etiquetas:

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Instantes

... e assim passam os dias ... mansamente ...
Tantas vezes refiro quão relativa é a passagem do tempo ...
Voam as horas, quando felizes,
arrastam-se penosamente os minutos quando aguardamos “o momento”.
Ao longe está a presença, o bem estar, a posse, e em seguida a perda ...
... essa brusca dor que desampara e derruba
... esse vazio que devora o sentimento, que arrasa e destrói a esperança.
De início vacilo - desmorono-me - as mãos cheias de pedaços de nada.
Busco no baú da vida vivida os sorrisos mais recentes,
o abraço da chegada,
as recordações que o tacto guardou ...
Está tudo lá.
Num turbilhão todos me abalroam e afundam num caudal tão imenso que me atira ao chão ... Procuro então uma âncora que me prenda a terra firme,
que me salve daquela maldita maré negra,
que me erga,
me ressuscite,
me faça esquecer.
Deixo que os dias, as horas, os minutos e os segundos se diluam num enorme espaço em branco. Engano a minha percepção percorrendo sem ver e a galope os dias da semana, sem pensar que assim também a vida se esgota ...
Porque um dia virá, em que sem quase dar por isso entrarei naquele túnel.
Toda a minha vida passará por mim,
já não penosamente,
já não lentamente
mas num ápice,
como estes pequenos/grandes instantes em que vivo.

Põr-do-sol

Texto retirado

terça-feira, janeiro 16, 2007

Pedido

Não desistas, disse
(ou pensei ...)
e carreguei as palavras de sentidos.
Não desistas ...
de esforçar-te
de sonhar
de tentar
de lutar
de remar
de fazer
de inventar
de sair
de sorrir
e de querer.
De querer (..)
Não desistas, disse
(ou pensei ...)
e as palavras foram grito.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Domingo

Domingo, um dia triste para mim. Tudo pára. As ruas despejadas de gente. As lojas, buracos escuros e vazios, para onde espreitam olhos perdidos. O silêncio, onde habitualmente mora o bulício.
Morro um pouco ao domingo. Perco o ritmo. Mascaro o dia de gestos inabituais. Esforço-me para não olhar o relógio na esperança de que as horas me surpreendam, e é só quando começo a ver a tarde cair que regresso à vida e ao sorriso, antecipando já o dia seguinte.
No início da adolescência levava-me a minha mãe à Baixa a passear aos domingos. Que suplício já nessa altura! As ruas transformadas em corredores de hospital vazios e alguns mortos-vivos arrastando os pés de porta em porta - "zombies" numa cidade fantasma.
Ir ao cinema é uma opção. Ocupa-se aquele tempo imenso do meio da tarde com enredos de vidas que não conhecemos, e que felizmente não são a nossa. Ficar em casa e ocuparmo-nos com mil pequenas tarefas é outra opção. Qualquer coisa que me faça esquecer que ainda faltam três horas para começar a anoitecer. Qualquer coisa que me distraia dos ponteiros de um relógio que anda a um ritmo que não desejo.
Foi para fugir ao silêncio e para esquecer as horas que ainda faltavam, que ontem procurei o centro comercial mais próximo. Ali, no meio de um domingo que não o era mais, ultrapassei num pulo aquele tempo, que de outro modo, seria medido a conta-gotas. Ali, esqueci que estava só. Ali, vagueei pelos retalhos de conversas que pairavam no ar. Ali, enterrei os pensamentos negativos. Ali, fui mais uma no meio de tantos que por mim passaram e não vi.
Estava cheio aquele espaço comercial. Cheio de sonhos por realizar. Cheio de olhos como os meus - que olham sem ver, que trespassam os corpos - no pensamento apenas o desejo de que a tarde passe depressa. Cheio de crianças brincando num espaço de plástico, inventando histórias que deviam ser vividas em ambientes reais - verdes e amarelos, azuis e roxos - em sítios onde a vida mexe e as histórias possam crescer.
Quando saí para a rua, a luz diminuia já. Algum nevoeiro tornava o ar frio e as pessoas apressavam-se para o autocarro que já esperava. Aconcheguei o cachecol e ao contrário da maioria sorri. Era quase noite.

