Esta, era cinco vezes maior do que a minha velha escola. Aquela onde estudei nos primeiros três anos.
D. Eulália chamava-se a minha primeira professora. Forte, cabelos grisalhos apanhados num carrapito. Agrupava-nos à volta de uma mesa (já não recordo quantos éramos, nem dos seus nomes). Ali aprendi a ler e a escrever. Os primeiros ditados. As primeiras contas. No intervalo que ela mesma estipulava, corríamos para o jardim que circundava a casa e por ali nos perdíamos em brincadeiras e correrias. Ao fim do dia, era apenas um pulinho até casa, ali mesmo no fim da rua.
Não, a escola da minha 4ª classe não tinha nada a ver com esta. Era um mundo estranho onde eu me sentia infinitamente pequena!
Todos os dias o trajecto de ida e volta era feito de eléctrico. Aqueles amarelinhos antigos, os bons - aqueles em que podíamos levantar a janela no Verão e apoiar o cotovelo -, não os outros, em que a janela descia e não permitia aquele debruçar gostoso sobre a rua.
Era na Graça a minha escola (voltei lá há pouco tempo)! O percurso parecia-me enorme, feito sempre a subir por ruas e ruelas. Nas curvas mais apertadas quase conseguia tocar os prédios com a ponta dos meus dedos. Perto do fim do trajecto, assaltava-me sempre o mesmo receio: o de não conseguir accionar a campainha. Recordam-se os da minha idade, que era aquele fio castanho que percorria o eléctrico a todo o comprimento, junto ao tecto. No Inverno fazia-o com o cabo do guarda-chuva, mas no Verão receava sempre não conseguir alcançá-lo.
Recordo o meu primeiro dia e o enorme recreio polvilhado de batas brancas numa enorme algazarra. Que diferença da minha velha e pequena escola!
Com o tempo, foi adquirindo outra dimensão. As meninas, tornaram-se amigas também, ou pelo menos colegas, ultrapassada a timidez inicial.
O meu único receio era da D. Aida, a professora de Aritmética, exímia no uso da régua, já que a professora de Português - a D. Manuela - era um doce de pessoa.
Os dias pareciam-me longos. Ainda hoje se os recordo, me parecem. À tarde, o regresso. O mesmo percurso de eléctrico até ao local de trabalho da minha mãe...
(Eu tinha 8/9 anos nessa altura e fazia todos estes trajectos sózinha! Outros tempos!)
... e depois o caminho para casa, já com ela.
Há pouco tempo quando regressei àquela escola percebi que o caminho não é assim tão longo, e revi certos passos do trajecto que ainda hoje se mantêem. O muro do Limoeiro, o velho miradouro sobre Lisboa, e as ruelas. Sempre estreitinhas. De curvas apertadas, ainda a apetecer tocar nos velhos edifícios com a ponta dos dedos !