sábado, janeiro 13, 2007

Ensaios

Dez da manhã e já se formam alguns pequenos grupos. Está sol hoje, e ninguém se abriga debaixo das arcadas protectoras. Procuram no terreiro em frente o aconchego do Sol. Vão chegando aos poucos, um a um. Um a um, cumprimentam-se e por ali ficam conversando. De vez em quando olha-se para o carreiro que dá acesso ao local. Espera-se ainda por ele. Chega mais alguém que traz novidades. Aproximamo-nos para ouvir, mas eis que ele chega apressado. O barrete na cabeça, um sorriso ao canto da boca, o olhar fugidio.
Entramos. Arrastam-se as cadeiras numa confusão que sempre se repete. O som das vozes provocador. A procura quase infantil da parceira do costume. Homens para a direita. Sopranos para a esquerda. Ao meio os contraltos.
A um bater de palmas do maestro, todos se levantam. É o momento de aquecer as vozes e o ar enche-se de sons.

Nove e meia da noite. Está frio. À porta da igreja batemos com os pés no chão para que a circulação se faça e consigamos aquecer. Vão chegando com um sorriso e as boas-noites. As partituras debaixo do braço. A água nas garrafas, ou o chá para melhorar a voz. Mais mulheres que homens, sempre. Não há tempo para muita conversa pois ele já se aproxima. Pontual. Sobem-se os degraus gastos que dão acesso ao Coro da velha igreja. Não há cadeiras para arrastar. O maestro ataca as notas no orgão convidando ao aquecimento da voz. Em frente e por detrás dele, o altar antigo enquadra-nos. Vigoroso na condução dos temas, salta de um mais antigo para o que se ensaiou por último. Primeiro os sopranos. As vozes sobem, finíssimas, e eu, a quem a crença nada diz, penso que as vozes dos anjos teriam de ser assim. Amplificadas pelo espaço devolvem-se em ondas de magia pura. Depois os contraltos, baixos e tenores. Uma e outra vez e ainda mais outra até que o som se reproduza, perfeito. Não há recusas, suspiros de cansaço ou esgares de irritação. A música flui.
Termina-se como se começou. Com sorrisos. Um boa noite rápido devolve-nos ao frio da calçada e as ruas vazias parecem engolir-nos.
O largo junto ao rio é agora um espaço quase morto. Os passos soam fortes neste quase silêncio. Os táxis fazem quase fila.
Os olhos de quem se cruza desencontram-se. Apenas a música agarra ainda o sorriso.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Pela mão ...

M ã o ...

Mudança
Arte
Ósculo

Milagre
Alma
Ordem

Molde
Abraço
Ópio


... m ã o s s s s s s
... s a b e r

quarta-feira, janeiro 10, 2007

"O que é o amor" : o livro

Há uns meses atrás foi lançado um desafio aqui na blogosfera: definir "o que é o amor".
Muitos de nós - mais precisamente 58 - responderam a essa pergunta, cada um a seu modo e de acordo com a sua sensibilidade. O resultado está aí mesmo ao lado. O livro.
Querem adquirir? Fácil. É só aceder ao link colocado aqui mesmo ao lado, na barra lateral direita, e seguir as indicações.
Vá lá! Não têm curiosidade?

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Percepção

Leio-te.
Tão claramente como se estivesse escrito.
No olhar revelas pensamentos,
culpas.
Medos e angústias,
desejos ...
mas não apenas no olhar.
Também nas inflexões da voz te descobres.
Pressinto o que ainda calas.
Sei.
Depois dizes,
e constato uma vez mais como o que silenciaste
me soou como um grito,
como um gesto teu pôde ser tão eloquente como a palavra.
Leio-te.
Adivinho-te ...
como se a ti mesmo pertencesse.

sábado, janeiro 06, 2007

As Janeiras


"Ó da casa cavalheira,
Escutareis e ouvireis
Duas meninas donzelas
Que vos vêm pedir os reis

Estes reis são aliados
a uma estrela da guia;
A estrelinha se escondeu
Aos pés da Virgem Maria"

Assim cantámos hoje as Janeiras. Pela primeira vez participei desta tradição popular. É costume na minha cidade reunirem-se os Coros e cantarem as Janeiras para a autarquia nesta noite de Reis. Nos jardins de um antigo palacete faz-se arder uma grande fogueira e ali se reune o povo para cumprir a tradição.
A noite estava fria e o local particularmente húmido. Apenas a alegria geral e a expectativa de reencontrar amigos e conhecidos tornava o ambiente caloroso. Muitos são os Coros participantes que se revezam no palco improvisado para o efeito. Depois de umas breves palavras de apresentação atacam-se os temas previamente preparados - dois ou três por participante.

"Eu hei-de ir ao presépio
E assentar-me num cantinho
A ver como o Deus menino
Nasceu lá tão pobrezinho"

O Conhecido Natal d'Elvas é um tema recorrente nestas andanças. Ou ainda este:

"Nesta noite Santa de candura
Toda a natureza é ternura
Os pastores correm todos a Belém
A adorar Jesus, vamos também "

Ao teminar a sua apresentação, cada Coro sobe as escadarias e é conduzido a uma ampla sala onde os espera uma mesa farta e variada. Por ali ficam então a confraternizar um pouco, e a aquecer-se finalmente com uma bebida quente ou um bom vinho. Depois, há que dar o lugar aos outros e partir. Numa breve passagem pela capela do solar, ainda alguns, aproveitando a boa acústica do local, entoam mais alguns temas associados à época.
Já se fazia longa a noite quando alguém nos chama para os transportes que nos conduzirão a casa. Pelo caminho canta-se ainda, mais um, e depois ainda mais outro tema que todos se apressam a entoar em conjunto.
Os sorrisos persistem até ao fim e agora já só, a caminho de casa, trauteio ainda baixinho ... "Vamos cantar as Janeiras, vamos cantar as Janeiras, por esses quintais adentro ... "

(Foto em www.trekearth.com)

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Passatempos

Quem se lembra por aqui do jogo do elástico? E do "mata"? Fizeram furor no meu tempo de adolescente. No primeiro gostava de participar, enquanto no segundo apenas me limitava a ver, sossegadamente sentada num banco do pátio. Jogado com uma bola macia feita de meias velhas, sempre foi para mim um jogo agressivo e exigente.
Filha única, sempre recorri à imaginação para a maior parte das minhas brincadeiras. Tardes inteiras de volta das bonecas quando era pequena, inventando histórias e criando finais felizes ou ainda jogando à macaca, algo que não exigia a participação colectiva, mas o que realmente ocupou a maior parte da minha adolescência, foi a leitura. Muitas foram as tardes em que nem dava pelo tempo passar, deitada no sofá da sala, embrenhada nas histórias simples de Júlio Dinis ou chorando copiosamente com as tragédias de Camilo. Na minha casa, os livros sempre estiveram à minha disposição, constituindo-se como um permanente atractivo. Iniciei cedo as leituras e não tendo colegas de escola perto de casa, eram os romances que me ocupavam os dias. Quando estava cansada, ao espelho do meu quarto criava intrincadas histórias que eu mesma protagonizava. Diálogos surdos com personagens inventadas. Enredos antes lidos que adaptava à minha realidade. Assim ultrapassava a necessidade de contacto com os outros.
Hoje já não invento frente ao espelho, mas ainda dou por mim algumas vezes a sonhar acordada, agora com personagens bem reais. Quem o não faz ? E além do mais, já dizia o poeta ... "eles não sabem que o sonho é uma constante da vida ..."

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Conta-me uma história ...

Texto retirado

terça-feira, janeiro 02, 2007

Novo ano

Lua plena. Céu de negro pintado. As estrelas, pingos de prata que refulgiam. Bravo o mar.
Como nos sentimos pequenos frente ao oceano!
As ondas que se formavam lá ao fundo, cresciam em altura e força para depois se enrolarem numa enorme concha de espuma que vinha rebentar nas negras rochas que orlavam a costa.
Ao fundo apenas o breu. Ressoava no silêncio a água imensa que buscava o olhar e os meus olhos afundavam-se no céu. Ricocheteavam no luar que com amor me devolvia a sua luz.
Mais tarde o mar ficou manso - as ondas desfaziam-se meigas na praia. O luar agora mais alto, iluminava mais longe, mostrava ilhas onde antes se instalara a escuridão, trazia ao mar a vida. Fazia-se presente em centelhas de luz.
Nas ondas que mais tarde se voltaram a elevar, eram labaredas de prata que rodopiavam na concha das águas. Labaredas vivas constantemente renovadas.
Para além do mar, um mar de sensações. Um oceano de sonhos realizados. A certeza do caminho.
Brindei a um novo ciclo. Repeti as palavras que o vento me trouxe. Com amor.
Iniciei o ano com a confiança de TER. Com a certeza de SER. Nas mãos a vontade de DAR.